Sócrates e Putin
"O estilo do primeiro-ministro merece o esforço de uma frase – face ao poder pratica a compreensão; face ao indivíduo exerce o poder.
Em política, a memória tende a ser curta. Antes de Sócrates, existia a “ditadura da maioria absoluta”. Com Sócrates, a maioria absoluta é um instrumento essencial para um Governo reformista. Antes de Sócrates, existia o “direito à indignação”. Com Sócrates, existe uma reserva de 100 metros onde não existe “direito à indignação”. A política exige alguma economia com a verdade e a moral, mas a velocidade a que o primeiro-ministro transforma os princípios em simples conveniência merece uma distinção em diploma selado.
Livre de uma verdadeira oposição, o primeiro-ministro exibe sintomas de iluminação. Senhor de todas as chaves, Sócrates não suporta um vestígio de contestação. A “criminalização” da discordância política, a pequena intimidação e o controlo burocrático, não são acidentes da governação, mas sinais inequívocos de uma cultura democrática superficial. Agentes da PSP, em traje civil, visitam um sindicato em vésperas de manifestação, confiscam material de propaganda e deixam conselhos paternais. Desde logo, o silêncio do PS em relação a estas práticas é incompatível com a história do partido. Depois, a “ingenuidade” na justificação do primeiro-ministro é um insulto aos portugueses.
Para Sócrates, o princípio da sociedade aberta é um verniz brilhante para elevar o discurso. E revela um País desconfortável com o exercício da opinião em liberdade. O estilo do primeiro-ministro merece o esforço de uma frase – face ao poder pratica a compreensão; face ao indivíduo exerce o poder.
A compreensão pratica o primeiro-ministro com Vladimir Putin. A próxima cimeira entre a UE e a Rússia não captou a atenção dos comentários. Que importa que Putin se prepare para abandonar a Presidência para se tornar no próximo primeiro-ministro da Rússia? Que importa a utilização dos recursos naturais como arma política e instrumento de dominação? Que importa o polonium nas ruas de Londres e nas veias de Litvinenko? Que importa a “democracia soberana” que se confunde com a autocracia? Face a esta realidade, o primeiro-ministro aconselha uma “postura construtiva”.
De certo modo, existe uma semelhança entre Sócrates e Putin. À escala nacional, Sócrates é um siloviki ou “homem de poder”. Tal como Putin na Rússia, Sócrates pensa em Portugal e vê a sua imagem mil vezes reflectida num espelho"
Carlos Marques de Almeida
Em política, a memória tende a ser curta. Antes de Sócrates, existia a “ditadura da maioria absoluta”. Com Sócrates, a maioria absoluta é um instrumento essencial para um Governo reformista. Antes de Sócrates, existia o “direito à indignação”. Com Sócrates, existe uma reserva de 100 metros onde não existe “direito à indignação”. A política exige alguma economia com a verdade e a moral, mas a velocidade a que o primeiro-ministro transforma os princípios em simples conveniência merece uma distinção em diploma selado.
Livre de uma verdadeira oposição, o primeiro-ministro exibe sintomas de iluminação. Senhor de todas as chaves, Sócrates não suporta um vestígio de contestação. A “criminalização” da discordância política, a pequena intimidação e o controlo burocrático, não são acidentes da governação, mas sinais inequívocos de uma cultura democrática superficial. Agentes da PSP, em traje civil, visitam um sindicato em vésperas de manifestação, confiscam material de propaganda e deixam conselhos paternais. Desde logo, o silêncio do PS em relação a estas práticas é incompatível com a história do partido. Depois, a “ingenuidade” na justificação do primeiro-ministro é um insulto aos portugueses.
Para Sócrates, o princípio da sociedade aberta é um verniz brilhante para elevar o discurso. E revela um País desconfortável com o exercício da opinião em liberdade. O estilo do primeiro-ministro merece o esforço de uma frase – face ao poder pratica a compreensão; face ao indivíduo exerce o poder.
