segunda-feira, novembro 07, 2005

O fim dos equilíbrios.

"1. A “intifada” de Paris, que já dura há mais de uma semana, demonstra o colapso de um dos equilíbrios centrais da ordem política e social dos países europeus. Podemos chamar-lhe “patriotismo pós-nacionalista”. Por um lado, o Estado nacional e as identidades nacionais continuaram a desempenhar, após 1945, um papel crucial na política do velho continente, e os momentos decisivos da integração europeia reconheceram e respeitaram sempre essa realidade. Por outro lado, este patriotismo cívico e pós-bélico está assente na convicção de que o “velho nacionalismo” morreu com a Guerra de 1939-1945, tendo ficado enterrado nas suas ruínas. No plano externo, a ordem pós-nacionalista manteria a paz permanente entre as potências europeias; no plano interno, onacionalismo deixaria de ser o motor da vida política: os partidos nacionalistas desapareceram e o nacionalismo deixou de ser um caminho de sucesso para se atingir o poder. Durante décadas, os cidadãos europeus conseguiram o feito notável de terem deixado de ser nacionalistas, continuando no entanto a ser patriotas.

As imigrações das décadas de 1960 e de 1970, com origem nas antigas colónias africanas e asiáticas, constituíram umdesafio ao patriotismo pós-nacionalista europeu. Até então o compromisso tinha sido relativamente fácil devido a três factores: as memórias recentes da Guerra,aprosperidade económica e o facto das identidades nacionais não estarem ameaçadas.

A integração dos imigrantes exigia um compromisso entre os europeus e os que chegavam. Os primeiros aceitavam o crescente pluralismo étnico e religioso das suas sociedades e os segundos não só cumpriam as regras fundamentais das suas novas sociedades como teriam que se submeter às estruturas de autoridade pública.

Este último ponto do compromisso está ameaçado com os distúrbios das “pequenas faixas de Gaza” que existem à volta de Paris, tal como ficou ameaçado com os suicidas bombistas britânicos que se fizeram explodir no dia 7 de Julho. Irónica e tragicamente, estamos a assistir na Europa às mesmas imagens de Israel e da Palestina que estávamos habituados a ver no conforto e no sossego de nossas casas. Por trás destas imagens, espreita uma velha sombra europeia de tons demasiado negros: o nacionalismo xenófobo.

2. Nos debates sobre o “modelo social europeu” e o liberalismo presta-se uma excessiva atenção ao Estado: o seu crescimento descontrolado, as suas funções e a sua reforma. Ignora-se quase por completo o outro lado: a ideia de cidadão em sociedades “liberais-sociais”. Tal como no caso do patriotismo, o contrato económico e social do pós-Guerra está a atingir o ponto de ruptura.

Os hábitos introduzidos pela prosperidade económica e pela segurança social de cinco décadas originaram uma ideia de cidadania fundada em propósitos opostos. Por um lado, os cidadãos europeus discordam cadavez mais em relação a valores fundamentais e por isso desejam viver em liberdade, sem qualquer interferência do Estado, para decidir aspectos importantes da sua vida. Por outro lado, acreditam numa noção radical de igualdade que os leva a exigir ao Estado o cumprimento de um número cada vez mais elevado de direitos e benefícios.

A crise económica da Europa vai obrigar, mesmo contra a vontade de quase todos, a resolver esta tensão. Os europeus terão que decidir se querem ser cidadãos de sociedades com instituições cuja finalidade é a preservação da liberdade individual, ou se querem definir a identidade política em termos de benefícios e de interesses, onde o Estado é simultaneamente umaliado e uma ameaça.

O que está hoje em questão na Europa, desde as ruas de Paris até às discussões dos Conselhos Europeus, é a redefinição do conceito de cidadania nos países europeus. "

João Marques de Almeida

24 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os israelitas contiveram Gaza ,na base de "olho por olho ,dente por dente".Em França queimaram-se mais de 4 mil automóveis,escolas ,lojas,policias foram feridos ,iclusivé a tiro e ainda não se ouviu falar de qualquer membro da "escumalha"ir para a morgue.Os franceses vizinhos, que perderam os bens e de origem modesta vão exigir a "definição" de Estado.O que faça cumprir as Leis que promulga,em vez de ir encontrar justificações e culpas nas condições, que são iguais para todos,brancos,negros e magrebinos.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

