segunda-feira, janeiro 07, 2008

Vida difícil.

"Se, por um lado a verdade se tornou quase impossível de apurar, a mentira institucionalizou-se e passou a ser aceite como coisa natural. Começa a ser muito difícil e arriscado escrever em Portugal. A confusão social atinge níveis pouco propícios à preparação do país para os desafios mundiais que tem que enfrentar. O conhecimento da verdade subjacente aos factos que vão sendo noticiados é cada vez mais difícil de apurar. Quem conhece a verdade não a diz e quem diz não conhece a verdade. Quem se atreve a levantar questões pertinentes é trucidado sem saber mesmo quem o trucida. A difamação, as cartas anónimas que acabam assumidas como verdade, a condenação de homens públicos antes de qualquer julgamento, atingem proporções só conhecidas em épocas de extremismos. Os ‘lobbies’ que se degladiam, obscuros e omnipresentes, não poupam quem se oponha às suas intenções, aos seus desígnios. As mais respeitadas instituições são manipuladas. Neste enquadramento, como pode alguém escrever sem se expor abertamente a transformar-se num alvo a “abater”? Quem pode escrever com a certeza de que o que diz corresponde à verdade? Quem pode escrever sem ter a amarga sensação de que o que escreve não vai influenciar em nada a melhoria da situação moral e económica do país, mas que terá um custo pessoal certo.

Se, por um lado a verdade se tornou quase impossível de apurar, a mentira institucionalizou-se e passou a ser aceite como coisa natural. Coisa tão natural que mesmo os responsáveis em altos cargos não sofrem qualquer penalização, nem mesmo da opinião pública, quando pronunciam afirmações que, objectivamente, não correspondem à verdade.

Compreende-se, assim, que o Presidente da República se tenha tornado numa referência muito especial da Nação. Não só porque é o mais alto magistrado da Nação e o garante da coesão nacional mas porque, no desempenho repetido de altos cargos públicos, revelou uma exemplaridade de comportamento e uma coerência entre o afirmado e os factos verificados que levam, com razão, os portugueses a confiarem no que diz e a escutarem-no com acrescida sofreguidão nesta época de inverdades e de incerteza.

O Presidente da República, por isso, pesa tudo quanto diz, com detenimento. Como o fez na sua mensagem de Ano Novo. Chamou a atenção para muitos problemas que o país tem para enfrentar e resolver. E tocou num ponto muito sensível, que colheu as prioridades dos jornalistas e dos políticos que, todos os dias desde então, o noticiam, comentam, voltam a noticiar e a comentar.

Trata-se da afirmação de que os membros de administrações (direcções) de empresas auferem ordenados muito desproporcionados relativamente aos salários recebidos pelos trabalhadores menos qualificados. Eu creio saber a que empresa(s) o Senhor Presidente se referia. Particularmente a uma, bem no centro das atenções nacionais. E, reflectindo sobre como o Presidente da República poderia ter chamado a atenção para aquele caso, sem correr o risco de o dizer como disse, chego à conclusão de que, infelizmente, não havia outra forma de o dizer. Disse-o, sem o poder dizer de outra forma, mas correndo um risco inevitável, risco esse que os media estão a alimentar.

De facto, neste inelutável processo de globalização com que os países se defrontam, a luta de classes baseada no princípio marxista do trabalho contra o capital, que entretanto se esbateu, se reavivada, recriará conflitos incompatíveis com a realidade corrente. Hoje, nas empresas, estão todos no mesmo barco. Se se afundam, afundam-se os empresários, os gestores e os trabalhadores de qualquer nível de qualificação, que dificilmente encontram, na Europa, outros empregos. Se as empresas se levantam, progridem, é saudável e factor de progresso adicional que todos participem no sucesso. Isto é, que no estímulo remuneratório participem todos os que participaram na criação da riqueza e não apenas alguns. Creio que era para este último facto que o PR queria chamar a atenção. Mas o alarido que tem sido feito sobre as suas afirmações, a continuar, vai despertar uma antiga e perigosa conflitualidade entre “classes” dentro das empresas, que se pode generalizar e pôr em perigo a coesão entre todos, empresários, gestores e outros trabalhadores, factor fundamental para se vencer numa economia globalizada
."

António Neto da Silva

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Neto da Silva e filho de quem?
Somos todos ursos?

segunda-feira, janeiro 07, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Já todos sabem que o poder e o capital são uma mistura explosiva, e o mundo é dos espertos e continuará a ser, porque se o povo fosse inteligente, votava em BRANCO, para acabar com as politiquices, e dar algum trabalho ao presidente da republica. Com esta utupia real,deixavam de MIMAR o poder com tantos elegios?!,e, deixavam o capital à deriva sem "proteccões" para não se tentarem a "boas acções sociais", porque a selva também não está protegida com muros ou vedações.Mas serão precisos alguns dias para deixar de ser mentira, chegará lá pela altura do desemprego chegar aos 2 dígitos, com a crescente onda de falências empresariais que desde 2002 não pára de subir e este flagelo infelizmente não é só Português, é por toda a Europa, e continuamos a ver os politiqueiros a rirem-se e só preocupados com os terroristas dos Dakar,s. viva a res_publica.

segunda-feira, janeiro 07, 2008  

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