A compreensão pratica o primeiro-ministro com Vladimir Putin. A próxima cimeira entre a UE e a Rússia não captou a atenção dos comentários. Que importa que Putin se prepare para abandonar a Presidência para se tornar no próximo primeiro-ministro da Rússia? Que importa a utilização dos recursos naturais como arma política e instrumento de dominação? Que importa o polonium nas ruas de Londres e nas veias de Litvinenko? Que importa a “democracia soberana” que se confunde com a autocracia? Face a esta realidade, o primeiro-ministro aconselha uma “postura construtiva”.
De certo modo, existe uma semelhança entre Sócrates e Putin. À escala nacional, Sócrates é um siloviki ou “homem de poder”. Tal como Putin na Rússia, Sócrates pensa em Portugal e vê a sua imagem mil vezes reflectida num espelho"
Carlos Marques de Almeida
6 Comments:
Parabéns. Pior que ser cego é não querer ver. Continuamos a ter comportamentos "carneirais". É a nossa cultura, a do interesse, subserviência, hipocrisia, ter medo, tal como no Estado Novo. Abram os olhos e verão que o que estes incompetentes políticos querem é levarem-nos para o abismo. O futuro falará mais alto com apenas um senão, ser tarde de mais.
parabéns,excelente artigo.só os distraidos ainda não perceberam que se está a viver um período de défice democrático.
Excelente artigo, que revela bem a a forma como Sócrates encara a sua função governativa. Perante Putin, Mugabe, Eduardo dos Santos e outros facínoras, adopta uma postura de 'calcinha arreada', sempre pronto a compreender e a fechar os olhos perante todos os atropelos e atrocidades. Perante os sindicatos, os jornalistas ou os deputados adopta uma atitude de desprezo, próprio de quem acha que não é obrigado a prestar contas pelos seus actos. O debate mensal na AR é um bom exemplo disto.
Sócrates é o típico português.Prepotente para baixo,subserviente para cima,como diria o Manuel Machado,ex-mister da Académica.Vive da aparência.Vive numa barraca mas tem um Mercedes à porta.Não sabe ler e escrever mas mostra o portátil a toda a gente.Etc.Quanto ao episódio dos agentes à paisana,é um caso para alarme.O dever dos agentes da PSP não é servir de gorilas a um político,ainda por cima mediano e vigarista.Faz-me pensar mal da PSP.E da polícia portuguesa.Eu se recebesse uma ordem destas,recusava-a.Porque não é meu dever intimidar,mas sim manter a ordem.Chamar mentiroso a este primeiro-ministro não é calúnia,é verdade.Passo a citar:"Não irei aumentar os impostos."Que fez ele?Então mentiu ou não mentiu?Os agentes da PSP que fizeram isto já têm a cabeça a prémio,tal como este 1º.Peneleirozinhos de mérda!
Estou inteiramente de acordo com o artigo. Tambem não compreendo o PS. Mas penso que compreendo Sócrates. O PM perde grande parte do seu tempo a ensaiar os seus shows, as suas aparições na televisão. Sócrates vive disso. A forma é que interessa, o conteúdo não. Ora é confrangedor que todas as vezes que o Sr PM aperta o nó da gravata e dá uma última vista de olhos ao espelho para aparecer na televisão, lá estão esses chatos dos professores e dos comunas a estragar o filme. Isso não se faz. Aí Sócrates tem razão.
"Sócrates (...) face ao poder pratica a compreensão; face ao indivíduo exerce o poder." Verdade... verdadinha. E nós, cada um de nós, não se comporta assim? O grande "truque" deste Governo de Sócrates é exactamente este: pegar em práticas e valores do eleitor padrão e apropriar-se deles para seguir o seu caminho. Veja-se o que fez com professores, férias judiciais, funcionários públicos e outros. Chama-se a isto "captar as grandes ondas". Depois é só navegar... até que alguém descubra o caminho e chegue lá primeiro que ele!
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