"Por trás destas imagens, espreita uma velha sombra europeia de tons demasiado negros: o nacionalismo xenófobo" Ou seja: dezenas de milhares de muçulmanos correm por toda a França, inendiando edifícios e automóveis, ferindo dezenas de agentes da ordem e bombeiros... e o que o sr. colunista pensa é no perigo do nacionalismo europeu. Deve ser porque o que está a acontecer AGORA não é perigoso, pois claro! Sr. João Almeida, foram pessoas como o senhor que tornaram possíveis os acontecimentos destes dias em França.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Não percebo! Não percebo a névoa que não se dissipa nos olhos de quem não quer ver. O "mesmo" acontece bem diante dos nossos lares ( desde que não habitem em condominios de luxo/isolados ), como é possível continuar a não se utilizar os termos correctos (?), gangs, marginais,pessoas de 2ª geração que em nada se identificam com os países que nasceram ou com os que os acolheram. São bandidos, terroristas e eles sim racistas e xenófobos.Onde estão as O.N.Gs. que os apoiam, os direitos humanos -que sempre os acompanham-, os partidos extremistas que os defendem??...Basta

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Eis um texto confuso, contraditório e com exemplos completamente fora «da mãe». As autoridades tem que zelar pela segurança dos cidadãos e dos seus bens e os cidadãos têm que respeitar as regrtas básicas da cidadania. Todavia, todos sabemos que todas as gerações de adolescentes, nomeadamente os mais desfavorecidos, revoltam-se contra o poder instituído. É básico e há que lidar com este tipo de revolta com firmeza e exemplarmente.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Os amigos dos "criminosos" de Paris, podem não ter tempo para o arrependimento porque se a Europa continuar na mão desta casta de dirigentes "maricas", dentro de pouco tempo, será o caos, a miséria e a morte. Eles matam e riem na cara das vítimas. Hoje em Paris, amanhã em Lisboa.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Não há qualquer tipo de justificação para a destruição que alastra em França! Nem motivos sociais nem políticos de esquerda ou de direita nem sequer humanos justificam os acontecimentos causados por energúmenos a soldo sabe-se lá de quem. Já há policias feridos à bala, chegou o tempo do bíblico “olho por olho...” e de travar as falácias ocas das pseudo autoridades.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Estes jovens ñ estão interessados na sua integração apesar de serem de 2ª ou 3ª geração.Recusam-se a ir à escola e a trabalhar, depois fazem o que está à vista.A França, que se cuide.Em todos os conflitos saiu derrotada e agora,c "panos quentes" ñ irá a lado nenhum.Oxalá que ñ seja necessário voltar a chamar os aliados para os defender.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Muitos não dão valor ao pouco que os pais lhe dão, o pouco que para esses mesmos pais quando eram jovens era muito. Hoje em dia alguns optam por tomar o caminho mais fácil, o da marginalidade... Sim porque levantar às 5h da manhã para ir trabalhar está fora de questão, e como sem trabalho não conseguem ter as coisas que desejam, destroem o pouco daqueles que trabalham.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

O problema é q estes jovens n dão valor a nada, são protegidos demais, gerações como a dos meus pais, q eram de famílias muito pobres, q passaram fome, q em vez de irem à escola e brincarem, eram obrigados a trabalhar no campo e cuidar do gado, q passaram por verdadeiras dificuldades, n se tornaram bandidos, trabalharam no duro para q os seus filhos n passassem pelo mesmo, e o q aconteceu?

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Enquanto se continuar com esta conversa fiada do politicamente correcto, e de nao se puder dizer o que todos pensamos com medo de ofender quem todos os dias nos ofende, nao se vai a lado nenhum. Os pais destes e doutros meninos que tal tudo fizeram para terem e viverem uma vida digna, mas os seus filhinhos deitam tudo a perder.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Os que tudo fizeram por sair do ghetto. Estas pessoas que escolhem a destruiçao e o medo para mostrar a sua 'revolta' nao passam de cobardes! Eles acham-se no direito de tudo exigirem, sem darem nada em troca. É a política do 'nós somos os marginalizados da sociedade'.É muito mais fácil clararem-se de vítimas que dar a volta por cima. Como dizia o outro 'o elevador avariou, subi as escadas'.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Como o bispo pode apelar ao fim da marginalização, se esses bandidos que estão a semear o terror e a incendiar tudo ,a bricar a quem incendeia mais carros? E através da Internet.Não é um problema de marginalização, mas sim um problema de ordem , e castigar severamente esses criminosos que só querem a destruição e a morte.

segunda-feira, novembro 07, 2005  
Anonymous Anónimo said...

