sexta-feira, dezembro 07, 2007

Entre as “indignidades” de Mugabe e as edificantes “dignidades” do imperialismo anglo-americano

John Pilger é um jornalista com coluna vertebral.
Nascido em 1939, em Sidney, na Austrália, tem sido um exemplo de coragem e independência de quaisquer poderes -religioso, político-ideológico, financeiro, corporativo, etc.
Múltiplas vezes premiado pelos artigos publicados em vários jornais, incluindo os dominados e controlados por lóbis políticos, financeiros e mediáticos globais, Pilger, também autor, produtor e realizador de documentários galardoados com inúmeras distinções, vive no seu país de adopção - a Inglaterra.
John, calcorreou os cinco continentes, na qualidade de combatente da liberdade e dos direitos humanos. Com carácter, nobreza, inquebrantável energia e uma arma poderosa - a palavra.
A torpe, encoberta, hipócrita e mal conhecida história dos impérios inglês, americano e anglo-americano tem nele um dos seus mais bravos investigadores e denunciadores.

O seu lema, em meio século de profissão é, simplesmente, inegociável e inflexível: “Jornalismo é um trabalho baseado em levantar pedras e, em nenhuma circunstância, aceitar como boa a versão oficial.”
Na recensão que faz a um dos seus últimos livros - “Freedom Next Time”/“A Liberdade segue dentro de momentos”, pvc) - Stephen Lendman , o autor do texto a seguir reproduzido, cita o próprio Pilger no parágrafo de abertura do seu livro: ”Este é um livro acerca do império, das suas fachadas e da prolongada luta do povo pela sua liberdade. É um antídoto às versões autorizadas da história contemporânea que censura, por omissão, e impõe dois pesos e duas medidas.”
A oportunidade deste artigo, releva do facto de termos assistido nos últimos meses a uma verdadeira ópera bufa sobre a alegadamente controversa e polémica vinda do Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, à cimeira EU-África que hoje se inicia, em Lisboa, e as teses que sobre o assunto expenderam governantes, jornalistas, comentadores e analistas da tragicomédia com quatro actores principais: Brown, Mugabe, Amado e, incontornavelmente, Sócrates.
Esperámos, até hoje, para verificar o que a mediática comunidade deste sítio à beira-NATO plantado escreveria, ou não, sobre o tema, para além, do “trivial e croquetes” com que nos anestesia diariamentente.
O “bárbaro” Mugabe por aí anda, semi-clandestino, atarefado com a cimeira euro-africana. Vai ser, duramente zurzido pelos altos dignitários dos 27 sobre as suas malfeitorias contra o povo zimbabueano . Será que alguém vai trazer à colação, durante as sabatinas civilizacionais judaico-cristãs, a história de outro povo, igualmente humilhado e ofendido - o chagossiano? No próximo domingo saberemos…
Com a devida vénia segue a transcição parcial (apenas relativa a Diego Garcia) do texto de S. Lendeman.
Pedro Varanda de Castro
MRA, Dep. Data Mining
Consultor

