segunda-feira, agosto 21, 2006

Algarve.


Desde a Antiguidade, foram diversos os povos que habitaram a região Algarvia, salientando-se os Fenícios, Cartagineses, Gregos, Celtas, Romanos, Godos e Árabes. Os Fenícios instalaram-se no Algarve cerca de mil anos antes da era cristã e estabeleceram postos de comércio ao longo da costa, seguindo-se os Cartagineses, que terão fundado Portus Hannibalis (Portimão) por volta de 550 a.C. Muitas são as reminiscências da romanização do Algarve – iniciada no século II a.C. e que se alargaria ao resto da Península Ibérica no século seguinte –, merecendo realce particular as ruínas que podem ser visitadas em Abicada (perto de Portimão) e Vilamoura, para além dos notáveis vestígios da villa de Milreu, em Estoí, nos arredores de Faro. Há cidades em que se multiplicam os testemunhos de uma origem remota e das civilizações que as ocuparam sucessivamente: é o caso de Faro, que poderá dever o seu nome e existência a um farol destinado a orientar os navegantes, instalado a poucos quilómetros da antiga localidade denominada Ossónoba; de Lagos, que, cerca de 2000 a.C., recebeu a designação de Lacóbriga, cujo significado era "povoação do Lago"; de Silves, edificada no Rio Arade pelos Fenícios, por volta de 900 a.C., e que era já importante localidade aquando a chegada dos romanos; de Tavira – a "cidade das 37 igrejas" –, que, com o nome de Talábriga, terá sido fundada cerca de 1890 a.C.

No concelho de Lagoa existem vestígios arqueológicos da Idade do bronze e da presença romana, visigótica e árabe. Nos finais do século V, os Bárbaros invadiram a Europa. No Sul estabeleceram-se os Godos que, mais ou menos cristianizados entretanto, permaneceram no Algarve até ao início da ocupação Árabe, em 711. No ano seguinte, Muce-Ben-Noçair tomou várias povoações, adoptando Silves como sua capital e fazendo desta cidade um importante centro cultural e administrativo. Com a presença muçulmana, as localidades mudam novamente de nome: Tavira, importante centro de comércio, torna-se Tabir; Lagos, conquistada pelos Árabes em 716, passou-se a chamar Zawaia; Faro, ao qual os Cristão haviam dado o nome de Santa Maria, foi rebaptizado com o nome de Faraon, que significa "povoação" de cavaleiros. Da vasta galeria de notáveis figuras do Islão – sobretudo de origem síria, persa, egípcia e berbere – que viveram e morreram no Algarve, destacam-se o historiador Ibne Mozaine, o poeta e escritor Ibne Badrune, o historiador e jurisconsulto Abd-El-Malek, as poetisas xilbia e Miriam, o fílosofo Ibne Caci e o distinto jurista, astrónomo e filósofo Ibne Abide, governador da cidade de Silves.

A região foi designada Al-Gharb – que significava "país do Oriente" – durante a dominação Árabe. Dessa época ficaram-nos lendas maravilhosas que, à margem da História, a memória popular transmitiu de geração para geração. A título de exemplo, poderemos recordar a célebre "lenda das amendoeiras", segundo a qual uma princesa nórdica, recém-casada com um rei árabe, adoeceu gravemente, atormentada pelas saudades das terras cobertas de neve, provocando grande mágoa e tristeza ao marido. Não diz a lenda se este monarca era astito, mas é de presumir que sim, dada a forma engenhosa como resolveu o problema: ordenou que se plantassem milhares de amendoeiras e aguardou o dia em que as árvores floriram, mandando, então, abrir todas as janelas do palácio; ao deparar, surpreendida, com os campos inteiramente cobertos de flores brancas e acreditando estar a ver neve, a princesa curou-se...

A região passou a denominar-se Algarve no século XII, com o fim da ocupação árabe, para o qual contribuiu decisivamente a primeira conquista de Silves, em 1189, pelas tropas do rei D. Sancho I, auxiliado pelos cruzados vindos do Norte da Europa. Opulenta em tesouros e formosas construções, abrigando palácios coroados por terraços de mármore, recortada por ruas com bazares recheados de preciosidades orientais, cercada de pomares e viçosos jardins, Silves - a Chelb dos Àrabes - contava, na época, cerca de 30 000 habitantes. Considerada a pérola de todo o sul, onde muitos homens da Mauritânia vinham gozar os seus ócios, era, também, uma praça-forte importante. No entanto, cercada e privada de água durante várias semanas, a cidade acabaria por render-se. Segundo o acordo previamente assinado em Lisboa, ao rei português caberia a terra conquistada, ficando os Cruzados com o direito de saque.

Após a rendição, D. Sancho I, recordou os seus aliados que queria uma cidade, não uma ruína, chegando até a oferecer-lhes o valor da presa em ouro. A proposta foi, no entanto, recusada, consumando-se a impiedosa pilhagem. Silves ainda seria reconquistada, em 1911, pelos Árabes – que, numa avançada fulminante, chegaram a ameaçar Lisboa, alcançando as fortalezas da margem sul do Tejo –, mas o futuro cristão do Algarve era inevitável: Loulé foi tomada pelas tropas de Paio Peres em 1249 e ao longo de todo o século XIII os Portugueses consolidaram, em definitivo, a posse do território algarvio. É conhecida a contribuição relevante do Algarve para os Descobrimentos portugueses, especialmente depois da fixação do infante D. Henrique em Sagres, sendo numerosos os algarvios – sobretudo da zona de Lagos – que tomaram parte nas grandes expedições marítimas realizadas no século XV. Em 1807, por ocasião da primeira invasão napoleónica, comandada por Junot, o Algarve foi inicialmente ocupado por tropas espanholas sob a chefia de Manuel Godoy, que se auto-intitulava "príncipe da paz" e aspirava ao título de "rei dos Algarves", desejando constituir – em proveito próprio e à revelia da política de Bonaparte – um reino unido do Alentejo ao Algarve. Depressa, porém, os espanhóis cederam lugar às tropas francesas, o que não impediu que, graças à revolta de Olhão (1808), a região algarvia fosse a primeira parcela do território português a ver-se libertada dos invasores.

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