domingo, março 11, 2007

Endireitas

"Não se conhece registo de um líder da oposição forte sem um Governo fraco. Se se apressar, talvez chegue a tempo aos Estados Gerais da Direita, que decorrem hoje na Faculdade de Direito de Lisboa. Mas duvido que consiga lugar. Não é todos os dias que sucede entre nós um evento desta dimensão, para cúmulo organizado pela No-va Democracia do dr. Monteiro e beneficiando de teóricos que vão de Pedro Abrunhosa ao dr. Monteiro. Se a direita não for repensada hoje, não sei quando o será.

Todos os dias, colunas, debates e palestras (sem a importância dos Estados Gerais, note-se) alertam o público para a necessidade de a direita encontrar um rumo e uma serventia. O caso é grave? Consta que sim. Uma destas noites, ao jantar, dois amigos versados na matéria provaram-me, com contas e gráficos, que o PSD, por exemplo, nunca viveu uma catástrofe assim. Pelo menos desde a anterior ocasião em que deixara o Governo.

Sempre que desce à oposição, o PSD entra em crise irresolúvel e aparentemente inédita. Em idênticas circunstâncias, o PS também. À semelhança do que acontece nos desgostos passionais, cada calamidade parece ser a primeira e de cada vez ameaça ser a fatal: no amor e na política não se aprende nada. Das bases ao topo, a amnésia leva ao pânico e o pânico leva à criatividade nos remédios.

Os místicos receitam um salvador, mas Salvador é a capital da Bahia, Menezes, Borges e Aguiar Branco são ficções e Cavaco mesmo de longe não está disponível para patrocinar aventuras. A avaliar pela recente sondagem do CM, Cavaco está, e certamente com todo o prazer, nas graças do eleitorado em peso, proeza que o prometido livro acerca do papel presidencial deverá, por omissão, explicar. Depois, há quem prescreva uns retoques na ideologia, como se em algum momento o PSD tivesse tido uma. E há quem recomende “estratégia”, como se a sofisticada estratégia de Sócrates não tivesse sido Santana Lopes.

Este é o ponto: não se conhece registo de um líder da oposição forte sem um Governo fraco (fraco: mau o actual já é). Por enquanto, Marques Mendes (ou qualquer no posto dele) pode escrever discursos de Gettysburg de hora em hora ou fazer o pino no Rossio que os resultados serão pouco diferentes. Mais do que de retórica ou cambalhotas, o PSD precisa de paciência, paciência para esperar pela inevitável desgraça de Sócrates como outros esperaram pelo ‘buzinão’ de Cavaco, pelo ‘pântano’ de Guterres, por Santana em geral
."

Alberto Gonçalves

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