A crise do estado Francês é uma crise dos estados fracos. Não sei como é possível chamar-se excluídos a "pobrezinhos" que andam de cordões de ouro, bem vestidos e bem calçados, bons telemóveis e bons carros do trafico de drogra. O problema de França é que tudo d esquerda, tudo poeta, tudo lírico. Por isso o continete europeu está a miséria que está.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Aos incidentes acontecidos na região parisiense, que começam a estender-se a toda a França e se farão sentir, não tardará muito, em toda a Europa.
Corria o ano de graça de 1968, e os estudantes começaram também a reivindicar melhores condições de ensino nos liceus e universidades. Era gente fina e não devia merecer críticas severas.
Hoje, as reivindicações, justificadas, dos imigrantes norte-africanos, e outros, que vivem em condições miseráveis por toda a França, sobretudo na região parisiense, e porque são imigrantes árabes ou pretos, não devem merecer a devida atenção por parte das autoridades. Cometem exageros, como tantos erros foram cometidos nas políticas que lhes dizem respeito.
Conheço a França e os franceses. Sei que é um país acolhedor e um povo que não é nem xenófobo nem racista. O mal reside nos sucessivos governos de centro-direita, que mais não pretendem que apoiar os seus amigalhaços capitalistas, tratando os imigrantes como se escravos fossem, colocando-os em bairros/guetos, ou que rapidamente neles se transformam, marginalizando-os e deles se não importando mais que sugar-lhes o pouco sangue que ainda possam conter suas fracas veias.
Com o tempo, vai chegando o desespero desta gente. Mas os governos de direita, verdadeiros autistas e opressores dos povos,sobretudo dos imigrados en seus países, apenas lhes oferecem orelhas surdas e o total desprezo.
Surgem estes actos de insubordinação, criticáveis..., e então parecem despertar. Tardiamente e levando à expulsão dos "bandidos dos explorados até então".
Mas, rapidamente tratam de querer dizer estarem interessados em fazer o que nunca fizeram até aí, sendo demasiado tarde para muitos que só queriam podere viver melhor que no seu país de origem.
É conveniente que os governantes comecem a acordar duma vez para sempre e se dignem pensar e fazer pensar que devem respeitar-se os direitos humanos de todos.
Para bem do mundo e das sociedades e sobretudo da paz universal

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Embalados nas imagens de franca, vemo-nos obrigados a pensar o seguinte. Se isto nos acontecer a nos daqui a 10 ou 15 anos, sera que as forcas de seguranca e forcas armadas que nessa altura devem ter um contingente humano com uma faixa etaria que deve rondar os 50 anos de idade, sera que estes homens que ganhando pouco e ja com netos, vao conceguir dar a volta a isso, ou iremos entao entregar o pais a essa escumalha de gente a quem nos habituamos de chamar emigrantes de leste???

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Acho absolutamente inacreditável que alguem possa justificar o injustificável como li em alguns comentários anteriores.... a pobreza e a exclusão justificarão a pura destruição que temos vindo a verificar?

Que culpa têm aqueles que vêm os seus bens e o seu ganha pão destruídos pela acção de alguns vândalos?

Culpa têm os políticos que com os seus «discursos da treta» impedem que se tomem as acções necessárias... com o exército nas ruas esta situação já estava resolvida à muito tempo...

Devem estar a brincar comigo....

