sábado, maio 12, 2007

Blair e Sarkozy

"Pelo modo como votaram numa personalidade agreste e pouco suave, os franceses escolheram o líder que julgam capaz de mudar um país que deseja a mudança. A política é feita de desencontros. Líderes que partem, líderes que chegam. Mas os verdadeiros desencontros são entre os homens e a História, uma particular divergência que separa os homens do ‘timing’ político de uma sociedade. Surge pois uma incontornável questão: será que um líder pode mudar uma sociedade? Mas a pergunta poderá ser colocada de um modo diverso e menos clássico: será que uma sociedade escolhe um líder porque pretende mudar? De certo modo, Blair e Sarkozy constituem a resposta possível a esta questão.

No momento em que o consulado de Blair se aproxima do fim, surgem todos os balanços e todas as críticas. O mais talentoso político de uma geração, o inventor do ‘thatcherismo’ progressista e social, acaba os seus dias políticos sem vestígio de honra ou reconhecimento. No seu registo messiânico, Blair prometeu um país novo a um país que queria mudar. Talvez o Reino Unido seja hoje um país mais decente e próximo de uma social-democracia. Mas existe um estranho paradoxo no destino de Blair. A grande herança de Margaret Thatcher terá sido o modo como provocou a transformação do Partido Trabalhista no projecto New Labour. Neste sentido, Tony Blair será a medida do sucesso de Thatcher. Do mesmo modo, o legado de Tony Blair poderá ser a renovação do Partido Conservador. Como tal, nas mãos de David Cameron estará a real dimensão do sucesso de Blair. De caminho, ficará um enorme vazio no coração do velho Trabalhismo.

Em França, Nicolas Sarkozy foi eleito Presidente da República com base no discurso e na promessa de mudança. Pelo modo como votaram numa personalidade agreste e pouco suave, os franceses escolheram o líder que julgam capaz de mudar um país que deseja a mudança. Mas como se observa no caso do Reino Unido, nem sempre uma coincidência de vontades serve de garantia para o sucesso político. No caso francês, e perante o imobilismo de uma esquerda perdida no tempo, o que será realmente interessante será a perspectiva de afirmação de uma nova-direita pós-gaullista. Não se espere pois que Sarkozy seja um liberal na Presidência. Essencial para Sarkozy será o exercício de conciliação dos valores da República com a evolução do consenso estatista dominante na cultura política francesa.

Sem Blair e com Sarkozy, a Europa e o Mundo esperam dias melhores
."

Carlos Marques de Almeida

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

veremos...como diz o cego

sábado, maio 12, 2007  

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