sexta-feira, agosto 26, 2005

Programa Portugal-Sahara 2015.

"Coimbra a Arder" na madrugada de 22-8-2005, in Porta-Aviões, via Cuidado de Si, via Abrupto

O Governo prepara-se para anunciar o Programa Portugal-Sahara 2015, composto de uma dúzia de medidas eficazes de combate aos incêndios florestais:

1. Atribuir a cada português um ramo de eucalipto - o instrumento que as TVs estrangeiras mostraram ao mundo ser o meio mais usado para apagar fogos em Portugal

2. Dotar cada português de um balde de água de dez litros

3. Fornecer uma t-shirt nova a cada bombeiro

4. Cortar todas as árvores da floresta portuguesa para evitar que ardam

5. Enviar todos os cidadãos das aldeias isoladas, e os habitantes da cidade de Coimbra, para safaris no Quénia durante o mês de Agosto, de modo a prevenir que possam ser carbonizados pelas chamas

6. Expropriar os proprietários que não cuidem da sua floresta, começando desde logo pelo próprio Estado (ex. Mata Nacional de Vale de Canas, em Coimbra)

7. Construir, através de um projecto europeu lançado por este governo, dois aviões de grande capacidade, ou de pequena capacidade - tanto faz!... -, para apagar fogos, em vez dos ineficentes Canadair que os demais países europeus têm comprado, para operar já na época de 2015 (deste projecto será encarregado o ministro António-Está-Tudo-Controlado-Costa)

8. Introduzir na Constituição da República mais um artigo que proíba o Governo de solicitar ajuda internacional, por forma a impedir que o executivo possa ser acusado de negligência no combate à calamidade dos incêndios

9. Vender a frota de aviões Hercules C-130 e de helicópteros Puma para anular denúncias absurdas de desperdício de equipamentos disponíveis nas forças armadas para combate aos fogos

10. Decretar a proibição de envolvimento dos bombeiros profissionais no combate aos incêndios florestais, criando em alternativa um programa para o seu entrenimento, com exercícios de relaxamento e jogos florais, nos meses de Verão

11. Encarregar os militares da vigilância dos espaços florestais dos seus quartéis, limitando o seu empenho em desnecessárias operações de monitorização da floresta portuguesa

12. Proibir os media de reportar fogos ou de falar em calamidade - "se não mostram, nem contam, não aconteceram, pois já dizia o nosso antecessor Salazar que «politicamente, só existe o que o povo sabe que existe»!...

"Post-Scriptum: Juntei esta foto do Porta-Aviões para ilustrar o resultado da política negligente face aos incêndios que tem sido praticada pelo Estado, agravada pela irresponsabilidade e alheamento deste Governo de férias. Hoje, viajei de Coimbra para a Lousã pela estrada da Beira: cinco léguas de desespero e raiva pelas encostas e vales negros, pelo horrível cheiro a esturro do cadáver da floresta, pela gente resignada com o menosprezo do Estado, pelas casas defendidas pelo povo e poupadas por milagre, pelo arvoredo queimado dentro do perímetro da cidade, a qual foi penetrada pelas chamas (nas duas margens!) e ainda agradece a Deus não ter sido, no dia 22 de Agosto, transformada numa enorme fogueira...

Do Portugal Profundo

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