quarta-feira, junho 20, 2007

MARCAR O PONTO

"Não tenho nenhum problema com o dr. Charrua. De tal maneira, que quando instituí, por força da lei, o relógio de ponto, ele ficou dispensado de marcar o ponto." As palavras são de Margarida Moreira, directora regional de Educação do Norte, em entrevista ao DN. Ler os desabafos da senhora é compreender de que modo uma alma compassiva é fustigada pelos baixos instintos da humanidade.

Veja-se o exemplo do "ponto". O "ponto", imposto à DREN "por força da lei", vigora lá dentro segundo a infinita gentileza da sra. Margarida, que sujeita os funcionários problemáticos ao rigor horário e isenta os restantes da pontualidade. O princípio é sublime. Apenas não prevê a ingratidão da espécie, que conduz ao abuso. O imoral prof. Charrua, um dos privilegiados do "ponto", reagiu à deferência com uma anedota sobre o eng. Sócrates. Uma anedota, vírgula. A sra. Margarida, atenta, esclarece tratar-se de "um insulto ao cidadão José Sócrates, que além de cidadão é o primeiro-ministro de Portugal." E um insulto tão reles que se dirige a um cidadão e atinge um governante merece quinze vergastadas públicas e o degredo. A sra. Margarida, caridosa, optou por um meigo processo disciplinar. Alguém lhe agradeceu? Pelo contrário, forças malignas iniciaram uma "campanha difamatória", que "ataca" a DREN para "chegar" (expressões dela) à pobre directora.

Claro que "durante dois anos", a sra. Margarida, incansável, "mexeu em muitos interesses". Claro que, embora não goste de se "vitimizar como mulher", a sra. Margarida, condoída, sente que os ataques não aconteceriam se ela "fosse um homem". E claro que há "gente a aproveitar a boleia para tentar alguma coisa". Quem? A sra. Margarida, tímida, não revela as fontes da "campanha", mas menciona de passagem os meios: metódica, ela guarda "tudo o que tem saído na comunicação social, nos blogues, ofícios, em tomadas de posição, em artigos de opinião".

Artigos de opinião? Conheço casos. Quanto a mim, e antes que surjam equívocos a propósito de crónicas anteriores, juro não ter sequer sonhado em "atacar" a DREN, "chegar" à sra. Margarida, "tentar alguma coisa" com ela e ainda menos tomar em consideração a sua feminilidade. Isso é próprio de criaturas com problemas, justamente forçadas a marcar o ponto
."

Alberto Gonçalves

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