O congresso socialista
"O contraste não poderia ser mais brutal. Enquanto o PS fora do Governo se dirige à “geração do recibo verde”, o PS de Sócrates governa para a “geração Google”.
O Outono promete um “Outubro Vermelho”. Mas o primeiro-ministro não se intimida com a agitação na rua. Sócrates lidera um Governo “estável”, “sóbrio e coeso”; um Governo com “sentido de Estado”, “credível” e “determinado”; um Governo com uma “visão de futuro” e animado por um “impulso reformista”. A “palavra-chave” do Governo de Sócrates é a ambição de todos os Governos - a “modernização” de Portugal.
Estas modestas palavras podem ser encontradas na moção ao Congresso do PS intitulada “O Rumo do PS: Modernizar Portugal”, interessante documento que tem como primeiro subscritor o próprio primeiro-ministro. A moção mais parece um relatório e contas da actividade do Governo. Aliás, para Sócrates só existe o Governo. O PS ocupa um lugar recuado nos bastidores, espécie de frente eleitoral do Executivo, e cuja função se resume ao suporte da acção esclarecida do primeiro-ministro. Compreende-se a recusa do líder do PS em discutir questões “doutrinárias” ou “ideológicas”. O projecto de Sócrates é um projecto de poder. E o poder não se discute, preserva-se.
O velho PS sempre entendeu um Congresso partidário como um “fórum de reflexão colectiva sobre a acção governativa e as novas alternativas”. Mas para Sócrates, não existe um PS no Governo e outro fora do Governo. A agenda do Executivo deve marcar o ritmo e o tom da intervenção do PS. No Congresso do “Novo Socialismo” não há lugar para a liturgia cansada de uma Esquerda que um dia sonhou salvar o mundo.
Mas a retórica sentimental estará presente no Congresso Socialista. Em representação do “Clube Margem Esquerda”, a moção intitulada “As Pessoas no Centro das Políticas” bem poderia figurar nos documentos oficiais do Bloco de Esquerda. Um caso interessante parece ser a moção “Solidariedade e Cidadania”, moção que de acordo com alguns analista estará conotada com a “tendência alegrista”. Esta será a moção de um PS fora do Governo. Uma moção alternativa e que denuncia o “capitalismo total” que degenera em “totalitarismo anónimo”; uma moção que renega a “utopia impossível de um enriquecimento individual ilimitado”. O contraste não poderia ser mais brutal. Enquanto o PS fora do Governo se dirige à “geração do recibo verde”, o PS de Sócrates governa para a “geração Google”.
Sócrates promete “modernizar” o PS. Mas “modernizar” o PS implica perturbar a velha hierarquia antifascista, perturbar a velha aristocracia republicana, perturbar a velha galeria dos direitos adquiridos e dos ódios de estimação. Sócrates promete ser o novo Cavaco Socialista. E promete “modernizar” o PS com trabalho e competência. O mesmo trabalho e a mesma competência com que Cavaco Silva dominou o PSD. Imagine-se um PS “moderno” e obediente, garante da “estabilidade governativa” e reduzido à impotência política. Embalado pela doce melodia do poder, o PS parece rendido à ambição do primeiro-ministro – “modernizar” o PS para poder “modernizar” Portugal.
Carlos Marques de Almeida
O Outono promete um “Outubro Vermelho”. Mas o primeiro-ministro não se intimida com a agitação na rua. Sócrates lidera um Governo “estável”, “sóbrio e coeso”; um Governo com “sentido de Estado”, “credível” e “determinado”; um Governo com uma “visão de futuro” e animado por um “impulso reformista”. A “palavra-chave” do Governo de Sócrates é a ambição de todos os Governos - a “modernização” de Portugal.
Estas modestas palavras podem ser encontradas na moção ao Congresso do PS intitulada “O Rumo do PS: Modernizar Portugal”, interessante documento que tem como primeiro subscritor o próprio primeiro-ministro. A moção mais parece um relatório e contas da actividade do Governo. Aliás, para Sócrates só existe o Governo. O PS ocupa um lugar recuado nos bastidores, espécie de frente eleitoral do Executivo, e cuja função se resume ao suporte da acção esclarecida do primeiro-ministro. Compreende-se a recusa do líder do PS em discutir questões “doutrinárias” ou “ideológicas”. O projecto de Sócrates é um projecto de poder. E o poder não se discute, preserva-se.
O velho PS sempre entendeu um Congresso partidário como um “fórum de reflexão colectiva sobre a acção governativa e as novas alternativas”. Mas para Sócrates, não existe um PS no Governo e outro fora do Governo. A agenda do Executivo deve marcar o ritmo e o tom da intervenção do PS. No Congresso do “Novo Socialismo” não há lugar para a liturgia cansada de uma Esquerda que um dia sonhou salvar o mundo.
Mas a retórica sentimental estará presente no Congresso Socialista. Em representação do “Clube Margem Esquerda”, a moção intitulada “As Pessoas no Centro das Políticas” bem poderia figurar nos documentos oficiais do Bloco de Esquerda. Um caso interessante parece ser a moção “Solidariedade e Cidadania”, moção que de acordo com alguns analista estará conotada com a “tendência alegrista”. Esta será a moção de um PS fora do Governo. Uma moção alternativa e que denuncia o “capitalismo total” que degenera em “totalitarismo anónimo”; uma moção que renega a “utopia impossível de um enriquecimento individual ilimitado”. O contraste não poderia ser mais brutal. Enquanto o PS fora do Governo se dirige à “geração do recibo verde”, o PS de Sócrates governa para a “geração Google”.
