Juros altos é bom?
"Portugal não gosta do aumento das taxas de juros. Compreende-se. A decisão vem de fora e ataca directamente a carteira de cada um. Mas o país tem razões para apoiar estes aumentos – eles abrem uma possibilidade para disciplinar a economia.
Como? O novo custo do dinheiro pode alterar comportamentos: dos consumidores, do sistema financeiro, das empresas e, muito importante, dos governantes.
Primeiro, os consumidores. Os portugueses gastam acima do que ganham. Vivem endividados, mas têm razões para isso: o dinheiro é tão barato (1000 euros custam cerca de 35 euros mensais) que eles se limitam a responder correctamente a um incentivo - tal como um anúncio de saldos estimula a disponibilidade para comprar. Com dinheiro mais caro, claro, o comportamento altera-se.
Como? Taxas de juro mais altas penalizam a decisão de comprar dinheiro. E há outra virtude nessa mudança de comportamento: corrigirá os excessos do sistema financeiro, o que leva o raciocínio à segunda etapa.
O sistema financeiro responde de forma inversa ao mesmo incentivo – isto é, se há procura de dinheiro, vende-o barato. Como os portugueses não poupam (não têm dinheiro parado que possa ser emprestado), os bancos pedem, também eles, emprestado. Ao estrangeiro. Em números, a banca colocou em circulação cerca de 50% do PIB em dinheiro emprestado. Isto é, há cerca de 80 mil milhões de euros a circular na economia portuguesa que estão por pagar. Com juros. Assim, se os empréstimos baixassem, os bancos pediriam menos dinheiro – fragilizando menos o sistema financeiro (numa crise como a da Argentina, não haveria dinheiro disponível para pagar essa dívida e o sistema faliria).
As empresas apresentam problema diferente. Quando um mercado absorve a maior parte da produção (muito consumo), as empresas tendem a esquecer as exportações. Se esse consumo (pago com dinheiro emprestado) baixar, as mesmas empresas procurarão novos mercados. Além fronteiras. Exportarão, equilibrando de uma vez a doente balança comercial, ao ponto de sonharmos com exportações maiores do que as importações).
Finalmente, os governantes. Com o consumo musculado, a economia nacional vai crescendo. Eles sabem que o dinheiro não existe - mas sabem que nem todos percebem isso. Assim, em cada ano de má performance económica, eram salvos pelo gongo do consumo. Sem ele, seriam obrigados a encontrar as tão faladas reformas estruturais que mexem com a economia. Não teriam desculpas.
Jean-Claude Trichet está certo. As suas decisões, à distância, podem fazer mais pela economia portuguesa do que os esforços do Governo. "
Martim Avillez Figueiredo
Como? O novo custo do dinheiro pode alterar comportamentos: dos consumidores, do sistema financeiro, das empresas e, muito importante, dos governantes.
Primeiro, os consumidores. Os portugueses gastam acima do que ganham. Vivem endividados, mas têm razões para isso: o dinheiro é tão barato (1000 euros custam cerca de 35 euros mensais) que eles se limitam a responder correctamente a um incentivo - tal como um anúncio de saldos estimula a disponibilidade para comprar. Com dinheiro mais caro, claro, o comportamento altera-se.
Como? Taxas de juro mais altas penalizam a decisão de comprar dinheiro. E há outra virtude nessa mudança de comportamento: corrigirá os excessos do sistema financeiro, o que leva o raciocínio à segunda etapa.
O sistema financeiro responde de forma inversa ao mesmo incentivo – isto é, se há procura de dinheiro, vende-o barato. Como os portugueses não poupam (não têm dinheiro parado que possa ser emprestado), os bancos pedem, também eles, emprestado. Ao estrangeiro. Em números, a banca colocou em circulação cerca de 50% do PIB em dinheiro emprestado. Isto é, há cerca de 80 mil milhões de euros a circular na economia portuguesa que estão por pagar. Com juros. Assim, se os empréstimos baixassem, os bancos pediriam menos dinheiro – fragilizando menos o sistema financeiro (numa crise como a da Argentina, não haveria dinheiro disponível para pagar essa dívida e o sistema faliria).
