quinta-feira, novembro 08, 2007

Bijutaria

"Sócrates arrisca-se a deslumbrar-se com os pequenos episódios de um protagonismo de vitórias obtidas no campo da dialéctica.

José Socrates. Perdeu uma boa oportunidade para mostrar ao país que tem um objectivo definido e um rumo para o atingir. Perdeu uma boa oportunidade para nos demonstrar que o seu Governo tem um desígnio estratégico que vai para além da gestão superficial do dia-a-dia da tesouraria nacional ou dos exercícios de duvidosa democraticidade que apenas têm por finalidade garantir a perpetuação dos actuais poderes. Sócrates arrisca-se a deslumbrar-se com os pequenos episódios de um protagonismo de vitórias obtidas no campo da dialéctica, descolando progressivamente de uma realidade que lhe vai sendo cada vez mais adversa. As pessoas até aturam os tiques de autoritarismo quando estes lhes dão retorno nos bolsos, folga no cinto e qualidade de vida. Mas, olhando para a situação actual, verificamos que os bolsos dos portugueses começam a ficar rotos de tanto esgravatar por mais uns fundos, o cinto aperta, a qualidade de vida perde-se ao que soma um certo adensar dos laivos de autoritarismo do primeiro-ministro. Trata-se de um caldo perigoso.

No debate orçamental, José Sócrates preferiu percorrer o caminho da pequena disputa política, porventura, sabendo que esse seria um terreno que lhe garantiria ganhos imediatos. E foi o que aconteceu. De orçamento, muito pouco. Da sobrecarga fiscal sobre os portugueses, menos ainda. De aumento da despesa primária, coisa nenhuma. Para a frente, um muro. Para trás, uma via rápida. Não surpreende, até porque esta atitude encerra uma característica muito nossa: perdemos tempo, espaço, energias e atenção a falar sobre o que foi sem cuidarmos de tratar do que vai ser.

A magna questão é que a vitória de Sócrates é feita do mesmo ar que insufla os balões mediáticos que decoram os espectáculos da artificialidade.


Luís Filipe Menezes. Num debate sobre orçamento, o que se exige ao maior partido da oposição é que leve para dentro da Assembleia o sentir da população, confrontando o Governo e em particular o primeiro-ministro, com os seus actos e omissões. As pessoas mal compreendem que aqueles que deveriam ser a sua voz de defesa acabem por perder todo o tempo disponível com uma introdução que apenas visava proteger um legado em que poucos encontram notas dignas de louvor. Não se vive todo o tempo de construções políticas assentes numa bijutaria comunicacional tão vazia quanto cansativa.

O debate orçamental pode não ter servido para muita coisa, considerando aqueles que devem ser os aspectos fundamentais da governação. Mas serviu para acabar com o estado de graça da liderança bicéfala do PSD. Se duvidas houvesse, ficou demonstrado com absoluta clareza que estamos perante um ‘tiket’ que transporta no seu interior o veneno de que se arrisca morrer
. "

Rita Marques Guedes

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O problema é que quem vota, vota na esmagadora maioria dos casos numa pessoa, mais ou menos bem falante e normalmente representante de interesses que não os do pa´si.
Dizem que a essência da democracia é o voto, ou que o voto e as eleições são a parte importnte da mesma. através dos partidos políticos.
Fica provado, aqui e em todo o planeta que a democracia parlamentar é um embuste.
Toupeira

quinta-feira, novembro 08, 2007  
Anonymous Anónimo said...

De embuste em embuste na Geórgia o que era bom ontem ontem hoje não é porque a mão russa é pior que a americana.
A democracia angolana e guineense, também o são. Nunca vi nenhum mandato emitido por Garzón em relação aos chefes destes estados com as mãos sujas de sangue e responsáveis pela morte à fome e pela doença da maioria da população.Toupeira

quinta-feira, novembro 08, 2007  

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