Décimas
"Para o poder cada desempregado não é um desempregado: é um infinitésimo de desemprego, uma insignificância.
O Governo regozijou-se pelo facto do Eurostat se ter equivocado ao atribuir a Portugal uma taxa de desemprego de 8,5 por cento, relativa a Outubro passado, quando de facto a taxa será de 8,2 por cento. Três décimas a menos no desemprego – o que corresponderá a uns 17 mil desempregados num universo superior a 440 mil – já são motivo para regozijo por parte do Governo, tanto mais que essas três décimas fazem a diferença entre Portugal ser o primeiro ou o segundo a subir nas taxas do desemprego entre os 27 da União Europeia. Com menos três décimas Portugal e os portugueses sempre têm o conforto moral de saber que estão mal mas a Grécia está ainda pior.
Mas o Governo regozija-se principalmente pelo facto de toda a gente estar a discutir se o desemprego está nos 8,2 ou nos 8,5 por cento, uma cifra que não dá a dimensão da tragédia de 444 mil ou 461 mil indivíduos – homens e mulheres de carne, osso e espírito – sem emprego. É uma pecha dos tecnocratas reduzir tudo a números, percentagens, cifras, despindo-os do corpo e da alma dos que sentem e sofrem. E assim, um desempregado não é um desempregado: é uma insignificância do desemprego. E 440 mil desempregados são 8,2 por cento. O que não é quase nada para os que olhem a realidade apenas através dos números.
Para além do mais, a taxa de desemprego não tem particularidades nem sofrimento: os homens e mulheres desempregados de longa duração, os jovens licenciados sem saída profissional, os novos pobres, as assimetrias dentro do desemprego e outros dramas. Os portugueses estão cada vez mais reduzidos a algumas décimas de esperança".
João Paulo Guerra
O Governo regozijou-se pelo facto do Eurostat se ter equivocado ao atribuir a Portugal uma taxa de desemprego de 8,5 por cento, relativa a Outubro passado, quando de facto a taxa será de 8,2 por cento. Três décimas a menos no desemprego – o que corresponderá a uns 17 mil desempregados num universo superior a 440 mil – já são motivo para regozijo por parte do Governo, tanto mais que essas três décimas fazem a diferença entre Portugal ser o primeiro ou o segundo a subir nas taxas do desemprego entre os 27 da União Europeia. Com menos três décimas Portugal e os portugueses sempre têm o conforto moral de saber que estão mal mas a Grécia está ainda pior.
Mas o Governo regozija-se principalmente pelo facto de toda a gente estar a discutir se o desemprego está nos 8,2 ou nos 8,5 por cento, uma cifra que não dá a dimensão da tragédia de 444 mil ou 461 mil indivíduos – homens e mulheres de carne, osso e espírito – sem emprego. É uma pecha dos tecnocratas reduzir tudo a números, percentagens, cifras, despindo-os do corpo e da alma dos que sentem e sofrem. E assim, um desempregado não é um desempregado: é uma insignificância do desemprego. E 440 mil desempregados são 8,2 por cento. O que não é quase nada para os que olhem a realidade apenas através dos números.
Para além do mais, a taxa de desemprego não tem particularidades nem sofrimento: os homens e mulheres desempregados de longa duração, os jovens licenciados sem saída profissional, os novos pobres, as assimetrias dentro do desemprego e outros dramas. Os portugueses estão cada vez mais reduzidos a algumas décimas de esperança".
João Paulo Guerra
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