quinta-feira, setembro 20, 2007

Ainda o "Código Casa Pia".





"As cadeias abriram as portas este fim-de-semana para libertar uma centena e meia de reclusos que estavam em prisão preventiva. Entre os presidiários que viram a luz do dia, na sequência da entrada em vigor do novo Código do Processo Penal, suspeita-se que estejam alguns possíveis criminosos convictos, violadores e pedófilos, gente sem escrúpulos que merecerá ficar atrás das grades durante uns bons anos logo que sejam efectivamente condenados. Como seria de esperar, uma parte do país
inquietou-se à mesa do jantar com esta súbita condescendência do Estado: ficou Portugal mais perigoso com tanto alegado criminoso a andar por aí à espera de julgamento ou do justo recurso de uma primeira sentença?

Não ficou, como é evidente. Além da prisão preventiva, continuam a existir outras medidas – como a prisão domiciliária e a pulseira electrónica – que podem ajudar a garantir a tranquilidade pública, sacrificando em menor grau a liberdade soberana das pessoas e respeitando de forma mais clara a sua intocável presunção de inocência. Claro, para um país que se habituou a condenar primeiro e a perguntar depois esta não é uma reforma fácil de aceitar e digerir.

Para um país moralista que ainda vibra com o perigoso culto ideológico da ‘supremacia do colectivo’ não é fácil entender que há direitos individuais e que uma sociedade é tão mais democrática e desenvolvida quanto mais os conseguir respeitar e equilibrar. Claro, para um país que se habituou a condenar primeiro e a perguntar depois esta não é uma reforma fácil de aceitar e digerir. Para um país moralista que ainda vibra com o perigoso culto ideológico da ‘supremacia do colectivo’ não é fácil entender que há direitos individuais e que uma sociedade é tão mais democrática e desenvolvida quanto mais os conseguir respeitar e equilibrar.

O dilema que inquietou o país este fim-de-semana tem, por isso, uma formulação ética muito simples: é preferível haver um criminoso livre ou um inocente preso? A resposta a esta pergunta, por mais dolorosa que seja, não pode levantar quaisquer dúvidas numa democracia consolidada. É evidente que é preferível um criminoso beneficiar injustamente da liberdade do que manter um inocente atrás das grades. A explicação é simples: pode haver uma segunda oportunidade para apanhar o bandido, não há uma segunda vida para oferecer ao inocente atirado erradamente – precipitadamente – para a cadeia. A violência do Estado, mesmo quando disfarçada de legalidade, deve preocupar-nos e indignar-nos como nos perturba a outra violência, a privada (se bem que de forma e em grau diferentes.)

Dito isto, persiste um último ponto: o PS fez bem em modernizar o Código do Processo Penal. O que era antes uma parte do direito reservada aos pobres – já que eram quase só eles que iam presos –, actualizou-se, tornou-se mais justa, menos frágil. Sobra, no entanto, uma dúvida. Não se trata apenas de relacionar este avanço socialista com o caso de pedofilia que abalou o país e o PS. A questão é mais directa: por que motivo Sócrates abdica da defesa dos direitos individuais e só favorece o Estado quando o que está sobre a mesa é a relação do Fisco com os contribuintes? Por que será que, nos impostos, o Governo dispara antes de perguntar? Talvez um dia, quando o problema se tornar mais pessoal, mais próximo e logo mais compreensível, os deputados e ministros socialistas também mudem radicalmente de opinião. Até lá, os contribuintes serão sempre encarados como suspeitos dos piores crimes e ficarão esquecidos numa espécie de eterna prisão preventiva: a da desconfiança automática.

