Silêncio e cegueira.
"Conseguem imaginar o debate nacional que seria se três bombeiros, em três situações diferentes, morressem no espaço de dois dias. E se fossem três policias? Conseguem ouvir as vozes que se levantariam, o debate público que se seguiria? E, no entanto, estas são duas profissões que têm naturalmente de lidar com situações de perigo. E a comoção nacional que seria se três taxistas fossem assassinados em pouco menos de 48 horas? Não tenhamos qualquer dúvida de que muito mais tinta correria do que aquela que correu para discutir as mortes de Margarida, Emília ou Anabela. A três morreram aqui em Portugal, em pouco menos de dois dias. Uma regada com gasolina, outra baleada com três tiros e outra esfaqueada. Quase não tiveram tempo de antena, em muitos casos a sua partida foi assinalada com uma breve na coluna dos "casos do dia". E, no entanto, elas são a face extrema de um dos mais graves problemas sociais do nosso país, o que se convencionou chamar violência doméstica ou violência de género. Gente que morre porque, em algum momento, o seu companheiro que , em muitos casos, tem um historial de violência anterior, decidiu ser juiz e executor da pena capital. Vidas ceifadas por ciúme, por despeito, por vingança, enfim, por coisa nenhuma. Perante a brutalidade destes três crimes seguidos a sociedade portuguesa, o poder político, respondeu com o silêncio. Será que estamos cegos e consideramos que as 33 mortes de mulheres pelos seus companheiros o ano passado (uma estatística, por baixo, da Amnistia Internacional) devem ser consideradas normais, aceitáveis? Ou será que o silêncio é exactamente proporcional à falta de empenho político em actuar nesta área? Um problema que campanhas bem direccionadas poderiam minorar, alimentando a condenação da comunidade a esta brutalidade nacional. "
DN
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