Rebeldes sem juízo
"O ‘jornalismo de causas’, porém, não visa apenas dramatizar os acontecimentos. Depende das causas, e dos acontecimentos (...).
Após uma viagem de reconhecimento ao Sul do Líbano, o tenente-coronel Firme Gaspar confessou-se espantado. Em Beirute, “achava que ia ver um grau de destruição maciço”. Não viu. E Tiro, a 80 quilómetros, pareceu--lhe uma cidade “normal”. Engraçado. Ainda há meses, durante o conflito entre Israel e o Hezbollah, as áreas em questão estavam comprovadamente arrasadas, pelo menos nas fotografias tratadas em computador, nas filmagens guiadas por terroristas e no verbo angustiado de inúmeros repórteres. Como o tenente-coronel Gaspar pôde constatar, uma das vítimas da guerra foi a informação: o Líbano não foi tão bombardeado por Israel quanto pelo ‘jornalismo de causas’.
Um dos seus cultores indígenas, Baptista-Bastos, definiu-o uma vez com franqueza: no ‘jornalismo de causas’ não há factos. No máximo, há uns pedaços de realidade que se contorcem, exageram ou censuram de acordo com simpatias e objectivos. Talvez esta liberdade de movimentos explique o extraordinário sucesso do género. Hoje, principalmente em certos órgãos dos media, é difícil seguirmos um relato de circunstância sem catar, nas entrelinhas, aquilo que a criatividade do ‘jornalista’ decidiu acrescentar ou apagar.
A título de exemplo recente, note-se o modo utilizado pela TSF para contar o sucedido, anteontem, no Paquistão. Para a TSF, só está garantido que o exército local atacou uma “escola corânica” e matou 80 pessoas. O resto permanece nebuloso: a zona é “supostamente” um campo de terroristas, os mortos são “alegados militantes islamitas”, e um deles é um “alegado comandante taliban”. Em nome do rigor, a TSF (ou a agência onde a TSF se inspirou) mantém evidentes reservas à “versão oficial”, embora acolha de braços abertos as diversas testemunhas, alegadas ou não, que a desmentem.
O ‘jornalismo de causas’, porém, não visa apenas dramatizar os acontecimentos. Depende das causas, e dos acontecimentos: é verdade que qual- quer espirro dos EUA e de Israel significa, inevitavelmente, um massacre atroz. Mas as acções contrárias ao ‘sistema’, digamos, são diminuídas até à insignificância. Há dias, em Marselha, o incêndio de um autocarro, que carbonizou uma mulher, foi vastamente apelidado de “incidente”. Aliás, toda a baderna que regularmente anima a França é “incidental”, adjectivo que isenta de culpas os perpetradores, os quais são movidos pela melancolia dos subúrbios e, no fundo, nem fazem de propósito.
É preciso uma estupidez considerável para alguém pegar fogo a um carro e espantar-se que ele arda. Não sendo má-fé, é preciso uma estupidez maior para, em 30 segundos de ‘telejornal’, o correspondente de serviço inocentar sumariamente os respectivos criminosos. Donde não admira que as causas sejam quase sempre as mesmas: desde a defesa tonta das vacuidades ‘fracturantes’ à legitimação, mais subtil e bastante mais grave, do terrorismo e do crime, o terreno do ‘jornalismo de causas’ é propício à angariação de jornalistas imbecis. Ou de alegados jornalistas, e comprovadíssimos imbecis."
Alberto Gonçalves
Após uma viagem de reconhecimento ao Sul do Líbano, o tenente-coronel Firme Gaspar confessou-se espantado. Em Beirute, “achava que ia ver um grau de destruição maciço”. Não viu. E Tiro, a 80 quilómetros, pareceu--lhe uma cidade “normal”. Engraçado. Ainda há meses, durante o conflito entre Israel e o Hezbollah, as áreas em questão estavam comprovadamente arrasadas, pelo menos nas fotografias tratadas em computador, nas filmagens guiadas por terroristas e no verbo angustiado de inúmeros repórteres. Como o tenente-coronel Gaspar pôde constatar, uma das vítimas da guerra foi a informação: o Líbano não foi tão bombardeado por Israel quanto pelo ‘jornalismo de causas’.
