Viver e morrer em Odemira.
"Não gosto de esconder factos aos leitores. Nasci, tenho família e amigos em Odemira. Conheço os locais onde morreram António Oliveira e Fernando Santos, a geografia do concelho, os meios dos bombeiros e a sua dedicação à missão humanitária, as carências do Centro de Saúde. Por isso sinto a autoridade suficiente para dizer que aqueles são apenas as vítimas mais tragicamente conhecidos de uma catástrofe que há anos se repete em Odemira e que é a quase total ausência de meios materiais e humanos na área da saúde. Não há meios de emergência médica, não há médicos, não há equipamentos, não há especialistas, não há nada! Os hospitais mais próximos são os de Beja e Setúbal, que ficam a 100 e 150 quilómetros. Morre-se em Odemira por falta de assistência na estrada ou nas praias mas também se morre porque uma consulta de cardiologia em Beja pode nunca acontecer ou já muito tarde. É isso que costuma acontecer aos mais idosos em Odemira, assistidos em Beja e mandados para casa morrer. Viver em Odemira é muito difícil mas morrer é escandalosamente fácil. E é mais escandaloso que em parte isso fique a dever-se ao facto de ali viver pouca gente, ou seja, poucos votos, escassa ou nenhuma capacidade de influência social e política junto dos governos. Como, aliás, se tem visto nos últimos dias ouvindo o que dizem tanto o ministro da Saúde como alguns altos responsáveis pela emergência médica."
Eduardo Dâmaso no DN
Eduardo Dâmaso no DN
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