Dito isto, persiste um último ponto: o PS fez bem em modernizar o Código do Processo Penal. O que era antes uma parte do direito reservada aos pobres
– já que eram quase só eles que iam presos –, actualizou-se, tornou-se mais justa, menos frágil
. Sobra, no entanto, uma dúvida. Não se trata apenas de relacionar este avanço socialista com o caso de pedofilia que abalou o país e o PS. A questão é mais directa: por que motivo Sócrates abdica da defesa dos direitos individuais e só favorece o Estado quando o que está sobre a mesa é a relação do Fisco com os contribuintes? Por que será que, nos impostos, o Governo dispara antes de perguntar? Talvez um dia, quando o problema se tornar mais pessoal, mais próximo e logo mais compreensível, os deputados e ministros socialistas também mudem radicalmente de opinião. Até lá, os contribuintes serão sempre encarados como suspeitos dos piores crimes e ficarão esquecidos numa espécie de eterna prisão preventiva: a da desconfiança automática
."

André Macedo

Breves notas:

1/ Essa do “país que se habituou a condenar primeiro e a perguntar depois” é espectacular. Trata-se de um velho chavão, utilizado pelo politicamente correcto, que facilmente esbarra no senso comum. Basta ler algumas das notícias para verificar-se a dificuldade existente em conseguir punir os criminosos.

2/ Claro que “continuam a existir outras medidas – como a prisão domiciliária e a pulseira electrónica – que podem ajudar a garantir a tranquilidade pública”. Um exemplo: como ultimamente se tem verificado, Portugal anda sendo vítima de criminalidade praticada por cidadãos estrangeiros. Qualquer a prisão domiciliária (em que sítio) e a pulseira electrónica facilmente acabará com o risco de fuga nestes casos.

3/ “É preferível haver um criminoso livre”??? Perdão??? Claro que sim, especialmente quando estamos protegidos dos criminosos.

4/ “O que era antes uma parte do direito reservada aos pobres – já que eram quase só eles que iam presos –, actualizou-se, tornou-se mais justa, menos frágil.” Nem mais. Agora já ninguém vai preso.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A quem se dirige este Código ,elaborado pelos senhores deputados ,gente muito atarefada e contituida essencialmente por advogados?O Estado não confia nos contribuintes, a naõ ser para os explorar e continuar o jogo político.Logo,o tempo ir-nos-á revelar toda a verdade...

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não posso deixar de discordar firmemente com este artigo uma vez que quando alguém está em prisão preventiva é porque efectivamente há suspeitas muito fortes de poder vir a ser condenado! Quando diz que quase só os pobres é que iam presos está a deixar a ideia que há muitos ricos que não iam presos só por serem ricos! Ora, a alteração a este código do Processo Penal só vem proteger os graúdos do Processo Casa Pia e outros que tais.

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Isto é branquear aquilo que é o maior "tiro" na já fragilizada justiça portuguesa. Diz o colunista que a libertação dum criminoso convicto não trará qq perigo , porque a pulseira eletrónica ou o termo de residência vão ser suficientes para refrear o criminoso. Se o colunista descobriu um novo método de combater a criminalidade , acabe-se de imediato com as prisões, premei-se este brilhantismo genial e declare-se públicamente a estupidez daqueles que como eu desconfiam do método.O dia que este país vir um governante condenado poderá afirmar que há Justiça. Até lá " cantando e rindo".

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Reacção à prisão de pedofilos socialistas é clara, onde alguns ainda andam em Paris, agora já em não prisão preventiva, junto á Torre Eiffel a engatar menininhos.. Assim, valem mais uns criminosos ricos ou influentes politicamente cá fora a pagar aos acusadores, já que os pobres vão sempres presos, após matarem ou violarem entretatanto mais uns, a destruir provas que agora já se podem conhecer, quando antes não podiam até se ser acusado. É preciso controlar os juízes, já afirmado pelo Pinóquio, inclusivé colocar a investigação criminal e economica sob alçada politica, para abafar os amigos e as contas das empresas criadas na hora, sem nenhum controle da presença e identidade dos sócios( até podem estar em Cuba). Viva a balbúrdia, o saque ao estado, e a falta de meios temporais para a investigação e de recolha de provas. Um raro preso preventivemente mal preso, têm meios para ser ressarcido, um morto por um homicida em liberdade à espera da decisão final ( 10 anos), de certaza que a vida jamais poderá ser ressarcida.

