sexta-feira, maio 20, 2005

Um Novo México

Nunca pensei dizer isto, mas estou convencido que este é o melhor governo do pós 25 de abril. Tenho razões pessoais para acreditar que o primeiro governo de maioria absoluta do Prof. Cavaco Silva foi responsável por grande parte dos atrasos do país - os IPs, a subida da despesa pública - de 40% para 60% em dez anos -, a corrupção e impunidade dos autarcas e de um presidente de um governo regional, os subúrbios coloridos de Lisboa, a profileração de universidades de pouca qualidade e que apenas tiram anos úteis de trabalho à Economia, por troca de especialistas em História e Filosofia, a redução (por crescimento nulo contra o crescimento positivo da Economia) do número de licenciados em medicina, pelo esbanjamento dos fundos comunitários, e muito mais haveria a dizer. Além disso, lembro-me demasiado bem da forma como o último governo do Prof. Cavaco Silva resolvia os problemas. Se ele se candidatar a presidente, no entanto, terá o meu voto, o que, espero, demonstra que não caibo na prateleira do ele-só-diz-isto-por-ser-de-esquerda. Eu nem sou de esquerda.

O caso da Bombardier é de mestre. Trata-se de uma empresa que gozou com a cara de todos nós - comprou capacidade produtiva por uma ninharia para depois a destruir. Deviam-se lembrar os neoliberais que o capitalismo - mesmo sob o ponto de vista da escola austríaca - só existe porque uma das suas duas forças mais presentes é atenuada pela lei - a força de conluio. De outra forma, Marx estaria correcto e assistiríamos a um capitalismo monopolista - e não no sentido Schumpeteriano, porque não se tratam de rendas por inovação, mas sim de rendas por não fazer nada-, que teria necessariamente que implodir.

O que o país precisa não é de investimento. Investimento não significa nada - de facto, o capital como conceito foi refutado pela Crítica de Cambridge: não se pode somar porcas e parafusos com máquinas de extrair petróleo, porque o preço a que se vendem, e que os permitiria agregar, não reflecte a produtividade marginal: na verdade, a produtividade marginal é medida pela sua melhor alternativa, e a melhor alternativa de uma máquina de extrair petróleo é ser vendida peça por peça numa sucata. Não é apenas uma questão académica: é uma questão política. Afirmar que investimento gera crescimento, além de falacioso empiricamente, implica aceitar que investimento é todo igual - que 1000 euros gastos em subornar um presidente de câmara representam o mesmo para o país que 1000 euros gastos em tecido para fazer t-shirts graças a mão de obra que aceita um salário de subsistência - porque não tem outro - ou 1000 euros gastos em máquinas que permitem produzir material electrónico em grande escala.

Não. Portugal não precisa de mais investimento, mas de melhor investimento. Portugal não precisa de investimento em sectores de mão de obra barata, porque esse investimento vai apenas usar recursos para produzir coisas que ninguém vai querer comprar e que não vão permitir aumentos de produtividade. Do que Portugal precisa é de disciplina, e um Governo que deixe bem claro que não quer investimento não-produtivo, e que não deixa que o país sirva de interposto para branquamento de capitais, extinção da concorrência ou outra qualquer forma terceiro mundista de capitalismo inútil.

Na verdade, tanta coisa sobre investimento directo estrangeiro, quando praticamente todos os países que se desenvolveram no século XX fizeram-no apenas com base em re-investimento nacional: A Coreia do Sul, Taiwan, a China. O Japão cresceu graças a fundos estrangeiros, certo, mas não foram fundos de investimento baseados na maximização do lucro: foram investimentos baseados na maximização política de uma região estratégica.

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