Sócrates promete “modernizar” o PS. Mas “modernizar” o PS implica perturbar a velha hierarquia antifascista, perturbar a velha aristocracia republicana, perturbar a velha galeria dos direitos adquiridos e dos ódios de estimação. Sócrates promete ser o novo Cavaco Socialista. E promete “modernizar” o PS com trabalho e competência. O mesmo trabalho e a mesma competência com que Cavaco Silva dominou o PSD. Imagine-se um PS “moderno” e obediente, garante da “estabilidade governativa” e reduzido à impotência política. Embalado pela doce melodia do poder, o PS parece rendido à ambição do primeiro-ministro – “modernizar” o PS para poder “modernizar” Portugal.
Carlos Marques de Almeida
5 Comments:
1.Os Estados Europeus e a própria UE-27 têm de enfrentar um conjunto de desafios:promover a mudança de paradigma da economia (conhecimento,inovação,sustentabilidade ambiental), assegurar a solidariedade e o bem estar(combate às novas variantes da tuberculose e às outras doenças transmissíveis de origem não-europeia) num ambiente de segurança do emprego de qualidade (flexi-segurança)e respondendo com eficácia e equilíbrio custos-benefícios a questões como segurança, terrorismo,degradação dos solos,das águas e do meio ambiente. 2.O Sr.Blair mudou o paradigma da Economia do Reino Unido, com o apoio do Povo Britânico, que o compreendeu perfeitamente.Todavia, a inevitável via das reformas e a própria erosão da Governação têm custos.A equipa do sucessor do Sr. Blair, indigitado pelo Labour,é de grande qualidade técnica e tem ainda hipóteses de vencer.Ainda falta muito tempo para as eleições gerais.A própria inflexão do Sr.Cameron mostra bem que a agenda trabalhista era correcta e era compreendida pelo tal Centro que TODOS querem seduzir. 3.Em Portugal, apesar dos sacrifícios pedidos, as sondagens continuam muito favoráveis ao Sr. Eng° Sócrates.E até a Direita reconhece que o Governo está mesmo a governar e a governar bem. 4.Quanto à Segurança Social,toda a gente sabe que, dentro de 10 anos, a esmagadora maioria dos Estados Europeus terão um Sistema mixto, baseado em 2 ou 3 Pilares.Importa ajudar fraternalmente aqueles que POUCO ou NADA descontaram(Pr° da Solidariedade), mas importa também premiar aqueles que descontaram MAIS e durante MAIS TEMPO (Pr° da Equidade).O que não se pode aceitar é AUMENTAR A DÍVIDA a pretexto do financiamento do "período transitório" ou tentar afastar os PARCEIROS SOCIAIS do acompanhamento RIGOROSO E EFECTIVO dos Fundos de Capitalização, geridos por ESPECIALISTAS,segundo as regras habituais de gestão e avaliação de Fundos.
A existência de partidos políticos, no contexto actual, não tem razão de ser pois de simples agrupamento privado e associativo com um projecto para a sociedade, passaram a ser autênticas máquinas de assalto do poder a qualquer preço ou custo para a sociedade. É a partidocracia no seu melhor mandando ás malvas valores éticos, democráticos e republicanos em que palavras como "Igualdade, Fraternidade e Solidariedade" são usadas no discurso político tal como se usa o papel higiénico!Usar num momento e deitá-las fora de seguida para irem parar a alguma depuradoura para serem recicladas!
E quais são afinal as marcas ideológicas do PS do Engº Sócrates? Não faz ele tudo igual ao que os últimos governos então apelidados "de direita" pelo sr. Coelho quiseram (sem sucesso) fazer?
O Socialismo é a 1ª. fase para o comunismo e caracteriza-se pela socialização dos meios de produção. A fase seguinte é a socialização dos meios de consumo. Não sei onde incluir aqui os previlégios e os condomínios privados. Não é Camarada Coelho?
Diz Jorge Coelho "É o conceito do modelo de sociedade que tem que estar em causa na escolha e não somente a orientação de uma política ou outra. Foi isso que se fez com o acordo assinado com os parceiros sociais na última terça-feira sobre a Reforma da Segurança Social. Não se transigiu, não se negociou o que é inegociável." ____________________ Presumo que o Senhor Jorge Coelho nem sequer imagine que por acaso esse acordo hipotecou as minhas hipóteses de ter um futuro minimamente digno, pois como comecei a trabalhar e a fazer descontos relativamente tarde (aos 27 anos de idade) e estive 3 anos desempregado, nunca poderei atingir os 40 anos de descontos. Feitas as contas, a reforma que vou auferir (se não houver mais nenhum corte até lá) mal vai chegar para pagar o imposto municipal sobre imóveis (vulgo IMI)que na altura será cobrado pela casa que entretanto adquiri e que julgava ser o meu refúgio futuro. Agora sei que não tenho futuro, a menos que haja alguma alteração à politica do IMI que crie isenções para reformados e desempregados de longa duração. O que sinceramente duvido que venha a acontecer. O que importa reter -e que julgo que ainda ninguém do actual governo ponderou seriamente sobre isso- é que o acordo da redução das pensões juntamente com a lei das rendas e a lei do IMI torna-se numa alquimia muito perigosa que literalmente vai empurrar para a rua milhares de reformados no futuro a médio e longo prazo. É por isso que neste momento -e pela primeira vez na vida- me sinto terrivelmente injustiçado e desgostoso por ser português. E não serei o único a ter este tipo de sentimentos.
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