quinta-feira, julho 28, 2005

Obrigado, doutor Soares.

"Ele queria o socialismo, mas meteu-o na gaveta e perdeu a chave.

Ele prometeu que nunca se aliaria à direita e depois foi o que se viu.

Ele contesta a interferência cada vez maior dos EUA no mundo, mas entregou um Globo de Ouro a Carlucci, ex-embaixador e ex-CIA, pelos alegados bons serviços prestados pelos EUA a Portugal após o 25 de Abril.

Ele é anti-Bush, mas já foi pró-Kissinger e pró-Rumsfeld.

Ele nunca quis ser Presidente da República, mas depois mudou de ideias.

Ele derrotou Freitas com o voto de toda a esquerda e nunca agradeceu.

Ele disse que se ia afastar da política, mas nunca deixou de dar opiniões nos jornais e de ter programas de televisão.

Ele disse que nunca mais se candidataria a nada e foi candidato ao Parlamento Europeu onde, aliás, quase nunca o ouvimos.

Ele quis ser presidente do Parlamento Europeu, mas não conseguiu.

Ele não queria voltar a ser Presidente da República e, pelos vistos, vai ser candidato, nem que, para isso, um velho amigo seja atropelado pelo caminho.

Também nisso, a história repete-se: ontem Zenha, hoje Alegre.

Enfim... Mário Soares nunca quis ser nada e acabou por ser tudo. É por isso que a incoerência é o que ele tem de mais coerente.

Há vinte anos, eu não tinha idade para votar. Hoje, posso agradecer a Soares a oportunidade que me dará de, não votando nele, ajustar umas contas com a memória.

E isto sem precisar de votar Cavaco. Posso nunca ter engolido sapos, mas sei a que sabem
."
Miguel Carvalho

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