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Conheço muito bem a argumentação com base na teoria marxista sobre situações do género.
Direi mais, às funções de produção subjacentes na teoria marxista até se aplica o cálculo diferencial aonde se obtém conclusões interessantes.
Porém a própria teoria, ela própria, traz em si o germe da contradição e portanto a sua anulação.
Repare-se no seguinte, o nível actual das forças produtivas (conhecimentos, tecnologias, etc), permite sempre produzir dando origem a execedentes, estes ao estarem disponíveis podem ser apropriados colectivamente (distribuição equitativa pelos membros da sociedade), o que implica uma sociedade comunista, porém a prória existência desses escedentes motiva e motivará a sua apropriação por meia dúzia de membros dessa sociedade, razão suficiente para que os mais poderosos se apropiem do aparelho de estado e revertam esse exceedente em seu proveito.
Resulta assim que o comunismo só é possível em sociedades primitivas aonde a cooperação e apropriação colectiva é condição indespensável à sobrevivência da espécie humana.
Portanto meu amigo desiluda-se, uma sociedade que produz excedentes nunca será comunista mesmo debaixo duma feroz ditadura, é a produção de excedente que dá origem às desigualdades.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Os senhores do maio de 68 estão todos no poder, em França, no Reino Unido, em Portugal e olha o que criaram. Sr Mário Soares a democracia é para todos não para os boys e clãs sopalistas. Que linda sociedade estão a criar e fica zangado quando lhe lembram. Eu fui um lutador pel democracia, pela igualdade, pela fraternidade, muita atenção! O faxismo nunca será o caminho, mas mesmo esse não criou tanta desigualdade, tanta incompetencia, tanto taxo, tanta arrogancia, tanta clientela, tanto egoismo, tanta corrupção. Que a França sirva de lição novamente.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

e gostava de dizer três coisas
1°- O que se passa em Paris não é novidade nenhuma, pois repete-se de vêz em quando com nenos ou mais carros queimados. Portanto, ao contrario do que anuncia alguma comunicação social portuguesa (os mediucres de sempre) a comunidade lusa, nem tem medo,nem està assustada e muito menos apavorada, não são uns bandos de chungaria ou alguns carros incendiados que nos metem medo, jà conhecemos pior. O que nos mete medo é que alguma comunicação social e o MNE portugues nos queira ajudar, isso sim mete-nos medo! Aliàs, não percebi muito bem a cena do freitas do amaral vir dizer que o governo portugues està pronto a proteger e ajudar os portugueses em Paris. O homem està maluco? Desde quando os portugueses no estrangeiro estão habituados a ser protegidos por eles? (à parte os traficantes de droga, como o jornalista de Dubai e o aviador da Venezuela).
Quem lhes disse que precisavamos de ajuda? E depois, não estamos na Asia, no Irake ou Afganistão! Iniciativas destas são um insulto às autoridades francesas, que jà se estão a passar com as noticias da presse portuguesa. A ajuda do governo portugues e de alguns "jornaleiros", isso sim deixa-nos assustados e apavorados! Não nos ajudem mais por favor!!!

2°-A realidade
Alguns politicos e jornalistas aproveitam a situação para ajustar contas com os adversarios, falando de pobreza, discriminação, màs politicas etc. A realidade é muito simples, esta gente na sua maioria arabes, que vivem nas "citês", (os tais bairros) não querem trabalhar porque ganham mais em meio dia com os traficos de droga, carros roubados, prostituição e outros, do que um mês a trabalhar e a levantarem-se às 7 horas da manhã. As citês são zonas onde a policia não entra e quando são apoiados por um ministro (como agora) para entrar e tentar acabar com o crime... acontece isto! E depois claro, vem logo tambem alguns politicos acompanhados de jornalistas a defender estes pobrezinhos.

3°- Atenção Portugal
Este probelema jà começou a entrar em Portugal desde alguns anos, muito devagarinho e sem barulho, mas està a entrar, e os nossos politicos não fazem nada, não querem ver, até mandam os jornaleiros mostrar na tv a inauguração de mais uma mesquita.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Vamos lá a ver. A respeito do capitalismo selvagem, parece podermos concluir que apareceu, no leste, em substituição da exploração de um Estado por outro Estado, e por isso também duns que nasceram aqui e beneficiavam da exploração dos outros que nasceram ali. Mas exploração é exploração, e é reprovável. Faltará no entanto, acertarmos o que é a exploração. No limite, qualquer trabalhador é explorado. Pelo patrão ou pelo Estado. Aliás os patrões dizem-se explorados pelo Estado.
No ocidente, o capitalismo sempre foi mal conotado pela, dita esquerda.
Mas, o que muitas das vezes acontece nestes casos, como o vivido em França, é um disfarçe para a obtenção doutros fins.

