sexta-feira, fevereiro 09, 2007

As distorções do “Sim”

"Um Governo responsável deveria ter por objectivo, ao invés, a redução do número de abortos, pondo no topo da sua agenda a dinamização do Planeamento Familiar. Já tive ocasião de aqui escrever, aquando da aprovação da proposta de referendo do aborto, que o ano político tinha começado da pior maneira. Sustentei então, ‘brevitatis causa’, (i). que esta questão está longe de ser prioritária para o país, (ii). que teve lugar um referendo sobre a mesma matéria há relativamente pouco tempo (em Junho de 1998) e, sobretudo, (iii). que no dealbar do século XXI, no “Mundo da ecografia” e depois da identificação do genoma humano no próprio feto – traço identitário único que o acompanhará durante o resto da vida –, a liberalização do aborto seria totalmente incompreensível.

Mantendo, obviamente, tudo o que então escrevi, em razão da cada vez maior evidência científica de vida humana no feto, não posso deixar de assinalar algumas distorções que tenho ouvido do lado dos apoiantes do aborto livre.

Para começar, li incrédulo na imprensa que os partidos da Esquerda considerar-se-ão derrotados caso o “Não” vença no referendo do próximo dia 11. Ocorre-me perguntar se há, por acaso, alguma eleição de que não nos tenham dado o devido conhecimento. Do mesmo modo, pergunto se, porventura, estaremos perante uma questão partidária. Pelos vistos, nem sobre este tema a Esquerda consegue abstrair-se da sua mundividência progressista-liberal. Passo contínuo, exerce uma inadmissível chantagem sobre os seus próprios militantes e sobre o seu universo de simpatizantes.

Depois, vieram alguns dos nossos actuais governantes, ministros do PS, apelar, alto e bom som, ao voto no “Sim” uma vez que é uma “vergonha nacional o aborto clandestino”. Descodificando: a forma de combater o aborto clandestino faz-se, para o PS, por via da legalização do aborto. Sempre pensei que um Governo responsável deveria ter por objectivo, ao invés, a redução do número de abortos, pondo no topo da sua agenda a dinamização do Planeamento Familiar e um financiamento capaz dos Centros de Apoio à Vida.

Um outro argumento que tem vindo a ganhar corpo nas hostes do “Sim”, radica na pretensa falta de consciência e de dor de um feto com 10 semanas. Admitindo que esta asserção é correcta, embora haja estudos que a infirmam, interrogo-me onde este perigoso – e para além do mais relativo – argumento nos pode conduzir enquanto sociedade. Neste plano, não será ocioso recordar alguns dados científicos, estes sim pacíficos, sobre um feto que já cumpriu um quarto da sua vida intra-uterina, a saber: já possui, e encontra-se em desenvolvimento, o respectivo sistema nervoso central (desde as 3 semanas), já dispõe de actividade cerebral (registável em equipamentos específicos para o efeito), e já tem, inclusivamente, impressões digitais. Se a tudo isto juntarmos um código genético único, parece-me insofismável que às 10 semanas já existe um ser humano em desenvolvimento e absolutamente irrepetível. Ainda precisará de consciência e de sensibilidade à dor - e não dou de barato que assim seja - para ser legalmente protegido? Convenhamos que não faz sentido.

Finalmente, os apoiantes do “Sim” têm-se proclamado, em uníssono, contra o aborto, adiantando que o problema fundamental reside na prisão das mulheres que abortam. Com franqueza, parece-me que incorrem num contra-senso. Ao dizerem que são contra o aborto, e acredito que o digam de forma séria, é porque reconhecem que há uma vida (ou um “projecto de vida”, para alguns) e, sendo assim, não pode deixar de haver uma tutela legal. Poderá ser penal ou outra, mas recordo que não é isso que está em causa neste referendo, porquanto, caso o “Sim” saia vencedor, o aborto até às 10 semanas de gravidez deixará de estar tutelado, seja de que forma for.

De resto, consagrando a nossa Lei Fundamental, ‘expressis verbis’, a inviolabilidade da vida humana, e sendo hoje, convenhamos, indiscutível que há vida humana em desenvolvimento num feto de 10 semanas, não julgo defensável uma solução legitimadora do aborto livre como aquela que, caso o “Sim” prevalecesse no referendo, seria implementada no nosso país
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Pedro Melo

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois,,, mas os liberais e neomalthusianos preferem (mesmo em deficite demografico) intervir na natalidade do que na produção e distribuição da riqueza!!! são por isso conservadores no plano económico e reacionários no plano politico...com lábia pretensamente progressista... o futuro que apregoam é o da manutenção e não o da produção e distribuição da riqueza... com 25000€ de subsidio, como na Alemanha, quem abortaria?

sexta-feira, fevereiro 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Quando se assiste às intervenções dos representantes dos partidos-PS BE e PCP- que elegeram a IVG como uma questão partidária pasma-se e fica-se ainda com esperança que o NÃO, ou seja, aqueles que votarão como eu a favor da vida ainda será maioritário, porque os cidadãos filiados em partidos ainda são, felizmente, minoritários. E digo felizmente porque os "boys" aumentariam e sempre que houvesse mudança de governo os contribuintes teriam que pagar maiores indemnizações para a substituição dos "jogadores" que maioritariamente nem sabem jogar, e que vão empolar a FP e a massa salarial e o "monstro", especialmente pela enormidade da cabeça, continua a "devorar" o progresso do país.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007  

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