quinta-feira, outubro 04, 2007

"Estudar ‘ma non troppo’

"A juventude foi transfigurada em consumidores desde há anos permanentemente alvejada pela publicidade enganosa dos intelectuais vendidos ao marketing.

Em Portugal há um problema que vai muito além da questão do sucesso dos alunos no Ensino Superior, um problema geral da Educação – de que temos défice face à Europa – com dificuldade em ser resolvido. A retenção no Secundário é de 45% e temos menos população no Superior por causa do declínio demográfico. Assim há temporariamente no Superior professores a mais. Se o Secundário produzisse os alunos que pode esse problema desapareceria, mas ele demora a resolver. Porquê? Aqui venho acrescentar à discussão – pois ninguém fala nisso – que a juventude foi transfigurada em consumidores desde há anos. É permanentemente alvejada pela publicidade enganosa dos intelectuais vendidos ao marketing. Os pais querem satisfazer os filhos, e quanto mais divórcios mais competem por dar ‘gadgets’ aos meninos. Estes nasceram numa sociedade onde pensam que isto é só consumir, é só ir em viagens, casam cada vez mais tarde – e mesmo quando têm um emprego não poupam dinheiro para as suas vidas. Vão meter-se no próximo avião para passear. Tornou-se vulgar. Não têm a noção de investir no futuro por oposição a consumir no presente. Esta equação toda a gente a tem nas suas vidas mas ela sofreu um grande desequilíbrio para o consumismo imediato. É a ideia de que a sociedade é que lhes dá tudo, que tem de lhes tirar as dúvidas todas. A noção de que, se não resolve o problema que o professor passou, a culpa é do professor, ou de que não precisa de estudar mais que aquilo que ouve nas aulas. A fantasia mais ideia comum é que no Superior os dois primeiros anos são para as festas, saídas, beber uns copos até às tantas, à procura não sabem bem de quê. Andam à procura de algo mas bem podem lá estar a noite toda que não o encontram. E por isso ficam cada vez até mais tarde.

Em Portugal o excesso de hedonismo e de consumismo imposto pela teologia do Mercado é mais grave que noutros países, onde existem instituições que atraem os jovens para a Ciência, para o Conhecimento, e canais televisivos dedicados a isso, debates na televisão sobre questões menos espúrias. Não é como cá, sempre com os mesmos, jornalistas a entrevistar jornalistas. Temos universidades com especialistas de tudo mas nunca os vemos na televisão em debate. A atracção pelo Conhecimento é uma maneira de dar outro significado à vida, de contribuir para um todo maior, um todo em que a pessoa recebe e dá. É mais considerado aquele que mais dá, que mais publica. Tal dádiva ocorre com esforço conjunto e internacional. Essa atitude de investimento, com um significado lato associado aos valores da Humanidade, não perpassa na sociedade portuguesa. Se noutras existem instituições que fazem contrapeso ao consumismo passivo, entre nós não. Porque não há uma programação significativa sobre a ciência feita em Portugal na televisão? Porque não paga. Ninguém porá aí anúncios porque estamos sujeitos à cega força mercantilista do lucro. Bom seria se as empresas usassem o mecenato para financiar programas culturais e científicos.

Relacionado com as questões da educação há o conhecido problema dos jovens com a matemática. Mas os portugueses não são maus nem bons a matemática por essência, não têm um gene anti-matemática. É que a matemática impõe o tal esforço de investimento. É uma disciplina abstracta que exige o perceber as regras por detrás dos cálculos, a razão dos métodos. Tal requer uma actividade de abstracção não alcançável na sala de aula, demasiado barulhenta. O aluno tem de se concentrar e reflectir, aperceber-se porque não está a obter o resultado que devia, experimentar doutra maneira. Precisa de reflectir com concentração e prática. Necessita pegar num livro de exercícios e fazê-los. A matemática não se assimila indo apenas à aula, requer absorção a nível profundo, esforço continuado de atenção, e tal não existe em quem se habituou ao ‘zapping’ frequente de programas, de consumo, de telemóvel. Ao ver-se tanta gente a telefonar e mandar mensagens percebe-se que têm necessidade de comunicação e que ela não chega a ocorrer por não ser suficientemente profunda, mas superficial. Há muita dispersão, tal leva a um descontentamento, e a procurar ainda mais. Só que não procuraram no sítio certo
."

Luiz Moniz Pereira

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acho esta argumentação sem pés nem cabeça. Aliás, haverá aqui algum tipo de argumentação? Temo que não: apenas um muro de lamentações de alguém que, certamente, não consegue perceber como é que as coisas foram mudando. Não percebe, nem quer perceber. Por isso, zurze. Que tal pensar em por que as coisas serão assim? O que terá levado a que acontecessem? Depois de pensar nisto, então talvez se pudessem encontrar uns culpados. Mas tê-los assim logo à cabeça (os putos e as televisões) é demasiado fácil! Certamente que era de esperar um mínimo de reflexão por parte de tão eminente sumidade! Para mim, glória e mérito, para os outros insultos torpes. Coloquialmente, acho que 'tá mal!

quinta-feira, outubro 04, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Subscrevo na integra...esta juventude anda a enganar-se a si própria! Os facilitismos conduzem ao comodismo e à pior forma de estar numa sociedade cada vez mais individualista. Os "paizinhos" que, de forma consciente ou inconsciente, "fomentam" esta maneira de estar e são grandes grandes responsáveis pela vida futura dos seus filhos. Esta forma de estar tem vindo sempre a aumentar!

quinta-feira, outubro 04, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Caro Professor, Os meus mais sinceros parabéns, enquanto pai de 2 filhos e familiar de pessoas ligadas ao ensino. Há muito tempo que não lia um artigo tão simples e linear. Em 3 ou 4 pontos referidos no artigo descrevem-se todas as razões para as dificuldades dos nossos jovens. Só falta perguntar se não há ninguém, no estado ou nas empresas, que ouça as sugestões deste pedagogo

quinta-feira, outubro 04, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Absolutamente de acordo com o último parágrafo. Os nossos alunos foram infantilizados e desabituados de qualquer esforço que exija um mínimo de persistência face a uma dificuldade ou à inexistência de uma resposta imediata.

quinta-feira, outubro 04, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não desanime prof. Luiz. Para os nossos jovens... estudar e trabalhar no duro...é uma chatice ! E a culpa não é só dos pais e mães. Também é dos muitos ministros e ministras da Educação que nunca o deviam ter sido ! E até dos prof's...

quinta-feira, outubro 04, 2007  

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