Chamar nomes
"O Sudão é um país fascinante: quando não está a massacrar as populações do Darfur, distribui chicotadas e cadeia séria por todos aqueles que usam o nome do Profeta em vão. Não admira que uma professora britânica tenha trocado as escolas de Londres por um colégio em Cartum. Quem, em juízo perfeito, não o faria? Infelizmente, a temporada sudanesa não correu propriamente como esperado: certo dia, a professora levou um ursinho de pelúcia para a sala de aulas e pediu aos alunos para baptizarem o boneco. Os alunos puxaram pelas meninges e deram ao boneco o nome mais comum entre os muçulmanos: Muhammad. A professora agradeceu com uma vénia e, depois, retirou-se sob escolta para uma cadeia local, onde tinha uma multidão enlouquecida pronta a linchá-la. O caso aguarda julgamento e o ministro da Justiça, outro Muhammad (nenhuma relação com o boneco), já fala em 3 anos de cadeia por incitamento à rebelião. O caso não é original: do "cartoon" de Maomé ao Maomé de Cartum, o Islão gosta de mostrar sazonalmente que é uma religião de paz. Um pormenor, porém, não deixa de me intrigar há vários anos: como é possível que o Islão pacífico puna com violência e morte as representações do Profeta - mas não considere blasfémia grave que a maioria dos terroristas ostente no bilhete de identidade o nome mais sagrado que existe? Claro que, entre baptizar um boneco ou massacrar centenas de inocentes, o crime do boneco é incomparavelmente mais grave. Mas talvez não fosse inútil considerar que um terrorista com o nome do Profeta não dá bom nome à casa."
João Pereira Coutinho
João Pereira Coutinho
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