Luís Amado e os McCann
"Luís Amado, ministro dos negócios estrangeiros, pode ter lido todas as sebentas sobre a melhor forma de conduzir, lá fora, os destinos e interesses de um país - mas nada prepara um ministro para desafios como aqueles que Portugal enfrenta hoje.
O que Amado tem para enfrentar é fogo - mas um fogo em que todas as chamas apontam numa mesma direcção: o Governo britânico de Gordon Brown.
Na verdade, os problemas de Luís Amado são os desafios do país. Repare-se: Portugal enfrenta a assinatura do complexo (e sempre adiado) Tratado da União Europeia - um Tratado que ninguém quer mas, sobretudo, que os ingleses rejeitam. Gere, ao mesmo tempo, a presença (ou a ausência) de Robert Mugabe na Cimeira entre a União Europeia e África - um convite que os britânicos rejeitam fazer mas que África exige. Finalmente, gere o mediático caso de Madeleine McCann e dos seus importantes pais - ele amigo pessoal de Gordon Brown. E cada um destes enormes desafios pode deitar por terra anos e anos de construção da imagem de Portugal. Qual é o desafio, então?
É lidar com a grande aposta interna do primeiro-ministro Gordon Brown para unir em torno do seu Governo os britânicos mais descontentes. Que aposta é essa? Reforçar o sentido de nação dos britânicos. Brown aceita independências, mas deseja unir todos em torno desse mito da bandeira azul e encarnada que une todos em torno do espírito de liberdade que caracteriza os ingleses.
O seu ministro dos estrangeiros, David Miliband, leva ainda mais à letra este muito especial sonho britânico - ele não é conservador. É um progressista que sonha unir o Reino Unido no espírito de igualdade e liberdade britânicos - que considera únicos.
Sócrates e Luís Amado conhecem seguramente estes desafios, mas o momento exigiria uma reacção mais forte dos dois. Use-se, para descrever o argumento, apenas o caso da criança inglesa.
As desconfianças sobre a polícia nacional são enormes na imprensa inglesa. Os pais da criança alimentam-nas, sugerindo rumos de investigação absurdos. Miliband, o ministro, disse apenas que a polícia portuguesa estava a fazer o seu trabalho. Fez diplomacia. E o que disse Amado, ou o ministro da administração interna? Nada. O que poderia ter dito? Que Portugal é um país sério onde que ninguém vai preso sem culpa. Mas ficou calado e os jornais ingleses ocuparam esse silêncio, escrevendo: a polícia britânica tomará conta do problema. Ou seja, Miliband falou, Amado não. Ganhou Miliband.
Amado e Sócrates têm de falar. Não apenas sobre a rapariga desaparecida, mas sobre o diabólico Mugabe e as dificuldades do Tratado. A lição é clara: se ficarem calados alguém aproveitará esse silêncio."
Martim Avillez Figueiredo
O que Amado tem para enfrentar é fogo - mas um fogo em que todas as chamas apontam numa mesma direcção: o Governo britânico de Gordon Brown.
Na verdade, os problemas de Luís Amado são os desafios do país. Repare-se: Portugal enfrenta a assinatura do complexo (e sempre adiado) Tratado da União Europeia - um Tratado que ninguém quer mas, sobretudo, que os ingleses rejeitam. Gere, ao mesmo tempo, a presença (ou a ausência) de Robert Mugabe na Cimeira entre a União Europeia e África - um convite que os britânicos rejeitam fazer mas que África exige. Finalmente, gere o mediático caso de Madeleine McCann e dos seus importantes pais - ele amigo pessoal de Gordon Brown. E cada um destes enormes desafios pode deitar por terra anos e anos de construção da imagem de Portugal. Qual é o desafio, então?
É lidar com a grande aposta interna do primeiro-ministro Gordon Brown para unir em torno do seu Governo os britânicos mais descontentes. Que aposta é essa? Reforçar o sentido de nação dos britânicos. Brown aceita independências, mas deseja unir todos em torno desse mito da bandeira azul e encarnada que une todos em torno do espírito de liberdade que caracteriza os ingleses.
O seu ministro dos estrangeiros, David Miliband, leva ainda mais à letra este muito especial sonho britânico - ele não é conservador. É um progressista que sonha unir o Reino Unido no espírito de igualdade e liberdade britânicos - que considera únicos.
Sócrates e Luís Amado conhecem seguramente estes desafios, mas o momento exigiria uma reacção mais forte dos dois. Use-se, para descrever o argumento, apenas o caso da criança inglesa.
As desconfianças sobre a polícia nacional são enormes na imprensa inglesa. Os pais da criança alimentam-nas, sugerindo rumos de investigação absurdos. Miliband, o ministro, disse apenas que a polícia portuguesa estava a fazer o seu trabalho. Fez diplomacia. E o que disse Amado, ou o ministro da administração interna? Nada. O que poderia ter dito? Que Portugal é um país sério onde que ninguém vai preso sem culpa. Mas ficou calado e os jornais ingleses ocuparam esse silêncio, escrevendo: a polícia britânica tomará conta do problema. Ou seja, Miliband falou, Amado não. Ganhou Miliband.
