Fim de dia.
O sol traça linhas douradas no Tejo calmo. Reflexos de um dia esplendoroso.
Fugindo a possíveis obrigações, caminho preguiçosamente ao sabor da corrente, atento a uma possível atracção que me faça parar algures. O passeio marítimo está cheio. Cruzo-me com gentes de diferentes raças e credos, tanta a tal ponto, que me acho o único a falar a língua de Camões. Finalmente o cansaço leva-me a este banco virado para o rio.
Sento-me e abro o jornal, única companhia para o dia. Por entre parágrafos, vou espreitando o movimento. A leitura começa a desinteressar-me: associações “medievais” cooperativistas que ainda subsistem e atravancam a qualidade de vida do país, políticos pinóquianos, tecido social em falência moral, desgraça aqui, desgraça ali. Tudo legitimado com a eterna “ perfeita normalidade”.
Fecho o jornal, afinal hoje é Domingo, quero descansar a cabeça desse mundo moribundo, vendido como se estivesse cada vez melhor e mais perfeito. Vagueio novamente com os olhos pelo infinito. Aprecio todas as figuras como se fossem únicas. O barulho de crianças a brincar no jardim chama-me a atenção. Pobre mundo que já nem elas são a perfeita inocência.
Ao lado, nos bancos, jovens namorados trocam promessas, no mínimo, difíceis de cumprir. Casais, amigos e solitários passam lentamente, aproveitando à sua maneira as delícias do dia. O sol desce lentamente, despedindo-se. O frio vai aumentando. O corpo anseia pelo regresso.
Está na hora de partir. O Domingo está nas últimas. Dentro de poucas horas, o regresso ao abismo dos infernos.
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