As empresas apresentam problema diferente. Quando um mercado absorve a maior parte da produção (muito consumo), as empresas tendem a esquecer as exportações. Se esse consumo (pago com dinheiro emprestado) baixar, as mesmas empresas procurarão novos mercados. Além fronteiras. Exportarão, equilibrando de uma vez a doente balança comercial, ao ponto de sonharmos com exportações maiores do que as importações).
Finalmente, os governantes. Com o consumo musculado, a economia nacional vai crescendo. Eles sabem que o dinheiro não existe - mas sabem que nem todos percebem isso. Assim, em cada ano de má performance económica, eram salvos pelo gongo do consumo. Sem ele, seriam obrigados a encontrar as tão faladas reformas estruturais que mexem com a economia. Não teriam desculpas.
Jean-Claude Trichet está certo. As suas decisões, à distância, podem fazer mais pela economia portuguesa do que os esforços do Governo. "
Martim Avillez Figueiredo
10 Comments:
O raciocinio está teóricamente certo.Só que falta uma questão fundamental ,no caso português e não só.Os desiquilibrios de produção/consumo, acarretando défices externos,conduzem a desvalorização cambial,o que para nós não existe.O consumo vai animando o Pib e inchando o IVA.Quanto ao endividamento excessivo ,julgo que é uma falácia,que a fuga de 51% ao IRS explica.Os rendimentos reais são muito maiores do que o calculado e a economia tem uma enorme fatia de "subterrâneo".Aumentar juros significa ainda incentivar poupança.Mas ,para quê, dirão os portugueses ,se os bancos obtêm dinheiro fácil lá fora e nos vendem crédito como melões ?.Há que rever os conceitos tradicionais..
Afirmar que o aumento dos juros é benéfico para Portugal é uma grande falácia. Isto porque a economia continua dependente do "monstro" do Estado: subsídios, isenções, benefícios fiscais, etc.. Caso o custo do crédito suba, acho que o principal problema é o vencimento dos juros dos actuais empréstimos: nem as famílias poderão pagar, nem os empresários hão-de conseguir exportar (levando muitas PME s a encerrar) sem a compensação monetária estatal do tempo de crise... E o Estado? Como há-de fazer face a esta diminuição da receita do IVA e aumento dos subsídios (desemprego e afins)? Aumentando mais os impostos? Ou endivida mais o futuro e lança dívida pública a juros mais altos (quem está em má posição negocial tem que se sujeitar)? De qualquer das formas, quem fica prejudicado é o povo português.
A questão é pertinente e merece uma reflexão de muito boa gente.Se o aumento dos juros incita a poupança interna e substitui o endividamento externo pelos recursos financeiros nacionais, parece-me bem. Se o nivel do investimento não for afectado por este aumento, melhor ainda. E se se reduzem as tensões inflacionistas que resultam do dinheiro facil, é o máximo.
Julgo que juros altos não interessam a ninguém.Juros baixos é que é bom. Mas, os juros baixos nas economias europeias, no século XXI, aumentaram fortemente o investimento (com grande dose de especulação) no Imobiliário/Construção e noutros sectores de Serviços mais protegidos da concorrência. Os sectores mais expostos à concorrência internacional (Indústria Transformadora à cabeça) em quase nada beneficiaram dos juros baixos. A deslocalização é um facto, a industrialização de novos países (China e Índia) não pára de crescer. Juros mais altos implicam o encarecimento dos empréstimos contraidos, o aumento das Cobranças Duvidosas e dos Incobráveis, a degradação da Autonomia Fineanceira da Banca...E se o sistema bancário começar a dar sinais de debilidade toda a Economia sofrerá. Não vejo o que podemos ganhar com a subida dos juros.
