quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Política da vida

"A ausência de apoios resulta da incapacidade de afectar bem os recursos públicos e não da sua escassez. O recente referendo sobre a IVG teve o mérito de mostrar que a sociedade portuguesa é capaz de se mobilizar por valores e opções fundamentais, ultrapassando em muito as fronteiras das máquinas partidárias o que, aliás, foi especialmente notório do lado do “não” já que a esmagadora maioria dos mais de 1.5 milhão dos seus votantes não se relacionava com o único partido que fez campanha pelo “não”.

Apurados os resultados, emerge como preocupação imediata a preparação de legislação e a sua aplicação de modo a respeitar os objectivos que, aliás, foram reafirmados como consensuais ao longo da campanha – evitar o aborto clandestino e a penalização das mulheres sem promover a liberalização do aborto – mas estou certo de que urge colocar também uma questão menos imediata, mas não menos essencial ao nosso país: a política de apoio à natalidade.

Infelizmente, Portugal apresenta uma das mais baixas taxas de natalidade da Europa (abaixo de França, Países Baixos ou Suécia), sendo fácil compreender esta evolução atendendo às imensas dificuldades económicas associadas aos cuidados exigidos por mais um filho. Recordo-me de, cerca de 1970, as análises demográficas que fazia para o planeamento educativo basearem-se em quase 200 000 nados-vivos anuais enquanto que, actualmente, estamos próximos dos 110 000, apesar do aumento de população. As boas práticas de outros países europeus, desde França aos nórdicos, ensinam-nos que é especialmente crítico o apoio público ao nascimento e aos primeiros 3 anos de vida, idade a partir da qual o pré-escolar deve começar a complementar a educação familiar.

Como é evidente, o argumento contrário baseia-se na necessidade de não aumentar a despesa pública mas é fácil mostrar que o simples ajustamento da política de subsidiação permite acomodar este objectivo já que envolve menos de 10% do orçamento anual dos subsídios sociais. Ou seja, a ausência de apoios resulta da incapacidade de afectar bem os recursos públicos e não da sua escassez.

Esta questão é grave também em termos económicos porque receio que a inércia e o tradicionalismo procurem continuar a fazer crer que é possível desenvolver o país com baixíssima natalidade, reduzindo a imigração e mantendo os benefícios sociais, designadamente para os mais idosos e doentes. Ora, por muito que custe aos nossos políticos menos esclarecidos, esta equação não é resolúvel; ou se aumenta a natalidade, ou cresce a imigração ou se diminui a factura social. Há que escolher.

Consequentemente, importa que os movimentos de cidadãos que se empenharam no referendo, promovam agora iniciativas a favor duma política da vida, criando sistemas de apoio ao nascimento e aos 3 primeiros anos, já que, até agora, os partidos políticos não tiveram tal iniciativa.

Dirigentes do “não” já se manifestaram neste sentido pelo que convirá que os do “sim” não revelem menor empenhamento a favor do apoio a uma política de vida
."

Luís Valadares Tavares

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é,infelizmente as boas intenções são para quem tem dinheiro . Uma vida leva vinte a trinta anos a estar pronta para o circuito económico,enquanto so politicos são eleitos por quatro anos.

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Totalmente de acordo! Visão clara! Agora urge analisar como é que um jovem casal que queira ter um filho ou mais corra o risco de perder o emprego, ou perder metade do nível de vida habitual?? Como é possível que com o valor médio de salário actual, para aquisição (ou aluguer que é igual em termos de custo) leve 40 ou mais anos a amortizar? Não deverá cair o Carmo e a Trindade se os bancos tiverem lucros similares aos congéneres internacionais (com os níveis actuais, o estado ganhará em intervir nesta área), ou usem as mais valias para capital semente ou de risco... (Que também não fazem, não é seguro). Assim não iremos lá não...

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com a ideia de subsidiar a natalidade. Aliás outros paises europeus já estão a seguir essa via (a Alemanha recentemente). Mas queria aproveitar tambem para chamar a atenção para outra realidade que toda a gente parece querer ignorar: a imigração ou, se não gostam do termo, a mobilidade das pessoas na procura de emprego e de condiçoes mínimas de vida. Os "cayucos" que todas as semanas chegam às Canárias chegam a demorar 2 e + semanas na travessia. 20% morrem no mar. Ha aqui uma "força" dificil de controlar. Os muros dão para Ceuta e Melilla mas duvido que dêm para o Sul dos EUA. Contem com a imigração nas prox. décadas.

