A ilusão Obama
"Não deixa de ser interessante que a maioria dos europeus apoie o candidato, culturalmente, mais próximo de Bush.
Para a maioria dos europeus, Barak Obama é o preferido dos candidatos americanos. Perguntaram a alemães, britânicos e franceses quem escolheriam entre Obama e Hillary Clinton, e a maioria optou pelo primeiro. Curiosamente, McCain ficou de fora do inquérito. Aparentemente, na Europa, poucos duvidam da vitória do candidato democrata. Obama é, portanto, o candidato ‘europeu’. Mas é apenas o candidato para as eleições americanas. Coisa que nunca passaria pela cabeça da maioria dos europeus seria ter um primeiro-ministro ou um Presidente negro no seu próprio país.
Convém fazer as duas perguntas óbvias: em primeiro lugar, seria bom para a Europa que Obama fosse eleito Presidente americano? Depois, por que razão Obama é o candidato ‘europeu’? Há dois critérios que permitem estabelecer as preferências dos europeus em relação às eleições americanas. O primeiro é a afinidade ideológica. As principais ideias, doutrinas e políticas públicas de esquerda ou de direita, sociais-democratas, liberais ou conservadoras são universais. Um europeu de centro-esquerda apoia naturalmente um candidato americano democrata e um europeu de centro-direita um candidato republicano. Entre os candidatos democratas, Clinton tem propostas mais à esquerda do que Obama, principalmente nas questões sociais e fiscais. Para a esquerda europeia, o programa económico e social de Obama é claramente liberal e, proposto por um político europeu, seria logo atacado por ser de direita. Não faz assim muito sentido que a esquerda europeia, entre Obama e Clinton, prefira o primeiro. Já se compreende que a direita europeia o escolha. O que não se entende, segundo o critério ideológico, é que haja entre a direita europeia quem prefira Obama a McCain. Principalmente, tendo em conta que o senador do Arizona não pertence à direita religiosa e evangélica; esta sim, muito diferente da direita europeia.
O segundo critério já não é ideológico, mas político. Independentemente de ser democrata ou republicano, os europeus deveriam apoiar o candidato cuja política externa partilhasse o maior número de interesses com os países europeus. Em primeiro lugar, depois da turbulência dos anos das presidências Bush, um candidato que se empenhe na relação transatlântica. A semana passada, participei numa discussão organizada por um “Think-Tank”, sobre os candidatos e a política externa americana, onde estavam conselheiros de McCain, Clinton e Obama. Depois do encontro, não tenho dúvidas: Obama é o candidato que dá menos importância à Europa. Um antigo diplomata britânico colocou uma simples questão: qual foi a última vez que Obama tinha estado na Europa: os seus apoiantes não sabiam. Mas tinham a certeza que nunca tinha estado em Bruxelas. Se Obama for eleito, a Europa estará longe de ser uma prioridade para o futuro Presidente americano. Quer McCain, quer Clinton darão muito mais importância às relações com a Europa.
Ou seja, Obama é o candidato democrata que, ideologicamente, menos se identifica com a esquerda europeia e é aquele que dá menos importância à relação transatlântica, e mesmo assim é o candidato ‘europeu’. Estão assim identificadas as razões que levam a maioria dos europeus a preferir Obama. O apoio a Obama mostra, antes de mais, que a ideologia é cada vez menos importante para a maioria dos europeus. A imagem conta muito mais do que a substância. Os europeus gostam da imagem de Obama, mas ligam pouco às suas propostas políticas. Em segundo lugar, para a maioria dos cidadãos europeus, muito mais do que o lugar da relação transatlântica nas prioridades do próximo inquilino da Casa Branca, o que conta é que ganhe o candidato que pareça ser o mais ‘anti-Bush’.
Desconfio que estão completamente enganados. A guerra no Iraque, a ligação à religião e a recusa em assinar um regime global de luta contra as alterações climáticas são os três pecados maiores de Bush. É verdade que Obama foi contra a guerra. Todavia, não foi por ser um pacifista, mas sim devido aos seus instintos mais isolacionistas. De resto, é o candidato mais influenciado pela religião e o que menos fala de um regime internacional pós-Kyoto. Com as devidas diferenças, Obama faz parte de ‘mesma América’ que Bush. Uma América para a qual o internacionalismo multilateral e a relação especial com a Europa pouco conta e a fé religiosa tem uma ligação muito próxima com os valores políticos. Não deixa de ser interessante que a maioria dos europeus apoie o candidato, culturalmente, mais próximo de Bush."
