quinta-feira, junho 08, 2006

Só para reflectir...

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música
e quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio
e quem não se deixa ajudar pelos outros.
Morre lentamente quem se faz escravo dos seus hábitos,
percorrendo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda de marca,
quem não se arrisca a vestir uma nova cor
ou a conversar com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu refúgio.
Morre lentamente quem não é capaz de apaixonar-se,
quem não põe os pontos nos "is",
quem perde o brilho sereno dos olhos
e quem transforma os sorrisos em bocejos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando se sente infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho
e quem não foge, pelo menos uma vez na vida, dos conselhos "sensatos".
Morre lentamente quem passa os dias a queixar-se da sua má sorte
e da chuva que não deixa de cair.
Morre lentamente quem abandona um projecto antes de o iniciar,
quem não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando o interrogam sobre algo que ele sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Pablo Neruda

Apesar dos "apesares" em todas as árvores se podem encontrar alguns bons frutos.
Reparem como ele disse há uns bons anos (décadas até) aquilo que ainda há pouco foi dito por outros... mas com grande escândalo da inteligentzia bem pensante (atentem, por exemplo, no 4º verso... o da televisão).
Debrucem-se também, por exemplo, no sentido do antepenúltimo (sobre as queixinhas)... e reflictamosodos, enquanto Povo, se faz sentido toda a ladaínha da última década, quando alguns usam e abusam da comparação com outros nas remunerações... mas (convenientemente) não o fazem com os preços nem com o esforço e dedicação!
E não esqueçamos o último e façamos uma relação com a "tanga" do discurso dos direitos adquiridos e das mais amplas conquistas sociais... como se o direito não fosse uma consequência do esforço, do mérito, de um querer consequente e em acção.
Este poema de Pablo Neruda (do qual desconheço o título... ou até se o tem) recorda-me um outro de Fernando Pessoa (e que tenho sempre presente nos momentos em que lutar contra as dificuldades e por fazer um bocadinho de diferença no dia-a-dia daqueles com quem, de alguma maneira, contacto):
"Sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?"

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