Um dos seus cultores indígenas, Baptista-Bastos, definiu-o uma vez com franqueza: no ‘jornalismo de causas’ não há factos. No máximo, há uns pedaços de realidade que se contorcem, exageram ou censuram de acordo com simpatias e objectivos. Talvez esta liberdade de movimentos explique o extraordinário sucesso do género. Hoje, principalmente em certos órgãos dos media, é difícil seguirmos um relato de circunstância sem catar, nas entrelinhas, aquilo que a criatividade do ‘jornalista’ decidiu acrescentar ou apagar.
A título de exemplo recente, note-se o modo utilizado pela TSF para contar o sucedido, anteontem, no Paquistão. Para a TSF, só está garantido que o exército local atacou uma “escola corânica” e matou 80 pessoas. O resto permanece nebuloso: a zona é “supostamente” um campo de terroristas, os mortos são “alegados militantes islamitas”, e um deles é um “alegado comandante taliban”. Em nome do rigor, a TSF (ou a agência onde a TSF se inspirou) mantém evidentes reservas à “versão oficial”, embora acolha de braços abertos as diversas testemunhas, alegadas ou não, que a desmentem.
O ‘jornalismo de causas’, porém, não visa apenas dramatizar os acontecimentos. Depende das causas, e dos acontecimentos: é verdade que qual- quer espirro dos EUA e de Israel significa, inevitavelmente, um massacre atroz. Mas as acções contrárias ao ‘sistema’, digamos, são diminuídas até à insignificância. Há dias, em Marselha, o incêndio de um autocarro, que carbonizou uma mulher, foi vastamente apelidado de “incidente”. Aliás, toda a baderna que regularmente anima a França é “incidental”, adjectivo que isenta de culpas os perpetradores, os quais são movidos pela melancolia dos subúrbios e, no fundo, nem fazem de propósito.
É preciso uma estupidez considerável para alguém pegar fogo a um carro e espantar-se que ele arda. Não sendo má-fé, é preciso uma estupidez maior para, em 30 segundos de ‘telejornal’, o correspondente de serviço inocentar sumariamente os respectivos criminosos. Donde não admira que as causas sejam quase sempre as mesmas: desde a defesa tonta das vacuidades ‘fracturantes’ à legitimação, mais subtil e bastante mais grave, do terrorismo e do crime, o terreno do ‘jornalismo de causas’ é propício à angariação de jornalistas imbecis. Ou de alegados jornalistas, e comprovadíssimos imbecis."
Alberto Gonçalves
2 Comments:
Um exemplo da distorcao da realidade por motivos ideologicos sao os rabiscos de um tal mangoelas (multipla personalidade)islamo-fascista e pregador do odio aos judeus.
O que vale e que aquilo nao faz eco por andar as moscas. Por isso foi mais uma vez chatear o forum do expresso.
"...lançou-me algumas Farpas about fotos e copys que no entender dele afastam novos membros
E como analiso e faço analise de coments acho que o problema nem está aí
Porque ?
Tenho na secção Sultura artigos colocados no Diario de leiria que me demoraram mais de 8 dias a compor cada um ...e com informações interessantes
POISSSSSSSSSSSSSSS
Só que ninguem lhe passou por cima mas ao largo
Porque ?
porque numa mesa de dialogo tem que haver um dialecto proprio ...curto seco ...ironico ..actuante ...actual
e about Fotos ?
Aí eu pergunto na minha banca de jornais o que se vende mais
REVISTAS femininas numa proporção de 1 para X
porque ?
Porque tem muitas fotos muitos vestidos muitas casas muitas pessoas interessantes
A intelectualidade não vende
O jornal mais lido em Portugal é a BOLA
Acho que ate o ECO conseguiu triunfar nos objectivos
Não sou administrativo porque isso ...bla bla....
mas seria fácil agarrar em x e Y meter aqui umas doses valente de má língua e ter a casa cheia
Uma tasca a abarrotar com uma vozeirão onde todos.. berravam a sua verdade
e pronto ja temnho a minha mesa no expresso
A tasaca do Tio Abilio patanisca e vinho tinto "
O verme vai chatear o expresso mais uma vez.
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