sábado, julho 07, 2007

Saque

"As crónicas da comédia política já esgotaram todos os eufemismos para falar da relação entre vitórias eleitorais e assalto ao poder.

Mas só agora se chamam os “boys” pelos nomes. O deputado Vítor Batista, socialista eleito por Coimbra, proclamou em S. Bento para que o País ouvisse que o PS ganhou as eleições “para nomear pessoas”. É o que vem na imprensa de ontem: “Ganhámos as eleições para nomear pessoas”.

O deputado teve este desabafo quando tentava acalmar um par da sua bancada que, exaltadíssimo, gritava que as nomeações partidárias “são normais, tendo em conta os resultados eleitorais”. Diga-se que a discussão foi suscitada por actuações do PS, que é quem está actualmente no poder, mas aqui não há dissemelhanças no comportamento dos partidos. É assim com o PS como foi com o PSD e até, por tabela, com o CDS que não ganhou eleição nenhuma. E com as eleições e o poder local a lógica do sistema é idêntica. Só há diferenças no tamanho e quantidade das fatias do bolo. E é assim desde que existe o parlamentarismo em Portugal. Já Eça e Ramalho discreteavam sobre a matéria, com a Ramalhal Figura a gozar com “todos aqueles que maçam os ministros com cartas de empenho para abiscoutarem empregos”.

Mas agora está dito e escrito que é assim mesmo: “Ganhámos as eleições para nomear pessoas”. E isto dito por quem tem um extenso currículo a sustentar a autoridade de tudo quanto possa proclamar sobre a matéria. Quer dizer: pede-se ao povinho um voto para levar um representante ao Parlamento e, somados os votos, tomam-se de assalto os empregos da administração. Se possível os empregos todos. E ai dos vencidos.

E a isto poderá chamar-se democracia? Será mais correcto e justo chamar-lhe saque
."

João Paulo Guerra

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