Politicamente correcto?

"O JN de ontem trazia na última página uma notícia da correspondente de Londres, curiosíssima em muitas empresas britânicas, as decorações de Natal estão a ser banidas como forma de não ofender outras culturas. Seguramente, não há nada de mais politicamente correcto do que uma coisa destas, mas não deixa de ser uma notícia chocante. O essencial das relações entre culturas é que umas não agridam outras, entendendo-se por agressão a criação de condições que aniquilem qualquer expressão da outra. Não se agredirem e respeitarem-se. É em nome desse respeito, por exemplo, que não bebemos álcool se viajarmos para um país árabe.

Seria por isso natural que , em Londres, apesar de toda a multicultura - e até por causa disso mesmo, dessa variedade -, o Natal continuasse a ser Natal, com música na rua, decorações nas lojas, armazéns, bancos e restaurantes. É um espírito a que nem todos aderem, é certo, mas não deveria vir mal ao mundo por isso. Matamos o espírito de Natal apenas pelo medo que está instalado - e o medo está cada vez mais instalado no Ocidente . Suprimir o Natal, no que ele tem de sinal exterior - por sinal não religioso e até muito comercial - é uma estupidez tão grande como, em Paris, em nome da República laica, se proibir o lenço na cabeça às jovens islâmicas, nas escolas.

Podemos nós, ocidentais, cristãos ou não, praticantes ou não , crentes ou ateus, recuar, recuar, em nome da segurança. Perderemos as nossas tradições. Se o medo aumentar adoptaremos até, quem sabe?, as tradições dos outros. Mas não será por isso que teremos um mundo melhor, mais seguro, onde apeteça - e se consiga -viver melhor."

José Leite