O petróleo e a relação euro/dólar
"O facto de o euro ser já uma moeda de referência não tem apenas vantagens, mas também alguns inconvenientes, “esquecidos” na UE.
A revalorização do euro em relação ao dólar está dando origem a uma forte inquietação em amplos sectores industriais europeus, facto que os leva a pressionarem as autoridades monetárias para que reduzam as taxas de juro. Mas a Comissão Europeia acaba de apresentar as suas previsões, segunda as quais a inflação subirá em 2008 para 3,6%, agravando o já mau resultado de 2007 (2,4%) facto que impede qualquer movimento descendente por parte do BCE.
Estamos num impasse, só solucionável se enfrentarmos com decisão as causas deste problema, a saber: a escalada dos preços do petróleo e também das matérias-primas e bens alimentares.
Tem-se verificado que os mercados e os países produtores abandonaram na prática o dólar como moeda de referência, perante o descalabro da moeda americana. Como simples comentário diremos que o facto de o euro ser já uma moeda de referência não tem apenas vantagens, mas também alguns inconvenientes, “esquecidos” na UE. Em termos pragmáticos, os preços do petróleo têm vindo a “acompanhar” a subida do euro em relação ao dólar, ou seja, os produtores não querem perder poder aquisitivo face ao euro, e não apenas face ao dólar, como acontecia no passado.
Esta evolução conjuntural do mercado põe em causa uma das “apregoadas vantagens” da política do “euro forte” – a de resultarem mais baratas para a Europa as importações dos bens denominados em dólares – o petróleo, matérias-primas e bens alimentares.
Actualmente vivemos um círculo vicioso: a inflação voltou a estar na ordem do dia e a decisão (correcta) do BCE de a combater mantém o euro alto. Ao mesmo tempo, a opção política da Administração americana de reduzir as taxas de juro para estimular a economia – imersa num problema financeiro decorrente de uma atitude irresponsável da banca, que financiou a especulação imobiliária – impulsiona o dólar para baixo. Mas cada vez que o dólar desce em relação ao euro, o petróleo sobe nos mercados, o que por sua vez faz subir a inflação … e tudo recomeça.
Resulta assim óbvio que é indispensável estabilizar a paridade euro/dólar para, em primeiro lugar, introduzir alguma racionalidade no mercado de câmbios e depois estabilizar também o preço do petróleo. Esta matéria-prima transformou-se recentemente em “valor-refúgio”. De facto, esse papel (normalmente desempenhado pelo ouro) já não está ao alcance desse metal, pela razão simples de que os ‘stocks’ existentes já não são compatíveis com os valores brutais de liquidez que hoje se movimentam nos mercados.
Só será possível estabilizar o preço do petróleo se aquele responder apenas a questões objectivas de procura e oferta (já por si bastante complexas no curto prazo) e deixar de reflectir a insegurança reinante nos mercados internacionais que anseiam, até agora em vão, por uma política clara das autoridades americanas.
Não me parece que seja possível esperar qualquer alteração significativa da actual Administração. Haverá que esperar pelas eleições de Novembro e pelo reinício da correcção do ‘deficit’ orçamental que seguramente a futura Administração americana não deixará de fazer. É absolutamente urgente, por outro lado, que os EUA abandonem a atitude irresponsável que têm adoptado quanto à energia e definam metas de médio prazo credíveis para poupança de recursos e desenvolvimento da produção de energias alternativas.
Gostaria ainda de referir que a realidade do nosso tempo não aconselha as atitudes de “concorrência” que vemos entre a FED e o BCE, sendo aconselhável um diálogo que, respeitando as diversas conjunturas, permita definir objectivos comuns que contribuam para uma melhor situação das diversas economias em presença, demasiado interligadas para uma actuação independente.
Finalmente uma palavra sobre os bens alimentares: a situação actual (alarmante) sublinha o fracasso de duas políticas – o sonho, que se transformou em pesadelo, dos “bio- combustíveis” e a política suicida europeia na agricultura, com subsídios para não se cultivar, esquecendo que no sector alimentar não podemos adoptar políticas totalmente abertas e que resulta indispensável assegurar, no mínimo, algum grau de auto- abastecimento europeu."
