sexta-feira, março 02, 2007

A verdade da mentira

"A possibilidade de um confronto militar directo entre os EUA e o Irão regressou à ordem do dia. Para a administração norte-americana, o Irão com as segundas maiores reservas mundiais de gás natural e as terceiras maiores de petróleo, não pretende obter urânio enriquecido para produzir energia mas para conseguir um arsenal nuclear.

Alguns consideram improvável um ataque preventivo, relembrando que tal obrigaria a um grande reforço do contingente militar americano no Golfo Pérsico e que o impopular George W. Bush não parece ter condições políticas para impor o detestado serviço militar obrigatório.

Outros, como Timothy Garton Ash ou os editorialistas da Economist, supõem que a possibilidade de uma acção preventiva americana é tão perigosamente real que inverteram a ordem de prioridades: primeiro é preciso impedir os EUA de bombardear o Irão e só depois (tentar) dissuadir o regime iraniano de obter armamento nuclear. Jacques Chirac, que no apogeu da senilidade política revela uma predilecção inesperada pelo burlesco, sugeriu que “uma ou duas” bombas nucleares nas mãos de Ahmadinejad – essa alma atormentada por visões apocalípticas – seriam razoavelmente inofensivas. Aparentemente o ainda presidente francês ignora que só o reactor de Bushehr tem capacidade para produzir o plutónio suficiente para fabricar trinta ogivas nucleares por ano.

É óbvio que o interesse iraniano na tecnologia nuclear excede a produção de energia. No entanto ninguém parece muito inclinado a considerar a possibilidade da mentira ter um fundamento de verdade: desde 1980 que o crescimento do consumo de energia no Irão (6,4% em taxa média anual) excede o crescimento da oferta (5,6% ao ano). Como resultado, a fracção exportável da produção tende a diminuir: as projecções disponíveis sugerem que o Irão poderá ser um importador líquido de combustíveis no prazo de 10 a 20 anos.

A principal explicação é a crescente decadência da indústria petrolífera iraniana: 6% da produção anual perde-se devido a fugas na extracção, armazenamento e transporte de petróleo – o equivalente a 76% do consumo português. Algumas estimativas sugerem que se não houver uma melhoria substancial das condições técnicas de exploração a produção de crude iraniano poderá decrescer a uma taxa média anual de 5% durante a próxima década.

Modernizar a indústria petrolífera persa exige investimentos vultuosos, com desfasamentos de operacionalização de vários anos. Mas a proibição constitucional à detenção de propriedade por estrangeiros somada à corrupção generalizada desincentiva o investimento externo e faz com que as empresas internacionais adiem, ou simplesmente desistam dos projectos de exploração petrolífera no Irão.

As dificuldades de refinação levam o Irão a exportar petróleo em bruto e a importar combustíveis refinados. O preço de venda do litro de gasolina cobre apenas 16% do custo: o diferencial é suportado pelo Estado, através de um esquema ruinoso de subsídios, que em 2006 atingiu 10,2% do PIB iraniano. O custo fiscal do esquema é insustentável e o governo iraniano já anunciou medidas de racionamento.

O fim inevitável da subsidiação da energia é o prazo de validade política para Ahmadinejad, cuja popularidade já é consideravelmente menor, mas não resolve o problema de segurança colocado pelo programa nuclear iraniano, que é um objectivo do regime, não um projecto pessoal do presidente iraniano.

A possibilidade de uma acção militar contra o Irão aumenta o risco político do investimento (quanto mais credível for a ameaça, menor será a necessidade da sua concretização) e a pressão americana sobre outros governos e empresas internacionais acelera a degradação do sector petrolífero. A economia iraniana, que depende crucialmente das receitas de exportação de energia, corre um sério risco de colapso. Se tal acontecer, será sobretudo o resultado da metódica destruição económica levada a cabo pelos Ayatollahs. Resta saber se a mentira nuclear chegará a tempo de os salvar, ou se a verdade da mentira porá fim ao regime islâmico
."

Fernando Gabriel

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Seria a única atitude positiva de Bush durante o seu reinado. Acabem com estes meliantes Aiatolas antes que eles acabem com o mundo.

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

cComo são teimosos esses iranianos! Não existiria alguém para fazê-los verem que o desenvolvimento nuclear é mau para eles próprios? Nessas horas é que vejo a necessidade de alguém com pulso firme para travar essa gente! Europa acorde para a realidade! Eles não brincam e não voltam atrás...por isso antes cedo do que muito tarde!

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Quando os EUA, atacarem o Irao nao podera ser tarde demais?Se o irao nao quer armas e sim energia porque nao permite o control das instalações pela AIEA?A muitos "SE", melhor é prevenir do que remediar, pq se o Irao conseguir ter armas nucleares ira usa-las contra Israel,isso é certo, e Israel como tambem tem armas fara o mesmo,o resultado nao sera nada bom.Veremos o resultado disto tudo em breve.

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O Irão continua a mandar areia para os nossos olhos mas o ocidente não é parvo e percebe perfeitamente a jogada do Irão. Nesta guerra além das questões humanitárias também haverá questões ambientais caso já haja reacções nucleares a laborar. Caso haja guerra ela deverá ser total e derrubar o regime mas o povo do Irão não está preparado para uma democracia, seria um processo muito lento

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não me admirava nada q o irão entrasse pela via da agressão pura e dura, aliás como fizeram no Iraque, mas como Deus não dorme, estao a ser batidos em toda a linha e já se fala até na retirada. Só espero que o Iraque esteja bem preparado para retaliar e até os russos e até os chineses podiam ajudar com homens e material. Pq o Irão tem de aprender que não pode fazer o que quer.

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O IRAO IRA TENTAR FAZER DINHEIRO COM O PROGRAMA NUCLEAR. SERIA BOM SE FOSSE PARA FINS PACIFICOS, MAS NAO ACREDITO. PENSO QUE O MUNDO TERA DE DEIXAR-SE DE SANCOES E RESOLVER O PROBLEMA COM A DESTRUICAO DA CENTRAL. PELO MENOS ADIA ATE A PROXIMA, E ESPERA-SE QUE HAJA UM GOVERNO MENOS RADICAL.

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O Irão vai mesmo ter a sua bomba nuclear. Mas dadas as suas caracteristicas de ameaçar estou convencido que vamos assistir com amargura à explosão de um ou mais bombas núcleares sobre as instalações atómicas do Irão.Vai ser uma desgraça para as populações...

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

A ONU nao deve consentir que o Irao se reforce com a arma nuclear, assim como tambem nao devia ter permitido a Israel de a possuir. Mas como nao o fez, agora nao tem crédibilidade nem autoridade para proibir outros Paises de obterem essa arma. Os Politicos sao sempre assim... Uma lei = duas medidas,e depois nimguem é responsavel.

sexta-feira, março 02, 2007  

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