JÁ TENTOU HOJE?
"Ontem, Dia Mundial da População, ouvimos outra campainha de alarme. Não há dia mundial de coisa nenhuma que não termine com uma nota apocalíptica. Mas, desta vez, o pessimismo é justificado. Os números do Instituto Nacional de Estatística mostram que os portugueses continuam a envelhecer. Aumentou a população com mais de 80 anos. E decresceu a população abaixo dos 30: menos 15% de jovens desde 1987. O nosso maior problema, como noutros pontos da Europa, é a redução da natalidade. Em 2006, nasceram menos 4100 crianças que no ano anterior. Somos um dos países mais envelhecidos do mundo. Temos falta de imensa coisa: recursos, mercado, massa crítica. Percebemos agora que também temos falta de filhos. Estamos em vias de extinção.
E porque é que nos faltam filhos? Antes de prosseguir, mais alguns números. Diz o INE que, em média, entre 1987 e 2006 as mulheres atrasaram três anos a chegada do primeiro filho. A idade média para começar a ter filhos era até há pouco tempo 26,8 anos. Em 2006, subiu para 29,9 anos. Isto significa que os casais portugueses secundarizam completamente a maternidade face a outras escolhas de vida. A cada um os seus caminhos. Há uma mudança cultural em curso: ter filhos tornou-se trabalho para trintões. E toda a gente se fica por um ou dois rebentos. Evitamos exageros. Quem não preserva histórias heróicas de avós que tiveram os seus 14 filhos e sobreviveram? Parece, no entanto, que sobreviveram mal. E fica a pergunta: os portugueses não têm filhos porquê?
O primeiro problema de uma pessoa aos 25 anos é conseguir um mínimo de autonomia financeira que lhe permita pagar os seus próprios prazeres e consumos. As famílias garantem, pelo menos, protecção. Neste país conservamos ao máximo o nosso estatuto de infantilidade. Fazemos tudo mais tarde. Saímos de casa tarde. Começamos a trabalhar tarde. E, naturalmente, habituamo-nos tarde à disciplina e ao crescimento que o trabalho exige. O trabalho apenas nos dá uma ilusão de estabilidade. Com salários baixos, carreiras rígidas, mérito mal recompensado e nenhuma cultura de mobilidade, o português pensa que a vida não é será diferente no próximo ano do que foi neste. E vai adiando. Os filhos ficam para o fim.
Já é difícil fazer reformas em Portugal. Os grandes ignoram os pequenos. Os instalados perpetuam-se. As elites reproduzem-se com outras elites. Os que estão dentro tapam o caminho aos que estão fora. Mas a nossa grave crise de natalidade ameaça dificultar ainda mais a renovação do País. Tudo seria bem melhor se os portugueses percebessem o que têm de fazer em cada dia. Levantar cedo, pôr os filhos na escola, trabalhar, encher o bucho, trabalhar outra vez, regressar a casa a 60 km/hora, buscar os filhos, ver televisão, dormir. No dia seguinte repetir a dose."
Pedro Lomba
O primeiro problema de uma pessoa aos 25 anos é conseguir um mínimo de autonomia financeira que lhe permita pagar os seus próprios prazeres e consumos. As famílias garantem, pelo menos, protecção. Neste país conservamos ao máximo o nosso estatuto de infantilidade. Fazemos tudo mais tarde. Saímos de casa tarde. Começamos a trabalhar tarde. E, naturalmente, habituamo-nos tarde à disciplina e ao crescimento que o trabalho exige. O trabalho apenas nos dá uma ilusão de estabilidade. Com salários baixos, carreiras rígidas, mérito mal recompensado e nenhuma cultura de mobilidade, o português pensa que a vida não é será diferente no próximo ano do que foi neste. E vai adiando. Os filhos ficam para o fim.
Já é difícil fazer reformas em Portugal. Os grandes ignoram os pequenos. Os instalados perpetuam-se. As elites reproduzem-se com outras elites. Os que estão dentro tapam o caminho aos que estão fora. Mas a nossa grave crise de natalidade ameaça dificultar ainda mais a renovação do País. Tudo seria bem melhor se os portugueses percebessem o que têm de fazer em cada dia. Levantar cedo, pôr os filhos na escola, trabalhar, encher o bucho, trabalhar outra vez, regressar a casa a 60 km/hora, buscar os filhos, ver televisão, dormir. No dia seguinte repetir a dose."
Pedro Lomba
3 Comments:
Com esses afazeres diários, quem tem tempo para dar um phodita?
Outros nao phodem porque sao contra a IVG.
os professores já não têm tempo...
.....nem para ensinar quanto mais para dar uma cambalhota.....
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