quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Terrorismo intelectual

"Está a estalar o verniz da civilização ocidental. Estamos todos mais duros, mais revoltados, mais cruéis. Exactamente como Osama queria.

Sem surpresa, os ‘cartoons’ dinamarqueses têm sido discutidos como um mero caso de “liberdade de expressão” versus “respeito pelos símbolos religiosos”. Contudo, contar a história assim é, como se costuma dizer, tirá-la do contexto. E, neste caso, o contexto é tudo. A mim, os desenhos dinamarqueses lembram-me os ‘cartoons’ de propaganda bélica, habituais na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais. Soviéticos, franceses, nazis, fascistas, ingleses, japoneses ou americanos, todos usaram os ‘cartoons’ como arma de propaganda de guerra. O “inimigo”, fosse ele qual fosse, era sempre diabolizado, insultado, satirizado e humilhado. A ideia era enfurecê-lo, mas era também levantar a moral dos povos que os viam, excitando-os e cegando-os. Numa guerra, é isso que é preciso, pois caso contrário é mais difícil matar indivíduos de carne e osso como nós.

Os ‘cartoons’ dinamarqueses são elementos de uma guerra: a guerra declarada pelo “radicalismo islâmico” ao Ocidente, e que teve como resposta a “guerra ao terrorismo”, declarada pela América e também por muitos países europeus. Não foi, é bom lembrá-lo, uma guerra desejada pelo Ocidente. Não havia, a não ser na mente de paranóicos e conspiracionistas, nenhuma razão óbvia para ter começado. Mas, a verdade é que começou, com extrema crueldade, no dia 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque. O violento ataque, que humilhou a América e espantou o mundo, produziu os efeitos desejados. A América cegou, e mandou avançar a cavalaria, que partiu à desfilada para o Afeganistão e depois para o Iraque. A espiral da “guerra ao terrorismo” prosseguiu, com dezenas de episódios menores e de explosões maiores. Bali, Istambul, Casablanca, Madrid, Londres, provocaram milhares de mortos, e assustaram o Ocidente com imagens horríveis.

A armadilha diabólica em que Osama nos enfiou transformou-se de facto numa guerra. Como todas as guerras, cruel, dura, violenta e capaz de fazer vir à tona o pior dos seres humanos. Lentamente, o sentimento dos ocidentais mudou. No dia 12 de Setembro de 2001, muitos eram ainda os que achavam que a culpa era “dos americanos”. Cinco anos depois, já não é assim. A raiva ocidental contra o Islão já não está contida. Devagar, sem pressa mas também sem pausas, está a estalar o verniz da civilização ocidental. Estamos todos mais duros, mais revoltados, mais cruéis. Exactamente como Osama queria.

Os ‘cartoons’ dinamarqueses são mais um episódio dessa guerra. São peças de puro “terrorismo intelectual”, e ninguém devia ficar surpreendido com as reacções que geraram no mundo islâmico. A ideia era exactamente essa: mostrar ao mundo quão básicos, primários e “atrasados” são os povos islâmicos. Vir agora dizer que são actos de pura liberdade de expressão artística é de uma candura e inocência que afligem. E dizer que a liberdade de expressão é um valor absoluto espanta. Então porque é que em todo o Ocidente são proibidos os partidos nazis e a defesa das ideologias nazis?

Infelizmente, ao tratarem Maomé da forma que tratam, os cartoons conseguiram algo que Osama nunca conseguira: unir o Islão. É que não há quase nada em comum entre os milhões de islâmicos, a não ser Maomé. Assim, e apesar de serem propaganda bélica, os ‘cartoons’ dinamarqueses são absolutamente estúpidos e levianos. Nenhum deles seria aprovado por um ministério de propaganda de guerra. É preciso ser totalmente estúpido para relacionar Maomé com bombas. É assim como culpar Jesus pela Inquisição. Que se saiba, nunca Maomé promoveu o terrorismo suicida.

Infelizmente, o radicalismo islâmico já contaminou o Ocidente. Obrigou-o a reagir, e claro, a agredir. Olho por olho, dente por dente. Ontem Bush, e hoje, que já passaram uns anos e os ódios são mais “aceitáveis” e “compreensíveis”, os artistas. Foi sempre assim nas guerras. Um resvalar para a barbárie, que só pára quando um dos lados se render. Guerra é guerra: eles atacam à bomba, nós respondemos com “guerras preventivas” ou cartoons a insultar Maomé. E Osama a rir
..."