Em muitos casos, os cabecilhas destes grupos, são indivíduos que pretendem o seu bem estar sem qualquer tipo de preocupações sociais. Se de facto fossem movidos por preocupações sociais, mereceriam o meu respeito, embora discordasse da forma.
Quanto ao facto do primeiro ministro vir dizer que vai tomar medidas sociais, para além da mentira, só me parece que pretende parecer politicamente correcto.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Já referi aqui aquando dos incêndios em Paris a minha ida a França, este ano em Agosto, onde fiquei durante uma semana, aproveitando o convite de um familiar ?pour rester chez lui?. Fiquei em Montfermeil no limite junto a Clichy sur Bois onde apanhava o autocarro em direcção a Aulnay sur Bois para apanhar o comboio que me levava ao centro de Paris. Aproveitei a oportunidade para conhecer todos os famosos monumentos de Paris, onde me desloquei duas vezes (os outros dias reservei-os para concretizar alguns dos sonhos da minha filha com 13 anos. A Disneylandia fica a uma hora em transportes públicos, dali na direcção contrária a Paris).

Fiquei surpreendentemente abismado ao ver o ambiente daquela zona. Em cada 20 pessoas que se avistavam nas ruas 2 ou 3 eram brancas as restantes pretas ou mestiças. Fiquei enojado pela quantidade de lixo que se via nas ruas. Com os contentores de lixo junto à entrada dos prédios ninguém se dava ao trabalho de descer as escadas e depositar os sacos de lixo nos mesmos, era mais fácil atirá-los dum quarto ou quinto andar pela janela algumas vezes sem sequer ver se alguém vinha a passar cá em baixo.
Vi a polícia colocar fora de um apartamento um grupo de pretos, lançando-lhes mobílias velhas e electrodomésticos no mesmo estado pela janela, uma vez que estes se haviam apoderado do apartamento sem dar ?cavaco? a ninguém.

Nas ruas só se viam velhos carros, aparentemente abandonados.

Tive a curiosidade de verificar que ali na zona se comprava um T3 por 60.000 Euros com a maior das facilidades. Todas as pessoas que tinham algumas possibilidades procuravam fugir da zona.

Numa das duas vezes que fui ao centro de Paris no autocarro entra um grupo de 25 a 30 indivìduos africanos, qual deles com melhor aspecto. Só um deles obliterou bilhete. Na gare em Aulnay sur Bois saltaram todos por cima das portas de entrada de acesso ao cais (o sistema é o mesmo do Metro de Lisboa, mas com portas mais baixas) surgindo imediatamente um aviso nos altifalantes da estação para que os utentes cuidassem das suas bagagens não as deixando abandonadas. Desde do motorista do autocarro até aos responsáveis na estação, ninguém se meteu com eles.
Tudo isto e algo mais me levou ao chegar a Portugal, a comentar com pessoas amigas (que sabem que esta opinião é anterior aos actuais actos de vandalismo) que não entendia como haviam os Franceses permitido tal situação no país deles que jamais levantaria a minha voz opinando contra o Sr. Le Pen já que ao ver as situações atrás descritas lhe dava inteira razão.
Aliás, hoje, o sr. Le Pen deve rir-se imenso com a situação que se vive em França.
Entretanto espero que em Portugal se possa gerir a situação da Imigração de uma forma diferente e que casos destes sirvam de exemplo. Não me recordo o nome do Sr. Padre que em tempos veio para a televisão defender os direitos dos Imigrantes africanos em Portugal na altura dos problemas no Bairro do Mocho em Lisboa, sei que se na altura não lhe dava qualquer razão agora ainda lhe consigo dar menos e que se ser da Extrema Direita é ser contra a deflagração destas situações de vandalismo como em Paris eu sou de Extrema Direita.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

É óbvio que este problema não tem apenas um culpado! Claro que se houvesse uma rede de apoio social eficiente e se as assimetrias socio-culturais fossem atenuadas, muito provavelmente este tipo de situação não teria a expressão que se observa hoje em França!
Mas é igualmente verdade que a maioria destes arruaceiros (lamento, mas não lhes posso chamar outra coisa) são imigrantes, que vieram para um país que não era seu de origem, que os acolheu (bem ou mal) e como tal deviam ter respeito por ele e pelos seus habitantes!! Ninguém os convidou... e muito menos ninguém lhes dá o direito de destruir bens alheios, conseguidos na maioria das vezes à custa de muito sacrifício!!
E há que ter também a coragem de cortar com o politicamente correcto e não ter medo de os enfrentar!! A Europa não é isto!!! A Europa merece mais!! É urgente uma politica de emigração que permita apenas a inclusão de pessoas às quais se possa garantir alguma qualidade de vida e acima de tudo dignidade! Não devemos permitir a enchente de pessoas de todas as proveniências em nome de uma falsa solidariedade que depois culmina neste tipo de situações! É igualmente necessário não ter medo de ter mão firme para pessoas cujo único propósito é provocar desacatos...se não estão bem, se não se integram, então não estão cá a fazer nada, voltem para o sítio de onde vieram!!

