ADEUS OPOSIÇÃO
"Quando Sá Fernandes, na noite das eleições, apresentou os seis pontos do seu programa que ele considerava intocáveis, percebeu-se logo do que se tratava. Era uma oferta dirigida ao PS que António Costa, para evitar Roseta e Carmona, não podia recusar. O acordo acabou por se fazer. Costa aceitou o inventário de Sá Fernandes e os dois prometeram trabalhar em conjunto nos próximos orçamentos e no saneamento da câmara. Nos termos do acordo, o Bloco também se comprometeu a consultar e a acertar previamente com o PS em todas as matérias políticas. E aqui reside para o Bloco uma parte do problema. O acordo com o PS significa que o Bloco abdicou da liberdade de discordar irrestritamente e em público daqueles que governam Lisboa; significa, no fundo, que abdicou do efeito--surpresa que à oposição sempre se exige. Por isso, adeus oposição.
Daí a resistência que vem de dentro. Confesso que não esperava assistir em vida ao aparecimento de oposições internas dentro do Bloco de Esquerda. Sempre me pareceu que o Bloco era um partido uno e centralizado que não discutia nada. Quando há um mal lá fora que consideramos nefasto e queremos suprimir, qualquer divisão interna é vista como fútil. No Bloco, havia UDPs e PSRs, individualistas e colectivistas radicais, mas essas diferenças não transpareciam politicamente. Agora, já há uma oposição de dentro que receia a descaracterização do partido: figuras e movimentos que não aceitam este caminho de traição para onde os conduzem. São uma minoria mas, ainda assim, um sinal.
O fim da unidade torna o Bloco mais parecido com os outros partidos. De certa forma, tal como Luís Filipe Menezes mostra o PSD das bases e a cisão entre essas bases e as "elites", a oposição interna do Bloco também revela a distância que separa o militante dos dirigentes de topo. Quanto mais o Bloco desenvolver os seus apetites de poder, mais esse conflito entre uns e outros será visível. A verdade é que, tirando um assanhado moralismo e a retórica comum de um partido de esquerda, nunca se percebeu bem o que é e o que oferece o Bloco de Esquerda. Agora que o bloquista anónimo se sente barbaramente traído pelo líder Louçã, vamos talvez perceber um pouco melhor.
Para o PS, a aproximação ao Bloco em Lisboa é uma oportunidade de mostrar que também se entende com os partidos à sua esquerda. Mas dificilmente pode ser mais que isso. A ascensão do Bloco na política portuguesa tem sido feita à custa de uma enorme irrisão e hostilidade. Por cada eleitor do Bloco existem outros 50 que o execram. Para o Bloco, o preço da união ao PS é o dissídio e a crise de identidade; para Sócrates, esse preço seria a dispersão daquele eleitorado que abomina o Bloco e que nunca lhe perdoaria a escolha."
Pedro Lomba
Daí a resistência que vem de dentro. Confesso que não esperava assistir em vida ao aparecimento de oposições internas dentro do Bloco de Esquerda. Sempre me pareceu que o Bloco era um partido uno e centralizado que não discutia nada. Quando há um mal lá fora que consideramos nefasto e queremos suprimir, qualquer divisão interna é vista como fútil. No Bloco, havia UDPs e PSRs, individualistas e colectivistas radicais, mas essas diferenças não transpareciam politicamente. Agora, já há uma oposição de dentro que receia a descaracterização do partido: figuras e movimentos que não aceitam este caminho de traição para onde os conduzem. São uma minoria mas, ainda assim, um sinal.
O fim da unidade torna o Bloco mais parecido com os outros partidos. De certa forma, tal como Luís Filipe Menezes mostra o PSD das bases e a cisão entre essas bases e as "elites", a oposição interna do Bloco também revela a distância que separa o militante dos dirigentes de topo. Quanto mais o Bloco desenvolver os seus apetites de poder, mais esse conflito entre uns e outros será visível. A verdade é que, tirando um assanhado moralismo e a retórica comum de um partido de esquerda, nunca se percebeu bem o que é e o que oferece o Bloco de Esquerda. Agora que o bloquista anónimo se sente barbaramente traído pelo líder Louçã, vamos talvez perceber um pouco melhor.
Para o PS, a aproximação ao Bloco em Lisboa é uma oportunidade de mostrar que também se entende com os partidos à sua esquerda. Mas dificilmente pode ser mais que isso. A ascensão do Bloco na política portuguesa tem sido feita à custa de uma enorme irrisão e hostilidade. Por cada eleitor do Bloco existem outros 50 que o execram. Para o Bloco, o preço da união ao PS é o dissídio e a crise de identidade; para Sócrates, esse preço seria a dispersão daquele eleitorado que abomina o Bloco e que nunca lhe perdoaria a escolha."
Pedro Lomba

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