“Diego Garcia é uma pequena ilha de 217 km quadrados controlada pelos britânicos no arquipélago de Chagos no Oceano Índico (oficialmente conhecido como Território Britânico do Oceano Índico) que está situada estrategicamente a meio caminho entre a Ásia e a África.
Foi outrora o lar de 2 000 pessoas, “simpáticas crioulas”. São cidadãos britânicos mas, entre 1967 e 1973, foram enganados e expulsos pelo governo inglês para que a sua ilha natal passasse a ser uma base militar dos EUA.
Foram enviados para o exílio, um novo e inóspito lar nas Ilhas Maurícias, onde sete governos britânicos observaram o sofrimento de concidadãos deslocados à força. Ali subviviam e morriam. Nas palhotas para onde foram despejados. Na infra-humana pobreza que lhes foi imposta.
Este “acto de deportação em massa” foi perturbante e desonesto. Por isso, foi executado em segredo e, durante quase uma década, escondido do Senado e Congresso dos EUA.
Os chagossianos foram tratados com desprezo pois, não apenas perderam a sua terra natal, como foram ’condenados a não existir’.
Os EUA exigiram e estabeleceram as condições do acordo.
Washington ordenou que toda a população fosse expulsa e todo o negócio sujo fosse cirurgicamente ocultado.
Então, tal como agora, a Inglaterra alinhou neste inqualificável esquema.
Os autóctones não tiveram direito de expressão. Porém, aos que, mesmo assim ousavam recusar-se ao «diktat», mentiram-lhes e disseram-lhes que não tinham outra opção porque. alegadamente, “a sua deslocação era «legal» de acordo com as regras da britânica colónia.
No seu novo lar, a vida tornou-se um inferno. Os chagossianos viram-se numa outra sociedade, que nada tinha de semelhante com o seu habitat anterior.
Não conseguiram adaptar-se ao exílio.
Em Diego Garcia tinham casa, cultivavam o que comiam, pescavam e trabalhavam em plantações. Nas Maurícias tiveram que procurar trabalho para sobreviver. A esmagadora maioria não teve qualquer hipótese.
Resultado: em meados dos anos 70, a maior parte dos exilados estava desempregada, empobrecida e começou a sucumbir.
O ministério britânico dos Negócios estrangeiros e o Alto Comissariado ignoraram desdenhosamente o seu desespero.
Ordenaram-lhes que resolvessem o seu problema com o governo maurício.
O facto de aqueles deslocados serem cidadãos britânicos, sendo credores dos mesmos direitos de que gozava qualquer outro nacional da Britannia, foi simplesmente ignorada.
Tudo o que obtiveram como compensação foi 1 000 libras (cerca de 1500 euros) desde que, em troca, concordassem em renunciar ao seu direito de voltarem para a sua terra natal. Para tanto bastava só assinar um documento que, como cumpre, não sabiam ler.
A história deste «civilizacional» episódio ficou bem escondida até aos anos 90 quando foi descoberto nos Arquivos Nacionais de Kew, em Londres um “conjunto precioso de documentos que deixou de ser confidencial”.
Comprovou-se que havia uma conspiração entre dois governos.
O Artigo 7 do estatuto do Tribunal Criminal Internacional refere-o como uma “deportação ou transferência forçada duma população (e) um crime contra a humanidade”.
Apurou-se que violava, igualmente, o Artigo 73 da Carta da ONU que obriga um governo colonialista, como a Inglaterra, a respeitar a sua “sagrada obrigação” de proteger os direitos humanos do seu povo.
Vergonhosamente, a Inglaterra não fez nada disso. Muito pelo contrário. Qual invertebrada nação de contorcionistas, Londres arrastou-se aos pés de Washington e obedeceu às suas ordens.
De então para cá a submissão acrítica mantêm-se inalterada.
Os dois governos foram cúmplices no gigantesco encobrimento, durante uma década. Os mais alto dignitários dos poderes anglo-americanos sabiam de tudo e tudo fizeram para impedir que a verdade, alguma vez, pudesse transbordar para o domínio público.
Os envolvidos incluíram o primeiro-ministro Harold Wilson, a Rainha Isabel e os presidentes Johnson e Nixon, entre outros. Ocultaram o mais ínfimo detalhe. Com destaque para um tenebroso e secreto suborno financeiro, executado por Washington, nas barbas do Congresso dos EUA e do Parlamento britânico.
Porém, tal como a água e o azeite, logo que a verdade emergiu para a superfície do escrutínio público, as coisas mudaram. Em 3 de Novembro de 2000, o Supremo Tribunal britânico abalou o governo de Sua Majestade.
Escudando-se na Magna Carta, anulou a ordem de deportação inicial. Ou seja, reconheceu que os indígenas tinham pelo menos dois direitos: o da outorga de passaportes britânicos e o de regressarem à sua terra.
Foi uma vitória sim, mas de Pirro. Um ano depois os chagossianos voltaram ao Supremo Tribunal buscando a legítima compensação para o seu infortúnio.
Desta vez outro juiz, com adversa interpretação da lei.
Hostil, o magistrado considerou as reivindicações dos chagossianos como “imerecidas” e recusou-lhes provimento.
Três meses depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros, responsável por Chagos, enviou à rainha uma “Ordem do Conselho de Ministros” para ser aprovada ‘de cruz’.
A soberana, majestaticamente, sancionou a trapaça.
A dita ordem transformou a vitória do Supremo Tribunal , conquistada em 2000, numa pesada derrota, na secretaria, e impediu os ilhéus de regressarem a casa.
Quando John se encontrava a escrever este livro, registou que os chagossianos tinham voltado a Londres para um último recurso judicial perante o Supremo Tribunal. Desta feita para pedirem a anulação da recusa do governo em lhes reconhecer o direito de voltar à sua terra e dos seus antepassados. Mesmo após todos estes anos, este povo corajoso estava e está ainda firmemente determinado a alcançar a justiça que merece de pleno direito.
Esta chegou por fim a 11 de Maio de 2006 (depois de o livro de John estar finalizado). Uma sentença do Supremo Tribunal britânico considerou “repugnante” a decisão de deslocar os chagossianos, por insistência dos EUA.
A solícita “Ordem do Conselho de Ministros”, anteriormente referida, emitida durante o governo Blair, foi anulada.
O ministério dos Negócios Estrangeiros, porém, pode ainda decidir se vai apelar da sentença.
O mais provábel é que o faça, sob pressão dos EUA.
Tal não significa todavia, mesmo que a suprema e inapelável decisão judicial seja favorável aos chagossianos, que, alguma vez, sejam autorizados a regressar a Chagos. Pelo menos, enquanto Diego Garcia se mantiver como importante base militar americana.
A administração Bush não respeita a lei, vai provavelmente ignorá-la e a nova administração americana, a ser eleita em 2008, pode fazer o mesmo. Ignora-se se alguma vez será feita justiça nesta interminável tragédia. No entanto, também é provável que os chagossianos nunca desistam.”
Nota: Existe algum material interessante sobre o tema na net, designadamente em inglês (o ponto de partida da busca podem ser os sites em inglês indicados no texto de abertura. Para os interessados em aprofundar o tema, em português, sugerimos três links:
http://www.infoalternativa.org/autores/pilger/pilger003.htm (Out/2004)
http://diplo.uol.com.br/2001-12,a153 (Dez/2001)
http://iscte.pt/~apad/dos%20jornais/Acta%20de%20Acusax%20%204.doc (????)
Onde andará o solicito justiceiro vesgo?
Entretenham-se e aceitam-se insultos.
Mas lembro um programinha acerca da guerra de África e das províncias ultramarinas e quem pressionou quem.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Roubando uma nação ao bom estilo da pirataria ainda hoje em voga.
Drake um herói fez isso no Algarve, é claro que era em nome da aliança, dele com a rainha.

sexta-feira, dezembro 07, 2007  
Anonymous Anónimo said...

No site brasileiro descobre-se uma coisa igual ao Kosovo, ou é como olhar para um espelho, basta importar ciganos e impor a maioria.

sexta-feira, dezembro 07, 2007  

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