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Eis o verdadeiro eufemismo da questão.
A não integração total de todo o imigrante, seja clandestino ou não, ao qual se abriram as fronteiras de qualquer país, com essa livre circulação de pessoas e bens no espaço considerado Schengen,a longo prazo provoca destes tumultos indesejados.
Indesejados porque mexem com a estabilidade dos nacionais em diversos aspectos.
Se, para cada imigrante entrado houvesse pelo menos um emprego exigido e garantido, com todo o respeito pela dignidade humana e social, estou convencido que os tumultos não teriam lugar.
Mas, o capitalismo selvagem do fim do século XX e inícios do século XXI, com a flexibilização laboral, de despedimentos, de salários humanamente inconcebíveis e ridiculamente baixos, com os direitos sociais diariamente camuflados e ao sabor de capitalistas que integram os sucessivos governos, e com os direitos humanos amarfanhados, será que é de estranhar que comece, lenta e paulatinamente a nascer o sentimento de revolta?
Se um trabalhador imigrante executa o mesmo serviço e nas mesmas condições que um nacional, por que razão chega ao fim do mês com apenas meio salário que o do nacional? E todas as regalias sociais retiradas aos cidadãos imigrantes, que se vêm a braços com as maiores dificuldades? E tudo o resto a que estão sujeitos, como por exemplo os termos de comparação, sendo apodados de invasores e de ladrões dos empregos?
De notar que geralmente, os imigrantes executam o que os nacionais já não querem fazer.
Evidentemente que no meio de toda esta confusão, há os que se aproveitam para causar danos, alguns irrecuperáveis. Há também os anarquistas e os infiltrados, que as polícias e os tribunais saberão punir. Mas, por que razão, o PM Villepin reuniu todo o seu Quartel-general e já pôs cá fora novas promessas de melhoria de condições de vida para os imigrantes?
Os governos, antes de enveredarem por certos caminhos, deveriam medir todas as consequências que podem advir pelos actos que praticam, com especial atenção para os governos de direita e centro-direita. Esses sim, os verdadeiros eufemismos ditos governativos mundiais.

terça-feira, novembro 08, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Na noite de quarta-feira, Villepin despediu-se dos deputados qua apoiavam Sarkozy, com uma espécie de corte de manguito, impróprio dum chefe de governo, aparente e fisicamente sempre atilado.
O "encontrão" entre os deputados da UMP e o PM, causou uma muito viva inquietação no Eliseu e nos "cartéis" políticos da maioria parlamentar. E Villepin organizou, na sexta-feira, várias reuniões de trabalho para deixar constância de seu "apoio", solidariedade e trabalho em comum com Sarkozy, utilizando uma linguagem marcial de circunstância: "O Estado não cederá ante o vandalismo. A ordem e a justiça terão a última palavra".
Durante as últimas 72 horas, Villepin organizou diversas reuniões com os titulares do Interior, Trabalho, Assuntos Sociais, Justiça?para tentar acelerar o pôr em marcha dum novo plano nacional, que proporá ajudas e soluções de todo o tipo. No entanto, as diferentes frentes da crise, deixaram a descoberto um terrível rosário de problemas. A repressão policial poderá sacrificar as cidades e subúrbios onde estalou a crise. Mas não será fácil acabar com as labaredas de ódio social, bem enraizado na terra de ninguém do deserto suburbano.
As ajudas sociais poderão tapar estes e aqueles focos. Mas a grande coroa parisiense transformou-se perigosamente: a antiga "cintura vermelha", que votava massivamente nos comunistas, tornou-se um terreno pantanoso, que agora vota, maioritariamente na extrema-direita e na extrema-esquerda.
A massiva presença de polícias nas imediações de escolas e institutos poderá fazer deslocar a violência. Mas os professores são implacáveis nas suas denúncias: a maioria considera-se vítima de segregação laboral educativa, que os condena a viver e trabalhar em condições muito difíceis e ameaçadoras.
Em Maio de 1968, tudo começou pela Educação,em Paris, alargando-se depois a toda a França e a todos os sectores sociais, espalhando-se depois a toda a Europa, até a de Leste. Veja-se o acontecido em Praga.

terça-feira, novembro 08, 2005  

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