Amado e Sócrates têm de falar. Não apenas sobre a rapariga desaparecida, mas sobre o diabólico Mugabe e as dificuldades do Tratado. A lição é clara: se ficarem calados alguém aproveitará esse silêncio."
Martim Avillez Figueiredo
5 Comments:
O Papa, mal soube dos últimos desenvolvimentos do caso, mandou retirar do sítio oficial do Vaticano todas as referências ao seu encontro com o casal, certamente após indicação do padre que ouviu Kate McCann em confição O casal McCann "foge" para o Reino Unido num voo da easyJet, tentando a manobra desesperada de envolver David Miliband, o actual ministro britânico dos negócios estrangeiros, no assunto. Infelizmente para os McCann, Miliband é uma pessoa demasiado inteligente e avisada, para se envolver nesta trapalhada macabra. Tal como o Papa antes dele, Miliband já se demarcou desta história de contornos cada vez mais sórdidos. A Polícia Judiciária portuguesa está, de parabéns, apesar dos muitos escolhos que tiveram pela frente, nomeadamente políticos. Esperemos que a este propósito não venha a existir nenhuma "troca de prisioneiros" entre o governo português e o governo de Sua Magestade, nomeadamente por causa do imbróglio da cimeira Europa-África, que o Reino Unido vem boicotando única e exclusivamente em nome dos seus mesquinhos interesses neo-colonialistas no Zimbabwe (antiga colónia britânica que os ditos "roubaram" a Portugal, intimando este país, com o famoso Ultimato de 1890, a abandonar aquele território situado entre Angola e Moçambique.)
Um dado a reter no meio de toda esta triste "novela" que envolve uma pequena inocente de quatro anos de que não se sabe se está viva ou morta, resulta das elevadas ligações que os McCann têm vindo a revelar possuir na sociedade britânica, o que poderá mesmo explicar a defesa acérrima que a própria imprensa inglesa começou por fazer de Kate e Gerry McCann. Recorde-se que no início de todo este processo foram levantadas suspeitas sobre as orientações sexuais do casal, que foi apontado como praticante de "swing", ou troca de casais, algo que por norma é realizado nas classes alta e média/alta, havendo quem especule que terá sido por aí que o casal McCann terá conseguido apoios aos mais altos níveis. Certo é que logo que o desaparecimento de Maddie ocorreu a 3 de Maio, os pais da menina inglesa tiveram como assessor uma alta figura ligada ao governo britânico, o que certamente não é qualquer casal inglês que consegue. Depois, rapidamente surgiu um jacto particular emprestado por um milionário que nunca quis ser identificado, para que Kate e Jerry pudessem viajar por vários países divulgando o desaparecimento da menina, e no meio de todas as viagens conseguiram mesmo ser recebidos no Vaticano pelo Papa Bento XVI, o que também não está ao alcance fácil de qualquer um que perde uma filha, mesmo nestas condições. Depois, o incómodo provocado na Polícia Judiciária portuguesa ao enviar para Inglaterra os vestígios orgânicos e atraso incompreensível na resposta do laboratório de Birmingham, e as já aqui referidas "pressões" das autoridades inglesas que terão "condicionado" o trabalho da PJ, leva no mínimo a que se pergunte se estará o laboratório a ser pressionado para, no mínimo, atrasar a entrega das respostas que a Polícia Judiciária necessitava de conhecer para avançar com este caso,
leio com muita atenção este artigo de opinião e achei muito "refrescante" a ideia de misturar a atitude dos ingleses para com o pseudo-tratado com a forma como estamos a lidar com o caso MacCann ao mais alto nível.O povo ingles pode ser tudo o que de mal conhecemos, mas sabem muito bem defender os seus interesses e nós continuamos a ser subservientes. o nosso governo não nos defende, não diz nada, e quem fica mal visto por todo o mundo somos nós, porque o nosso governo está em silêncio. obrigado Martim por nos explicares as coisas.
Se estes governantes não conseguem resolver os problemas nacionais nem sequer defender as nossas instituições que capacidades terão eles para resolver os problemas da Europa com África e da própria União Europeia ?. Caro Martim Avillez não acha que está a colocar objectivos demasiados altos para quem tem tanta falta de qualidade?.
Caro Martim, não me parece razoável meter no mesmo saco a triste novela dos Mccann com os assuntos da União Europeia. Por outro lado, como a imagem de Portugal no exterior é a de um país pobre e atrasado, este episódio não é mais do que um triste exemplo da nossa mediocridade e exiguidade como país e como povo: pouco exigente, submisso e sem ideias e sem poder junto dos grandes centros de decisão.
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