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não perceberam que com esta lei a responsabilidade de haver criminosos à solta passou a ser dos tribunais, que nunca julgam tempo? Ou seja, o que actualmente se passa é atirar pessoas para as prisões, por tempo indefinido, pois os Srºs Drs Juizes, magnanimos na sua batina podre, poderem ter tempo para gozar a vida. Afinal de contas com tanto dinheiro, tem de se ter um bom tempo de férias, né? Como se pode ver, pode-se dissimuladamente obrigar pessoas a trabalhar, sem sindicatos a reclamar e etc. Apenas sinal de boa e astuta governação.

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Mas não temos mais de duzentos deputados na AR, que são pagos para estudarem os assuntos antes de porem cá fora as leis? Como se explica que este Código venha criar situações tão anormais, com seja a libertação de presos perigosos? Não tiveram tempo para estudar esses casos? E com tantos advogados, que tristeza!! Apetece-me dizer... mal empregado dinheiro dos meus impostos pago a esses senhores! Que triste país!! Não somos capazes de fazer uns exames sem erros! Não somos capazes de fazer leis claras, faceis de interpretar, que prevejam as consequências, que não originem disputas de interpretação! Enfim, uma tristeza! Só falta culpar por isso ... os empresários sem visão e cultura empresarial, os bombos da festa do costume!!!!

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma legislação elaborada atendendo apenas aos interesses dos arguidos mais mediáticos descurando as vítimas e sem ter a consciência de que através dum princípio que se pretende de boa fé no sentido de seleccionar certos crimes como os furtos, os roubos ou as violações considerados pelos legisladores como destituídos de gravidade criminal para merecer prisão preventiva traz consigo graves consequências para a sociedade civil podendo em última análise efeitos contraproducentes que a curto e médio prazo geram vendettas, a chamada justiça privada. Principais responsáveis pela revolta das "famílias das vitimas", parafraseando o professor Marcelo Rebelo de Sousa aqueles que pensaram que 15 dias é suficiente para a adaptação do sistema judicial à nova legislação quando o professor Figueiredo Dias teve 60 dias para regulamentá-la e já agora estou em total desacordo com o articulista e em acordo com vc. Já agora só uma questão para quem é boa a publicidade do inquério? Pensaram. É isso mesmo. Isso mesmo.

quinta-feira, setembro 20, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Meus caros concidadãos, O que é que esperam? O timing da entrada das alterações do código penal, vem certamente arranjar a vidinha de muitos criminosos, mas da alta finança. Soltar um individuo que assaltou um banco, uma bomba de gasolina, mas que não põs a vida de ninguém em causa, para dar de comer aos filhos, não deverá assustar ninguém. O problema é que estão a decorrer muitos processos nos tribunais nacionais que mexem com muito "tubarão", exemplos: Casa Pia, Câmara municipal de Lisboa e as empresas satélites, Apito Dourado, financiamento ilegais de partidos, investimentos no alentejo do Banco Espirito Santo, operação FURACão. Estes exemplos meus caros, por si só justificam esta atabalhoada alteração ao código penal. Haverá MUITO CRIME DE CRIME DE COLARINHO BRANCO, DEBAIXO DO "TAPETE". Todos se lembrarão que neste prestigiado Jornal, tudo foi escrito sobre o BCP. Joe Berardo, um dos principais accionistas do BCP, disse em viva voz, em directo nas TV´s, que existia crime de colarinho branco no BCP. alguém sabe e que se está a passar sobre aquelas graves declarações? Por esta e as outras razões apontadas, é que a alteração teve que ser efectuada. Isto é Portugal no seu melhor. Comparavél e isto e a outras tantas só a agressão do Scolari ao jogador da Sérvia. No final e como sempre, o ZÉ é que está sempre em maus lençois.

quinta-feira, setembro 20, 2007  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!