Os assobiadores e os bufos

Acredito como simples toupeira, que o vento influencia a cabeça das pessoas, mesmo dos grandes rebanhos de humanos e digo porquê.

Este verão, excepto no país mais a sul a que chamam de Al Gharb português, o tempo tem corrido com ventos frescos e fortes de Norte.

No Sul costuma dizer-se que quando sopra o Sueste ou Levante, as pessoas ficam almareadas, meio destrambelhadas e por vezes, o juízo afasta-se das suas cabeças, naquelas onde ele ainda existe, está claro.

Vem isto a propósito do coro de assobiadelas que o Primeiro Ministro do sítio, sofreu no Estádio do Glorioso e daquele a que fugiu ao entrar pela garagem, quando do concerto na Casa da Música.

Não se entende aqui a atitude dos rebanhos.

Por um lado não se percebe porque razão só ele é assobiado, o que representa uma injustiça, por tudo o que tem feito pelos humanos do sítio, aliviando-lhes os bolsos por aumento dos impostos, todo o tipo de taxas, sobretaxas e multas e acirrando as novas polícias de costumes contra a populaça, em tudo o que é mercados, restaurantes, tascas e até em casas de particulares que ainda teimam em matar coelhos, porcos, frangos tratados à maneira antiga, obrigando-os a comer todo o tipo de porcarias, desde que devidamente certificada pelas leis da ditadura de Bruxelas, que os cachorros obedientes do sítio tanto gostam, por uma simples côdea de pão em troca. Não se percebe, porque só ele é assobiado no sítio, sendo responsável pelas reformas em tantos sectores, tornando por exemplo o estado do sítio num aliciante mercado para as empresas de fornecimento de serviços e de mão de obra, tornando o dito sítio num imenso outsourcing onde tudo é contratado, até a consciência de bufos, figura sempre muito querida da populaça.

Aqui entram os sentimentos mais bem explorados pelos polícias de costumes, que podem ser todas as polícias. Os bufos, são os vizinhos invejosos, os colegas de trabalho, os cornudos de toda a ordem, desde os mochos aos com eles muito retorcidos, o que não fuma, o que não bebe, o que não fornica e tantos outros, tornando a selva um sítio muito agradável para se viver.

Não compreendo porque razão o homem do leme, também não leva com os assobios, afinal para ele está tudo tão bem no sítio, mas percebo que se trata ainda do oásis que tão bem regamos e o tabu que tão bem preserva.

Quem hoje não leva uma assobiadela, não é bom sinal e até porque não augura nada de bom, até porque funeral sem palmas é um funeral de gente que nem deveria ser enterrada, não é de bom tom.

Pode ser acordo pré estabelecido, assobiar apenas alguns, por causa das restrições orçamentais e porque não se pode deixar de ser subserviente em relação aos desígnios de Bruxelas e do Tratado Minguante, mas graças a Deus que há ainda polacos prontos a roer a corda, como fazem os ratos, lenta, mas de forma persistente, segura e bem comandada por quem de facto manda na democracia global em regime de instalação.

De um texto de John Sturt Mill, “ Sobre a Liberdade”:

“Ao fim e ao cabo, o valor do Estado é o valor dos indivíduos que o compõem, e um Estado que adia os interesses de expansão e elevação intelectual dos indivíduos por um pouco de capacidade administrativa, ou daquilo que a prática faz parecer-se com ela, nos pormenores das questões; um Estado que reduz os seus homens à condição de anões para que eles se tornem instrumentos mais dóceis nas suas mãos até mesmo para fins benéficos, em breve descobrirá que com homens vulgares nada de grandioso poderá, de facto, ser alcançado, e que a perfeição da maquinaria à qual tudo sacrificou não terá significado nada no fim, por falta da força vital que preferiu banir, para que a máquina pudesse funcionar melhor.”