quinta-feira, abril 06, 2006

A guerra civil no Iraque .

"Por alturas dos atentados na mesquita de Samarra, há cerca de um mês, não houve quem não garantisse que a guerra civil no Iraque estava para rebentar. Apesar disso, pode dizer-se, sem soar optimista, que ela teima em aparecer. A "guerra civil" é a última esperança dos que desejam ardentemente que tudo corra mal no Iraque. A "guerra civil" esteve já para ser a que se anunciava em Fevereiro de 2003, quando nos era assegurado que a operação militar iria produzir "fome" e "milhões" de refugiados. Ou a da primeira semana de combates em Março de 2003, quando o Iraque era já o "atoleiro", o "Vietname". Ou a da segunda semana, quando as tropas anglo-saxónicas não sabiam o que fazer, enfrentando o "duríssimo" clima do Iraque e a ferocidade das tropas saddamitas. Ou a da terceira semana, quando Ali, o Cómico, garantia ao vivo na televisão a derrota aliada, ao mesmo tempo que, por trás, um tanque Abrams entrava em Bagdad.

A guerra civil no Iraque também já esteve para ser a da "resistência" à ocupação. Aquela "resistência" que durou enquanto as tropas ocidentais não souberam controlar o arremedo de guerrilha montada pela Al-Qaeda, os restos do baasismo e uma parte da população sunita. A partir do instante em que, graças aos métodos de contra-insurreição, a "guerrilha" deixou praticamente de atingir tropas ocidentais, dando lugar ao vulgar terrorismo de vão de escada, ainda para mais dirigido contra iraquianos, parece que também a "resistência" desapareceu. Falhados os "refugiados", a "fome", o "atoleiro", o "Vietname", a "guerrilha" e a "resistência", chegámos à última versão do desastre: a "guerra civil", termo completamente permutável com os anteriores, no jargão dos opositores à intervenção ocidental.

Passados três anos sobre o início da intervenção, talvez fosse a boa altura para aqueles que passam o tempo a antecipar eventos apocalípticos que não ocorrem se questionarem sobre a credibilidade que se lhes pode atribuir. Isso ajudaria toda a gente a perceber que aqueles que seguem a narrativa do "atoleiro", da "resistência" e da "guerra civil" não estão a fazer o relato do que acontece nem estão a analisar. Estão apenas a tentar, através de métodos próprios da feitiçaria, que as suas palavras se transformem em realidade
."


Luciano Amaral

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