Domingos Amaral

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito disparate ,Amaral.Infelizmente ,ainda muita gente e muitos meios de comunicação do Ocidente continuam a sentir que o 9/11 foi um problema americano e que tudo o que se passa é culpa do Bush.O Osama não sabia e poucos de nós saberíamos que a má-fé do Ocidente(como bem escreveu Fernando Gil)iria tão longe.E é muito bom ver os paises nórdicos,cheios de ONGs e assistencia ao "terceiro mundo"a serem assim atingidos.Os cartoons não são actos de guerra .São irreverencias como a do "perservativo no nariz do Papa" que náo sabemos tratar nas democracias.Bush é o "culpado", porque foi o unico que mostrou como se trata com esta escumalha.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Correcção ao texto :"perservativo no nariz do Papa" que NÓS sabemos como tratar nas democracias(em vez de "não")

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O articulista é novo, mas tinha obrigação de não dizer o disparate da "guerra" declarada pelo radicalismo islâmico ao Ocidente ter começado no dia 11 de Setembro de 2001. E todas as bombas, assaltos a embaixadas, ataques a navios, condenações de escritores à morte, antes dessa data, foram o quê? E afinal onde é que vê a dureza, revolta, e crueldade do mundo ocidental? Na demissão de responsáveis pelas "ofensas"? Nos pedidos de desculpas dos políticos e diplomatas, que se rebaixaram de representantes de um país a relações públicas de meios de comunicação social? Acho a crueldade despropositada, mas falta (e não sobra) claramente uma saudável dose de revolta e dureza proporcional na defesa das nossas liberdades. Se pela ignorância e falta de referências não distinguem um jornal de um país, decidem queimar uma bandeira é lá com eles (desde que a comprem ou improvisem), agora quando passam às embaixadas e aos concidadão do cartoonista, o caso devia mudar de figura. E infelizmente não mudou. Lamento, mas os factos desmentem todo o artigo.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Aconselho o Sr Amaral a ler o artigo de V.G.M. no D.Notícias de hoje. O PCP já enfastia, metem nojo o sapateiro, amarais e quejandos. Faz-me lembrar uma cena de 1973 em que na M.P. (mocidade portuguesa) havia ordens expressas para tratar com especial cuidado os estudantes das provincias ultramarinas. Basta!

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez moldou o tema à sua opinião, e não escreveu sobre os factos que deve desconhecer. E já agora: já viu um bulldogue ? Parece o cúmulo da decadência, mas quanto luta é até à morte .... E tanto como o Hitler desprezou os inglesas e a democracia ocidental como efeminados e decadentes, também o islão radical faz isto hoje com a nossa Europa. A Alemanha do Hitler teve que aprender der lutar com os buldogues ingleses e pagou felizmente caro, o Islão ... a ver vamos! Mas ainda espero que somos buldogues inglese, berserkers nórdicos e indomináveis ibéricos, no entanto, o Senhor bem pode continuar a escrever mais sobre as últimas linhas da cosmética intelectual na Maxmen - cá eu sou um NormalMan, e vou rataliar quando necessário . Atentamente

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Desde quando é que Hitler desprezou os inglesas como "enfeminados e decadentes"? Por alguma razão o BEF não foi fortemente atacado em Dunquerque e a Alemanha propôs a paz ao Reino Unido em 1940...

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

tem toda a razão - Hitler tentou incluir os ingleses na sua aliança, no entanto, ele acho o sistema político inglês, ou seja, a democrácia inglesa como decadente, efminado e corrupto

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

"Perservativo" não tem correcção?

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Desculpe, mas o Osama diz me agora que deve ser: "Perversovativo"

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Gostei e concordei, apenas por não gostar de radicais islâmicos e por entender que quanto mais provocativos e insultuosos formos menos eles emigram para cá. Árabes para a Arábia!

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

É esta a paga que temos! Vivem à custa da nossa segurança social e ainda nos querem matar! Estes loucos deveriam estar presos numa instituição de doentes mentais. O mundo Ocidental terá que abrir um dia os olhos, já que, permite que aqueles que nos odeiam, vivam descansadamente entre nós e, ainda façam a apologia da nossa desgraça na nossa cara.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Independentemente do certo ou errado (subjectivo) da questão dos cartoons, é triste o Freitas do Amaral não respaldar o governo dinamarques, país europeu e do mesmo lado da (barricada), espero que o Freitas para bem de Portugal, não tenha de engolir todos os sapos vivos. Este Freitas só me tem dado desgostos.Era tao bom estar calado!

quarta-feira, fevereiro 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

A mim me parece que é a primeira vez que concordo com o Domingos Amaral.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006  

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