Pessoalmente, gostaria de partilhar a opinião de que a subida das taxas de juro é boa para Portugal. Se é verdade que a subida do preço do dinheiro vai alterar comportamentos, duvido de que essa alteração seja tão linear e benéfica como a exposta no artigo. Provavelmente, a subida dos juros vai ser boa para uma parte da economia e evidentemente negativa para todos aqueles que se encontram fortemente endividados: empresas, particulares e, também, o Estado. Vai ser certamente mais um tratamento de choque para o país, com resultados incertos. Se o aumento dos juros incentiva a poupança, por outro lado, põe em situação difícil muitos milhares de portugueses com elevadas dívidas à banca, que se verão obrigados a reduzir ainda mais as suas despesas, levando à redução do consumo. Todos aqueles que, desprevenidamente, levaram o seu endividamento ao limite vão rapidamente tomar consciência do esforço que o pagamento das respectivas prestações implica. O crédito mal parado vai certamente aumentar. Para muitos empresários, o mercado externo não será alternativa à redução do consumo interno e muitas empresas, cujo endividamento tem vindo a aumentar, serão eventualmente levadas à falência, com a consequente contribuição para o aumento do desemprego. O mercado imobiliário corre o risco de sofrer uma depressão. Mesmo que este aumento das taxas de juro incentive os governantes a acelerar reformas necessárias, a redução brusca das despesas do Estado pode gerar também alguns efeitos negativos na economia. Por tudo isto, acredito que, embora no futuro possa contribuir para reduzir o endividamento do país, as consequências destes aumentos das taxas juros, no curto prazo, serão muito negativas para a maioria dos portugueses.
Penso que este aumento generalizado pode trazer a Portugal inúmeros problemas sociais nos próximos anos, ao ponto de como foi dito, transportar a tão falada crise para dentro de casas onde hoje nem como convidada é vista, para dentro dos próprios bancos. Estes tem sido co-responsáveis pela situação de endividamento que Portugal vive, aproveitando-se dos juros historicamente baixos e claro de muitas acções de marketing bem planeadas, e cujo conteúdo nada diverge de um qualquer outro produto á venda no mercado. Não podemos de forma nenhuma insinuar que alguém é “obrigado” pela publicidade a contrair empréstimos, mas falemos de outra questão, não deveria pesar na decisão da banca uma consciência social visto ser um sector vital para qualquer economia, não deveria a banca antever estas subidas muito antes de serem anunciadas, e claro mudar também de atitude. Somente uma outra questão, para uma concorrência saudável, e que nos leva-se a uma menor sensação de concentração, penso que era fundamental ser atribuído as mesmas regalias e os mesmo deveres ás diversas instituições bancárias, falo expressamente das estrangeiras a operar em Portugal.
alta da tx juro regula o mercado, mas também "engorda" o sistema financeiro sem contrapartidas para o erário público porque se encarregam de "desviar" os impostos, e empobrece cada vez mais as famílias normais, que são a "classe média empobrecida", uma vez que os pobres ou falsos pobres viviam e vivem de subsídios e os ricos estão cada vez mais ricos.
A dívída das familias,é sobretudo devido à aquisição de habitação e está consolidada há anos. Ela cresce sem que haja correspondente aumento proporcional do consumo. O seu artigo é uma falácia. Como pode ser bom o aumento das taxas de juro? Quanto aos efeitos da subida das taxas de juro nas empresas, gerará maiores problemas ainda. A pressão sobre a procura interna, irá inevitávelmente fazer com que as micro, pequenas e médias empresas(as predominantes no tecido produtivo) irão produzir para o armazém e não para o mercado,e a preços mais elevados. A inexistência de poder aquisitivo é a isso que levará. As exportações não são decididamente a única solução...poderão ser parte, mas não a única. O que é importante é o aliviar da carga fiscal que está a estrangular o investimento produtivo. Mas alguma vez, é no aumento das taxas de juro que as empresas portuguesas irão buscar inspiração, vontade e mercados para exportarem? Quanto ao investimento financeiro, ele vai de vento em popa. Cria mais valias mas não acrescenta valor. Que tal os portugueses adoptarem o pão com manteiga ém detrimento do tradicional bitoque para assim pouparem e evitar que a banca vá buscar dinheiro lá fora? Este artigo é obra.
Os juros altos só são bons para quem tem optimos salarios e algum dinheiro no banco a prazo porque em situação normal que é a da maioria dos portugueses com salarios baixos e desempregados os juros altos acabam co o resto que ainda falta ou seja os poucos portugueses que ainda conseguem pagar a casa ao banco ou o carro e de resto também trava a competitividade portanto não vejo qual o beneficio dos juros altos ,agora devemos sim é não deixar
Manuel,
Se puder, e tiver tempo disponivel, diga-me quem é o tolo, que hoje em dia deposita dinheiro a prazo ??
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Ao juro com que é remunerado, torna-se pouco atrativo, eu diria mesmo um péssimo negócio
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