Capatazes.
"Entrados no século XXI, eis que estamos agora a discutir o “combate ao tráfico de seres humanos e trabalho forçado na Europa”.
Não é mal que se discute, já que o problema existe. O que é dramático é que a civilização tenha regredido de volta aos tempos do tráfico humano e da escravatura. E foi assim que um estudo do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social procedeu ao levantamento das situações de exploração laboral e tráfico de imigrantes em Portugal e dos emigrantes portugueses que vivem e trabalham na Europa. Um horror. A grande diferença é que os emigrantes portugueses chegam a ser vítimas de violência, de rapto, de ameaças físicas e até de chantagem sobre as famílias que deixaram em Portugal, ao passo que os imigrantes que trabalham em Portugal são vítimas de formas “mais subtis de coacção e de pressão psicológica”. São os chamados “brandos costumes”, constituídos neste caso pela precaridade, a fragilidade do estatuto jurídico e a fraca capacidade de negociação no mercado de trabalho.
Nada que não se verifique com os próprios trabalhadores portugueses em Portugal submetidos, por via dos costumes reinantes e até de alguma legislação existente, à mesmíssima precaridade, fragilidade e fraqueza negocial. Aliás, muitas das situações detectadas de exploração e pressão são exercidas sobre emigrantes portugueses na Europa por outros portugueses, capatazes do trabalho forçado. Porque a exploração, para recriar a classe dos seres humanos traficados e sujeitos a trabalho forçado, teve também que reconstituir a categoria dos capatazes, intermediários brutais da ganância de uns poucos sobre a condição de muitos outros.
Sinais dos tempos. Tudo isto se passa numa região do planeta que enche a boca com a expressão “direitos humanos”. Quando o direito humano que resta, e com limites, é o de denunciar a hipocrisia."
João Paulo Guerra
Não é mal que se discute, já que o problema existe. O que é dramático é que a civilização tenha regredido de volta aos tempos do tráfico humano e da escravatura. E foi assim que um estudo do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social procedeu ao levantamento das situações de exploração laboral e tráfico de imigrantes em Portugal e dos emigrantes portugueses que vivem e trabalham na Europa. Um horror. A grande diferença é que os emigrantes portugueses chegam a ser vítimas de violência, de rapto, de ameaças físicas e até de chantagem sobre as famílias que deixaram em Portugal, ao passo que os imigrantes que trabalham em Portugal são vítimas de formas “mais subtis de coacção e de pressão psicológica”. São os chamados “brandos costumes”, constituídos neste caso pela precaridade, a fragilidade do estatuto jurídico e a fraca capacidade de negociação no mercado de trabalho.
Nada que não se verifique com os próprios trabalhadores portugueses em Portugal submetidos, por via dos costumes reinantes e até de alguma legislação existente, à mesmíssima precaridade, fragilidade e fraqueza negocial. Aliás, muitas das situações detectadas de exploração e pressão são exercidas sobre emigrantes portugueses na Europa por outros portugueses, capatazes do trabalho forçado. Porque a exploração, para recriar a classe dos seres humanos traficados e sujeitos a trabalho forçado, teve também que reconstituir a categoria dos capatazes, intermediários brutais da ganância de uns poucos sobre a condição de muitos outros.
Sinais dos tempos. Tudo isto se passa numa região do planeta que enche a boca com a expressão “direitos humanos”. Quando o direito humano que resta, e com limites, é o de denunciar a hipocrisia."
João Paulo Guerra
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