João Marques de Almeida
Para a maioria dos europeus, Barak Obama é o preferido dos candidatos americanos. Perguntaram a alemães, britânicos e franceses quem escolheriam entre Obama e Hillary Clinton, e a maioria optou pelo primeiro. Curiosamente, McCain ficou de fora do inquérito. Aparentemente, na Europa, poucos duvidam da vitória do candidato democrata. Obama é, portanto, o candidato ‘europeu’. Mas é apenas o candidato para as eleições americanas. Coisa que nunca passaria pela cabeça da maioria dos europeus seria ter um primeiro-ministro ou um Presidente negro no seu próprio país.
Convém fazer as duas perguntas óbvias: em primeiro lugar, seria bom para a Europa que Obama fosse eleito Presidente americano? Depois, por que razão Obama é o candidato ‘europeu’? Há dois critérios que permitem estabelecer as preferências dos europeus em relação às eleições americanas. O primeiro é a afinidade ideológica. As principais ideias, doutrinas e políticas públicas de esquerda ou de direita, sociais-democratas, liberais ou conservadoras são universais. Um europeu de centro-esquerda apoia naturalmente um candidato americano democrata e um europeu de centro-direita um candidato republicano. Entre os candidatos democratas, Clinton tem propostas mais à esquerda do que Obama, principalmente nas questões sociais e fiscais. Para a esquerda europeia, o programa económico e social de Obama é claramente liberal e, proposto por um político europeu, seria logo atacado por ser de direita. Não faz assim muito sentido que a esquerda europeia, entre Obama e Clinton, prefira o primeiro. Já se compreende que a direita europeia o escolha. O que não se entende, segundo o critério ideológico, é que haja entre a direita europeia quem prefira Obama a McCain. Principalmente, tendo em conta que o senador do Arizona não pertence à direita religiosa e evangélica; esta sim, muito diferente da direita europeia.
O segundo critério já não é ideológico, mas político. Independentemente de ser democrata ou republicano, os europeus deveriam apoiar o candidato cuja política externa partilhasse o maior número de interesses com os países europeus. Em primeiro lugar, depois da turbulência dos anos das presidências Bush, um candidato que se empenhe na relação transatlântica. A semana passada, participei numa discussão organizada por um “Think-Tank”, sobre os candidatos e a política externa americana, onde estavam conselheiros de McCain, Clinton e Obama. Depois do encontro, não tenho dúvidas: Obama é o candidato que dá menos importância à Europa. Um antigo diplomata britânico colocou uma simples questão: qual foi a última vez que Obama tinha estado na Europa: os seus apoiantes não sabiam. Mas tinham a certeza que nunca tinha estado em Bruxelas. Se Obama for eleito, a Europa estará longe de ser uma prioridade para o futuro Presidente americano. Quer McCain, quer Clinton darão muito mais importância às relações com a Europa.
Ou seja, Obama é o candidato democrata que, ideologicamente, menos se identifica com a esquerda europeia e é aquele que dá menos importância à relação transatlântica, e mesmo assim é o candidato ‘europeu’. Estão assim identificadas as razões que levam a maioria dos europeus a preferir Obama. O apoio a Obama mostra, antes de mais, que a ideologia é cada vez menos importante para a maioria dos europeus. A imagem conta muito mais do que a substância. Os europeus gostam da imagem de Obama, mas ligam pouco às suas propostas políticas. Em segundo lugar, para a maioria dos cidadãos europeus, muito mais do que o lugar da relação transatlântica nas prioridades do próximo inquilino da Casa Branca, o que conta é que ganhe o candidato que pareça ser o mais ‘anti-Bush’.
Desconfio que estão completamente enganados. A guerra no Iraque, a ligação à religião e a recusa em assinar um regime global de luta contra as alterações climáticas são os três pecados maiores de Bush. É verdade que Obama foi contra a guerra. Todavia, não foi por ser um pacifista, mas sim devido aos seus instintos mais isolacionistas. De resto, é o candidato mais influenciado pela religião e o que menos fala de um regime internacional pós-Kyoto. Com as devidas diferenças, Obama faz parte de ‘mesma América’ que Bush. Uma América para a qual o internacionalismo multilateral e a relação especial com a Europa pouco conta e a fé religiosa tem uma ligação muito próxima com os valores políticos. Não deixa de ser interessante que a maioria dos europeus apoie o candidato, culturalmente, mais próximo de Bush."
João Marques de Almeida
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