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

1.O Sr. sabe perfeitamente quais quais são as tendencias da nossa evolução demográfica e quais serão as suas consequências no médio/longo prazo . 2.Com todo o respeito pelos Voluntários e Organizações que generosamente apoiam no terreno as Mulheres Grávidas Pobres, criar, educar/formar e INTEGRAR NO FUTURO MERCADO DO TRABALHO Pessoas é muito mais que doar alcofas,latas de leite para bébé,fraldas, e alojar por um curto período de tempo uma infima parte das Mulheres Grávidas Pobres e Desamparadas. 3.Numa Sociedade Pobre,Precarizada,em Crise(em mudança acelerada), ser MÃE é um acto de HEROISMO.A Sociedade Civil (num dos Estados com mais assimetrias de rendimentos da UE-27)é fraca e pouco organizada e o ESTADO não fornece as Creches, os infantários e os apoios necessários à às Mães Solteiras, às Mães-Criança Excluídas e às Mães Desempregadas. 4.Seria um SINAL POSITIVO a concessão pelas Autarquias,Regiões e Estado Central de INCENTIVOS FINANCEIROS às futuras Mães e às Mães de Famílias Numerosas, RESIDENTES no Território Nacional,independentemente da sua origem ou nacionalidade, AO MENOS DE VALOR IGUAL À DESPESA PROVOCADA por uma IVG num estabelecimento digno.

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Para além de uma cultura hedonista que avança e conflitua com o assumir responsabilidades para com os filhos durante, pelo menos, 25 anos, há um problema muito concreto que geralmente anda afastado desta discussão: pura e simplesmente a falta de dinheiro e a insegurança no trabalho que muitos consideram uma grande aquisição civilizacional. A maioria dos casais que compra um apartamento, paga a prestação do carro e a creche de um filho, no fim do mês anda a contar os tostões se tostões houver. O Estado pode e deve ajudar alguma coisa, se puder, através de creches e jardins infantis em quantidade e qualidade aceitáveis. Mas nas actuais circuntâncias poderá? Tenho ouvido muita demagogia particularmente dos adeptos do NÂO ao aborto. Só gostaria de ter a estatística de quantos filhos, em média, têm essas senhoras e esses senhores. Aliás só aparentemente a questão do aborto e da natalidade estão associadas. Quem quer abortar aborta sempre quer seja legal quer seja ilegal.

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

enquanto os economistas de todo o mundo não forem fazer contas para a Sibéria, a corrida ao ouro nunca terá fim: 10% arrecadarão tudo e os restantes...arrecadarão nada! E deste modo, o pessoal viverá eternamente feliz...até que o último infeliz vista a sua casaca de macacaúba!

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

No jogo, Presente 0 Futuro -1, ganharam os Neoliberais versus neomalthusianos, isto é a opção intervir na natalidade sobrepos-se à proposta intervir na produção e DISTRIBUIÇÃO da riqueza(...os recursos públicos e não a sua escassez)Os malthusianos não têm uma visão optimista da demografia, nem da técnica, nem da economia... por isso não inteveem na distribuição da riqueza( a afectação dos recursos)sendo por isso economicamente conservadores e por via, politicamente reacionários porque abdicam de transformar para conservar... não está à espera de 25 000€ de subsidio como na Alemanha... já chegava nos contentavamos com um abono de familia, digno do nome... e acesso com o mesmo cheque do aborto à clinica privada para compensação da maternidade fechada...

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Se ou meus pais tivessem pensado em ter 1° o carro, depois a casa, depois a tal "estabilidade" de trabalho (instabilidade sempre houve no privado), eu hoje nao estaria aqui a "contribuir" para a sociedade....antigamente a roupa passava de uns para outros, assim como os livros escolares, faziamos nós os nossos proprios brinquedos, os "teatrinhos", liamos muito mais do que FELIZES, mesmo sem carro dos papás, sem "montes" de brinquedos, sem férias paradisiacas,porque havia o "amor" dos pais e eles também eram felizes, nós eramos a sua maior RIQUEZA.Concordo plenamente com o Prof : é preciso investir em politicas de natalidade.

domingo, fevereiro 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

---» Existem DOIS tipos de europeus:
-1- (uma minoria) Aqueles que aceitam pagar os elevadíssimos custos de Renovação demográfica;
-2- (a maioria -> os imigrantes-lovers) Aqueles que pretendem andar no planeta a curtir abundância de mão-de-obra servil, e a curtir a existência de alguém que pague as Pensões de Reforma... apesar de... nem sequer constituírem uma sociedade aonde se procede à Renovação Demográfica!!!

DE FACTO:
---» Criar um adulto (a trabalhar e a pagar impostos) fica caríssimo: para além dos incentivos à natalidade [um exemplo: o Estado alemão, desde Janeiro de 2006, está a dar 25 mil euros a cada mulher que tenha um filho], são anos e mais anos com elevadíssimos custos em Saúde e Educação...

ABRAM OS OLHOS E DEPRESSA: Antes que seja tarde demais, é urgente reivindicar o legítimo Direito ao SEPARATISMO .


NOTA:
---» Existem todas as condições para o Separatismo vingar na Europa!!!
---» Será a luta entre:
- a DIGNIDADE (aqueles que aceitam pagar os Custos de Renovação Demográfica);
- e o PARASITISMO (aqueles que pretendem andar a curtir... sem pagar os Custos de Renovação Demográfica).

quarta-feira, fevereiro 21, 2007  

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