Ninguém pára os devedores.
"O Banco de Portugal tem sido criticado por alguma moleza na sua missão de supervisor do sector financeiro.
Nos diversos relatórios e boletins estatísticos que emite, refere consecutivamente a sua preocupação com os níveis crescentes de endividamento das famílias, recomendando aos bancos que apertem os critérios de concessão de crédito. O efeito prático destes avisos de Constâncio – o primeiro dos quais no seu discurso de tomada de posse, em Fevereiro de 2000, como o Diário Económico ontem contou – têm sido nulos. O endividamento dos portugueses atinge já 124% do rendimento disponível.
Explicações para este desfazamento há muitas. Em primeiro lugar, a natureza do negócio das próprias instituições financeiras. Numa luta renhida pelas posições de topo nos vários indicadores, os bancos emprestam tudo o que podem, mesmo a quem não devem. Depois, todo o tipo de inovações financeiras, como as titularizações de créditos, permitiram que os bancos retirassem grande parte do risco do seu próprio balanço, limitando os efeitos de um eventual colapso do crédito. Ou seja, os incentivos apontam todos no mesmo sentido: emprestar, emprestar, emprestar. E reflectem-se numa série de novos produtos que vão apanhando os clientes à medida que estes se tornam demasiado arriscados para as instituições de referência.
É assim que surgem as Cetelems, as Cofidis, o banco Primus e, agora – associada ao Benfica – a Noviconsult/Intertrust. Que, além dos produtos típicos de consolidação de créditos, refinanciamentos, etc., ainda oferece kits de sócio e mensalidades a quem se endividar mais um pouco. É, aliás, bem ilustrativo do estado a que as coisas chegaram que haja gente disposta a buscar aconselhamento financeiro junto de um clube de futebol – reconhecidamente as instituições mais irresponsáveis na gestão de contas.
O Banco de Portugal tem-se queixado da falta de meios para travar a espiral do endividamento, uma vez que tanto os bancos como os seus clientes actuam dentro da lei. Talvez a única solução para Vítor Constâncio seja oferecer lugares cativos, kits de sócio ou electrodomésticos aos portugueses que reduzam o seu nível de endividamento de forma sustendada de um ano para o outro. Se não os podes vencer, junta-te a eles. "
Pedro Marques Pereira
Nos diversos relatórios e boletins estatísticos que emite, refere consecutivamente a sua preocupação com os níveis crescentes de endividamento das famílias, recomendando aos bancos que apertem os critérios de concessão de crédito. O efeito prático destes avisos de Constâncio – o primeiro dos quais no seu discurso de tomada de posse, em Fevereiro de 2000, como o Diário Económico ontem contou – têm sido nulos. O endividamento dos portugueses atinge já 124% do rendimento disponível.
Explicações para este desfazamento há muitas. Em primeiro lugar, a natureza do negócio das próprias instituições financeiras. Numa luta renhida pelas posições de topo nos vários indicadores, os bancos emprestam tudo o que podem, mesmo a quem não devem. Depois, todo o tipo de inovações financeiras, como as titularizações de créditos, permitiram que os bancos retirassem grande parte do risco do seu próprio balanço, limitando os efeitos de um eventual colapso do crédito. Ou seja, os incentivos apontam todos no mesmo sentido: emprestar, emprestar, emprestar. E reflectem-se numa série de novos produtos que vão apanhando os clientes à medida que estes se tornam demasiado arriscados para as instituições de referência.
É assim que surgem as Cetelems, as Cofidis, o banco Primus e, agora – associada ao Benfica – a Noviconsult/Intertrust. Que, além dos produtos típicos de consolidação de créditos, refinanciamentos, etc., ainda oferece kits de sócio e mensalidades a quem se endividar mais um pouco. É, aliás, bem ilustrativo do estado a que as coisas chegaram que haja gente disposta a buscar aconselhamento financeiro junto de um clube de futebol – reconhecidamente as instituições mais irresponsáveis na gestão de contas.
O Banco de Portugal tem-se queixado da falta de meios para travar a espiral do endividamento, uma vez que tanto os bancos como os seus clientes actuam dentro da lei. Talvez a única solução para Vítor Constâncio seja oferecer lugares cativos, kits de sócio ou electrodomésticos aos portugueses que reduzam o seu nível de endividamento de forma sustendada de um ano para o outro. Se não os podes vencer, junta-te a eles. "
Pedro Marques Pereira
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