segunda-feira, outubro 08, 2007

Silêncios

De todos os seres, mesmo os que pensamos serem inacessíveis,
Os anjos são os que mais me fazem mais confusão.
Sim, fazem confusão porque os sinto, porque por vezes se fazem ouvir, como a leve brisa no mar
À noite.
Só quem já esteve no mar, longe de tudo e quase só, pode saber,
Porque não é o mesmo que uma charneca, ou o alto de um monte,
Ali, por vezes, podemos ouvir e perceber que não estamos sós.
Basta olhar para o céu, deitado mesmo que o frio nos tolha os dedos,
Esse frio que nos custa sentir e que se entranha nos ossos,
A mim, faz-me pensar que não estou só naqueles momentos,
Lembro-me dos meus fantasmas,
Dos que já partiram e que choro por vezes, sem que ninguém veja
Lembro-me dos que cheguei a odiar,
Lembro-me dos que adivinhei a morte no momento dela ocorrer,
Lembro-me do cheiro da pasta nova da escola primária,
Do cheiro do bibe,
Dos amigos e dos outros que sempre temos que enfrentar, mais tarde ou mais cedo,
Lembro-me da rispidez e da doçura disfarçada da velha professora,
Lembro-me das guerreias, dos socos,
Dos pontapés nas canelas que dava quando os grandalhões não esperavam, depois do estaladão,
Porque sempre tive a ideia que um homem grande, ou pequeno,
Pode ter uma sombra do tamanho que o sol lhe desenha,
Daí não ter medo do mar, á noite, no silêncio que só o mar tem,
O mar é como o deserto tem um silêncio igual, o vento não perturba,
O vento é uma parte do silêncio,
É uma companhia,
Como os anjos de que falo e com que falo ao adormecer ao olhar para as estrelas,
Mesmo com a luz de estai.
Essas sombras perseguem-me, porque as chamo,
Porque as desafio para as lembranças antigas, as boas e as más
As lágrimas fazem bem e sabem a mar,
Fazem um homem pensar que está vivo e que vale quando está só,
Porque só na solidão a grande multidão sabe que existe,
E que vale o invólucro humano,
Mas só aí, fora isso, a realidade é o sonho.


José Lopes Correia

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O meu País está atolado em corrupção. Uns metem a mão, os outros anseiam uma nova revolução. Os que têm o poder, não querem saber dos ideais da República. Querem é comer porque o tempo passa a correr.

segunda-feira, outubro 08, 2007  

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