sábado, agosto 04, 2007

O DEFESO DO BENFICA

"O Benfica mudou a equipa toda. Entre o momento em que Fernando Santos foi de férias e aquele em que começa a definir o seu futuro no clube, defrontando o FC Copenhaga ou o Beitar Jerusalem na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, os responsáveis promoveram a saída de nove jogadores e a entrada de onze. Dos reforços, uns parecem melhores do que outros. Mas toda esta política se apresenta demasiado arriscada para quem quer colher frutos no imediato. Além de que dela sobram várias dúvidas, que se entrelaçam umas nas outras, como se fossem uma pescadinha de rabo na boca.

Para o Benfica, a hora da verdade será já daqui a uma semana e meia. Do resultado da pré-eliminatória da Liga dos Campeões dependerá parte do futuro desta equipa - se ganhar, não recolhe só dinheiro mas também entusiasmo e boa vontade dos adeptos; se perder, não perde só dinheiro e prestígio mas também margem de tolerância das bancadas. Há quem vá mais longe e diga que desse resultado depende o futuro de Fernando Santos. Ora é evidente que o risco de a manutenção do treinador após um frustrante terceiro lugar se transformar em bola de neve de insatisfação existe e que a bondade da aposta deve começar a ser medida por aqui. Na nova época ou há sucesso e não se fala mais nisso ou terá que encontrar-se o momento exacto em que manter Santos deixa de ser um acto de coerência para passar a ser teimosia perniciosa. E, embora esta pré-eliminatória contribua muito para aquilo que viverá Santos esta época - veja-se o caso de Peseiro no Sporting após a eliminação pela Udinese -, esse momento definitivo não deveria ser a Liga dos Campeões. Até porque é impossível responsabilizar-se um treinador por não conseguir meter uma equipa quase totalmente nova a carburar bem num mês de trabalho.

As comparações com o Sporting de 2005/06 não acabam, contudo, aqui. Tal como em Alvalade na altura, a equipa perdeu o capitão de equipa (então Pedro Barbosa, agora Simão) e o operacional do futebol (então Carlos Freitas, agora José Veiga) saltou fora depois de ter visto esvaziadas as suas funções. Tal como Dias da Cunha - embora este ainda tivesse a seu lado Paulo Andrade - Luís Filipe Vieira assumiu o futebol em nome próprio. Contudo, se até podia lembrar-se de Cardozo ou, no limite, de De María e Luizão, que passaram na TV, não estou a ver o presidente a descobrir Díaz na Argentina, a meter essa lança de marketing na América que pode ser a estranhamente barata contratação de Adu ou a encontrar Jaílson nas estepes do Leste para o emprestar ao Sp. Braga por troca com Luís Filipe. Para melhor compreender a estratégia para o futebol do Benfica será necessário perceber quem aconselha o presidente e se o faz apenas em matéria de novas contratações ou se alarga a sua esfera de influência a assuntos de política corrente, como a manutenção do treinador.

Fernando Santos não será, como se percebe pelo facto de ter dito que a saída de Simão era um "pesadelo horrível"; por ter depois reconhecido que nem sequer sabia quem era Díaz e por ter ainda visto entrar pela porta grande Luís Filipe, o extremo que ele mesmo pensou converter em lateral mas depois deixou à sombra de Miguel Garcia e Mário Sérgio. Será Veiga, estoicamente escondido atrás dos cortinados da SAD, a soprar nomes de futuros craques ou a manobrar através da equipa que estava a preparar para o assessorar? Serão outros dirigentes executivos, incapazes de resistir ao barulho das luzes que andam em torno das contratações do futebol? Ou estará o clube na mão dos mais poderosos agentes-FIFA, que cada vez mais dominam o mercado em todo o lado?

O problema desta indefinição é sobretudo um: se a coisa correr mal, o treinador terá dificuldades em encontrar que se deite com a culpa e será o único em condições de a impedir de morrer solteira. Diz uma velha máxima anarquista: "Hay gobierno? Soy contra!" A SAD do Benfica só não tem um governo-sombra em permanentes acções de campanha negativa porque, além do presidente, não se percebe sequer se há governo
."

António Tadeia

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