COSTAS LARGAS
"Sá Fernandes agradeceu aos lisboetas que o escolheram nas "intercalares". Esses sábios eleitores atribuem-lhe "novas responsabilidades" e pedem "uma mudança de ciclo, um corte corajoso com um passado de obscuridade, de negócios e de falta de exigência".
Dito assim, parece que as massas alfacinhas irromperam a apoiar uma epopeia de honradez. Consultados os dados oficiais, o candidato do BE colheu 13 348 votos. Por extenso, para não se suspeitar de gralhas: treze mil e tal votos. A fechar o discurso, Sá Fernandes prometeu "lutar em nome de Lisboa". Por acaso, a Lisboa de que fala mora em três ruas. Se calhar, o resto da cidade é complacente com a "obscuridade" e a "falta de exigência". Será, também, uma cidade ingrata: em dois anos de embargos, denúncias e "lutas", o "Zé", de Zorro, tombou para quase metade da votação de 2005.
Cito o "Zé" porque o desajuste do Bloco à realidade é particularmente engraçado. Não é único. Já toda a gente fez as contas e concluiu que é melhor não fazer as contas: a abstenção encolheu os resultados dos doze candidatos para valores mais adequados a Famalicão, de onde aliás vieram alguns dos idosos que, a troco de um passeio de autocarro, uma sandes mista e um Sumol, animaram a festa de António Costa, o pequeno vencedor.
Apurar as culpas pelo embaraço geral é exercício complicado e, provavelmente, inconsequente. Consoante os gostos, pode-se culpar sem perigo de maior a pertinência das eleições, os candidatos, as propostas dos candidatos, Marques Mendes, os "independentes" ou os políticos por atacado. Fica mal culpar a praia.
No entanto, como de costume, a escassa afluência às urnas suscitou em sujeitos com responsabilidades o velho argumento: fim-de-semana + Verão + calor = êxodo para o mar. É contraproducente que a classe política de um país voltado para o turismo balnear associe constantemente as praias ao desleixo cívico. Qual é o propósito de investir milhões a publicitar as maravilhas das costas nacionais se, ao menor indício de abstencionismo, as costas pagam a factura?
A não ser que a publicidade seja apenas destinada ao exterior, e queiramos estrangeiros ao sol e indígenas de plantão junto às mesas de voto, prontos para sufragar cada enormidade que os políticos se lembrem de produzir. Talvez a designação "Allgarve" vise dificultar o acesso dos portugueses à estival região, que o ministro da Economia até pretende limitar aos ricos. Por sorte, a nossa inclinação para línguas desmontou a tramóia. Pobres ou remediados, 63% dos lisboetas deram com o caminho e desceram a banhos, numa demonstração de maturidade democrática. Imaturos são os 37% que ficaram a colaborar no circo das "intercalares". Ou então não sabem inglês e perderam-se. Literalmente."
Alberto Gonçalves
Dito assim, parece que as massas alfacinhas irromperam a apoiar uma epopeia de honradez. Consultados os dados oficiais, o candidato do BE colheu 13 348 votos. Por extenso, para não se suspeitar de gralhas: treze mil e tal votos. A fechar o discurso, Sá Fernandes prometeu "lutar em nome de Lisboa". Por acaso, a Lisboa de que fala mora em três ruas. Se calhar, o resto da cidade é complacente com a "obscuridade" e a "falta de exigência". Será, também, uma cidade ingrata: em dois anos de embargos, denúncias e "lutas", o "Zé", de Zorro, tombou para quase metade da votação de 2005.
Cito o "Zé" porque o desajuste do Bloco à realidade é particularmente engraçado. Não é único. Já toda a gente fez as contas e concluiu que é melhor não fazer as contas: a abstenção encolheu os resultados dos doze candidatos para valores mais adequados a Famalicão, de onde aliás vieram alguns dos idosos que, a troco de um passeio de autocarro, uma sandes mista e um Sumol, animaram a festa de António Costa, o pequeno vencedor.
Apurar as culpas pelo embaraço geral é exercício complicado e, provavelmente, inconsequente. Consoante os gostos, pode-se culpar sem perigo de maior a pertinência das eleições, os candidatos, as propostas dos candidatos, Marques Mendes, os "independentes" ou os políticos por atacado. Fica mal culpar a praia.
No entanto, como de costume, a escassa afluência às urnas suscitou em sujeitos com responsabilidades o velho argumento: fim-de-semana + Verão + calor = êxodo para o mar. É contraproducente que a classe política de um país voltado para o turismo balnear associe constantemente as praias ao desleixo cívico. Qual é o propósito de investir milhões a publicitar as maravilhas das costas nacionais se, ao menor indício de abstencionismo, as costas pagam a factura?
A não ser que a publicidade seja apenas destinada ao exterior, e queiramos estrangeiros ao sol e indígenas de plantão junto às mesas de voto, prontos para sufragar cada enormidade que os políticos se lembrem de produzir. Talvez a designação "Allgarve" vise dificultar o acesso dos portugueses à estival região, que o ministro da Economia até pretende limitar aos ricos. Por sorte, a nossa inclinação para línguas desmontou a tramóia. Pobres ou remediados, 63% dos lisboetas deram com o caminho e desceram a banhos, numa demonstração de maturidade democrática. Imaturos são os 37% que ficaram a colaborar no circo das "intercalares". Ou então não sabem inglês e perderam-se. Literalmente."
Alberto Gonçalves
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