Manuel Ramires de Oliveira
A revalorização do euro em relação ao dólar está dando origem a uma forte inquietação em amplos sectores industriais europeus, facto que os leva a pressionarem as autoridades monetárias para que reduzam as taxas de juro. Mas a Comissão Europeia acaba de apresentar as suas previsões, segunda as quais a inflação subirá em 2008 para 3,6%, agravando o já mau resultado de 2007 (2,4%) facto que impede qualquer movimento descendente por parte do BCE.
Estamos num impasse, só solucionável se enfrentarmos com decisão as causas deste problema, a saber: a escalada dos preços do petróleo e também das matérias-primas e bens alimentares.
Tem-se verificado que os mercados e os países produtores abandonaram na prática o dólar como moeda de referência, perante o descalabro da moeda americana. Como simples comentário diremos que o facto de o euro ser já uma moeda de referência não tem apenas vantagens, mas também alguns inconvenientes, “esquecidos” na UE. Em termos pragmáticos, os preços do petróleo têm vindo a “acompanhar” a subida do euro em relação ao dólar, ou seja, os produtores não querem perder poder aquisitivo face ao euro, e não apenas face ao dólar, como acontecia no passado.
Esta evolução conjuntural do mercado põe em causa uma das “apregoadas vantagens” da política do “euro forte” – a de resultarem mais baratas para a Europa as importações dos bens denominados em dólares – o petróleo, matérias-primas e bens alimentares.
Actualmente vivemos um círculo vicioso: a inflação voltou a estar na ordem do dia e a decisão (correcta) do BCE de a combater mantém o euro alto. Ao mesmo tempo, a opção política da Administração americana de reduzir as taxas de juro para estimular a economia – imersa num problema financeiro decorrente de uma atitude irresponsável da banca, que financiou a especulação imobiliária – impulsiona o dólar para baixo. Mas cada vez que o dólar desce em relação ao euro, o petróleo sobe nos mercados, o que por sua vez faz subir a inflação … e tudo recomeça.
Resulta assim óbvio que é indispensável estabilizar a paridade euro/dólar para, em primeiro lugar, introduzir alguma racionalidade no mercado de câmbios e depois estabilizar também o preço do petróleo. Esta matéria-prima transformou-se recentemente em “valor-refúgio”. De facto, esse papel (normalmente desempenhado pelo ouro) já não está ao alcance desse metal, pela razão simples de que os ‘stocks’ existentes já não são compatíveis com os valores brutais de liquidez que hoje se movimentam nos mercados.
Só será possível estabilizar o preço do petróleo se aquele responder apenas a questões objectivas de procura e oferta (já por si bastante complexas no curto prazo) e deixar de reflectir a insegurança reinante nos mercados internacionais que anseiam, até agora em vão, por uma política clara das autoridades americanas.
Não me parece que seja possível esperar qualquer alteração significativa da actual Administração. Haverá que esperar pelas eleições de Novembro e pelo reinício da correcção do ‘deficit’ orçamental que seguramente a futura Administração americana não deixará de fazer. É absolutamente urgente, por outro lado, que os EUA abandonem a atitude irresponsável que têm adoptado quanto à energia e definam metas de médio prazo credíveis para poupança de recursos e desenvolvimento da produção de energias alternativas.
Gostaria ainda de referir que a realidade do nosso tempo não aconselha as atitudes de “concorrência” que vemos entre a FED e o BCE, sendo aconselhável um diálogo que, respeitando as diversas conjunturas, permita definir objectivos comuns que contribuam para uma melhor situação das diversas economias em presença, demasiado interligadas para uma actuação independente.
Finalmente uma palavra sobre os bens alimentares: a situação actual (alarmante) sublinha o fracasso de duas políticas – o sonho, que se transformou em pesadelo, dos “bio- combustíveis” e a política suicida europeia na agricultura, com subsídios para não se cultivar, esquecendo que no sector alimentar não podemos adoptar políticas totalmente abertas e que resulta indispensável assegurar, no mínimo, algum grau de auto- abastecimento europeu."
Manuel Ramires de Oliveira
1 Comments:
parabens pelo o site o conteudo e bem legalzinhoo...tdo de bom pra vc...
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