Pelos africanos.
"Os europeus querem apenas salvaguardar o que resta dos seus interesses económicos em África. Antes que os chineses comam tudo. Neste fim-de-semana os líderes europeus e africanos vão brincar às casinhas em Lisboa. Tudo numa boa. Para Portugal ver e suportar os condicionamentos do trânsito. Mas porquê este folclore? Discutir África e as suas relações com a Europa teria necessariamente de passar pela discussão dos grandes problemas dos africanos. Fome. Mortes por inanição. Sida. Tuberculose. Malária e todas as outras doenças não mortais, mas que em África continuam a matar. Analfabetismo. Escravatura de homens, mulheres e crianças. A esperança de vida ultrajante. A cleptocracia florescente essencialmente nos países produtores de petróleo. Todo o tipo de corrupção. Mas não.
O que se vai discutir é o acesso às matérias-primas. O investimento estrangeiro. Como cada uma das partes pode enriquecer à custa da outra. A Europa dos valores está gravemente ferida. Cega com os números. E é essa cegueira que quer transmitir aos líderes africanos. Os verdadeiros problemas das populações africanas não interessam a muitos dos seus líderes, se não muito subsidiáriamente e na medida em que podem ajudar a mantê-los no poder. A globalização do acesso à saúde, à educação e a uma vida condigna não consta da agenda real. Por consenso dos participantes. Que, assim, se uniformizam nas filosofias, nas posturas e intenções. Naquilo que verdadeiramente valem. Promovida para a presidência portuguesa, em final de mandato(s), fazer currículo. E nada mais. Por isso esta ‘cimeira’ UE-África vai decorrer na santa paz dos anjos. Com a sombra tutelar de Mugabe, Kadhafi, Yusuf Ahmed, Zenawwi, Biya, Omar al Bashir e um lote muito diversificado de tiranos menores. O recuperado Kadhafi já não é receado. Mugabe não incomoda nenhum dos presentes. Omar al Bashir idem aspas. Tudo boa gente, afinal. Ninguém quer polémicas nem discussões complicadas.
A presidência portuguesa, que felizmente está no fim, cumpre um ciclo de faxineiro desejoso de mostrar serviço. Ficará contente se nada der para o torto e não tem mais aspirações. Os restantes líderes europeus vêm para marcar o ponto. Sabem que os grandes interesses económicos se não discutem em cimeiras mas em recatados gabinetes devidamente insonorizados. Os europeus querem apenas salvaguardar o que resta dos seus interesses económicos em África. Antes que os chineses comam tudo. Numa espécie de neocolonilismo doce para que se reclama o assentimento dos líderes africanos. Porque haverá brindes para todos. Quem quiser falar dos dramas de África, que fale. Mas em voz baixa e nos corredores. Como conspiradores envergonhados.
Direitos humanos? Qual o quê? Se até na Europa esses direitos começam a ficar em risco, o que podem estes líderes europeus ensinar, prometer ou garantir às populações africanas? Ou exigir aos seus líderes? Nada. Esta cimeira vai saldar-se pela maior mentira da presidência portuguesa. Bem vindos senhor Mugabe e seus iguais. O império de Sua Majestade já fez a sua rábula e tudo irá correr pelo melhor. E muito obrigado por ter servido de manobra de diversão. Os povos africanos continuarão a morrer em genocídios, à fome e por falta de assistência médica. A Somália existe? A Etiópia não é uma invenção de visionários românticos? Darfur? Onde é que fica isso? "
João Marques dos Santos
O que se vai discutir é o acesso às matérias-primas. O investimento estrangeiro. Como cada uma das partes pode enriquecer à custa da outra. A Europa dos valores está gravemente ferida. Cega com os números. E é essa cegueira que quer transmitir aos líderes africanos. Os verdadeiros problemas das populações africanas não interessam a muitos dos seus líderes, se não muito subsidiáriamente e na medida em que podem ajudar a mantê-los no poder. A globalização do acesso à saúde, à educação e a uma vida condigna não consta da agenda real. Por consenso dos participantes. Que, assim, se uniformizam nas filosofias, nas posturas e intenções. Naquilo que verdadeiramente valem. Promovida para a presidência portuguesa, em final de mandato(s), fazer currículo. E nada mais. Por isso esta ‘cimeira’ UE-África vai decorrer na santa paz dos anjos. Com a sombra tutelar de Mugabe, Kadhafi, Yusuf Ahmed, Zenawwi, Biya, Omar al Bashir e um lote muito diversificado de tiranos menores. O recuperado Kadhafi já não é receado. Mugabe não incomoda nenhum dos presentes. Omar al Bashir idem aspas. Tudo boa gente, afinal. Ninguém quer polémicas nem discussões complicadas.
A presidência portuguesa, que felizmente está no fim, cumpre um ciclo de faxineiro desejoso de mostrar serviço. Ficará contente se nada der para o torto e não tem mais aspirações. Os restantes líderes europeus vêm para marcar o ponto. Sabem que os grandes interesses económicos se não discutem em cimeiras mas em recatados gabinetes devidamente insonorizados. Os europeus querem apenas salvaguardar o que resta dos seus interesses económicos em África. Antes que os chineses comam tudo. Numa espécie de neocolonilismo doce para que se reclama o assentimento dos líderes africanos. Porque haverá brindes para todos. Quem quiser falar dos dramas de África, que fale. Mas em voz baixa e nos corredores. Como conspiradores envergonhados.
Direitos humanos? Qual o quê? Se até na Europa esses direitos começam a ficar em risco, o que podem estes líderes europeus ensinar, prometer ou garantir às populações africanas? Ou exigir aos seus líderes? Nada. Esta cimeira vai saldar-se pela maior mentira da presidência portuguesa. Bem vindos senhor Mugabe e seus iguais. O império de Sua Majestade já fez a sua rábula e tudo irá correr pelo melhor. E muito obrigado por ter servido de manobra de diversão. Os povos africanos continuarão a morrer em genocídios, à fome e por falta de assistência médica. A Somália existe? A Etiópia não é uma invenção de visionários românticos? Darfur? Onde é que fica isso? "
João Marques dos Santos
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