Mal menor.
"Os indicadores estão aí, não enganam ninguém. A maioria dos portugueses está convencida de que a economia deste sítio muito mal frequentado vai piorar e que a sua vidinha não encontra qualquer luz ao fundo de um túnel cheio de dívidas e de incertezas. A tal confiança que o PS prometia na campanha eleitoral de Fevereiro, contra a tanga de Barroso e as trapalhadas de Lopes, esgotou-se rapidamente em novas trapalhadas, aumentos de impostos, demissões e projectos megalómanos. Os pobres cidadãos, que passaram estes anos todos a votar, alternadamente, no PSD e no PS à espera de um salvador da Pátria e dos seus depauperados bolsos, estão verdadeiramente desesperados com este sítio, com os seus dirigentes, com a sua economia e com a sua vidinha. Mas, verdade seja dita, têm o que merecem.
Agora, com o PS a mostrar o que sempre foi, o PSD igual a si próprio, o CDS equidistante dos dois e a esquerda troglodita no seu melhor, os cidadãos andam contentíssimos com a novela das presidenciais, uma artimanha lançada pelo aflito Sócrates para recuperar o fôlego e poder ir de férias para bem longe do cantinho. Como o primeiro-ministro e secretário-geral do PS só está bem nos bastidores e é o maior quando está calado, o palco foi deixado livre ao putativo candidato presidencial Mário Soares para entreter o povo até às autárquicas. E os cidadãos, no meio das filas
para as praias, os parques de campismo apinhados, as sardinhas assadas e os passeios nos centros comerciais com ar condicionado, discutem animadamente o combate escaldante, terrífico, histórico e memorável, anunciado por comentadores, apoiantes de serviço e propagandistas da banha da cobra, entre o animal político e o criador do monstro cavaquista.
Discute-se a idade dos candidatos, a sua vocação para números, se devem ou não perceber de economia, os seus amores e desamores por Sócrates. E como o sítio anda entretido e divertido com o assunto, vale a pena dizer que Mário Soares poderá ser o candidato contra a globalização, o mercado e a concorrência. Mário Soares poderá ser o candidato contra os EUA, a Europa liberal e atlântica e a guerra ao terror. Soares poderá ser o candidato que defende o diálogo com os terroristas e justifica os massacres de Nova Iorque, Madrid, Telavive, Jerusalém e Londres. Mas Soares, acima de tudo, poderá ser o candidato que afaste de vez Cavaco Silva da corrida a Belém. Os desesperados cidadãos deste sítio, embora culpados do estado a que isto chegou, não merecem ter como presidente o pai do monstro que os consome. Um homem sem cultura, sem estatuto, sem dimensão. E com muito medo da democracia."
António Ribeiro Ferreira
Será assim Cavaco tão mau? Será Soares (entre os dois) o mal menor que justifique o voto? Se assim for, pobre país que é obrigado a escolher um mal menor para Presidente da República.
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