Notas à solta
"O Portugal “moderno” é um país em roda livre onde a irresponsabilidade e o expediente resumem toda a ortodoxia democrática.
O país anda numa excitação. Senão, observe-se esta fantástica sequência. Existe um edifício público que reverte a favor de um Casino, mas não existe responsável político pela “transferência da propriedade”. Depois vem o caso de um ministro que terá assinado 300 despachos numa única noite. A seguir surge o Director Nacional da Polícia Judiciária a reconhecer a “precipitação” das autoridades no Caso McCann. Para ajudar à exaltação, um jornal de referência afirma que o primeiro-ministro, na sua condição de “jovem técnico”, terá assinado vários projectos para soberbas “moradias de emigrantes”. De acordo com o mesmo jornal, o primeiro-ministro, enquanto “jovem político”, teria acumulado um pequeno subsídio pela exclusividade à causa pública. Que Portugal é este? É um país translúcido, previsível e pequeno. O Portugal “moderno” é um país em roda livre onde a irresponsabilidade e o expediente resumem toda a ortodoxia democrática.
Há ainda o “caso” do bastonário da Ordem dos Advogados. Em lugar de uma postura institucional, serena e juridicamente responsável, o bastonário resolveu ser simplesmente “cidadão”. Surge então um bastonário de perfil político, indignado face ao poder e revoltado com as injustiças deste mundo. Na visão do bastonário, Portugal é uma imensa conspiração, dominado por “poderes fácticos” e outros “interesses obscuros”. Os advogados elegeram um justiceiro contra os velhos fumos da corrupção. Mas de um bastonário justiceiro, o país só pode exigir a proposta de uma “operação mãos-limpas”. Será que existe coragem, ou tudo se resume aos estados de alma de um cidadão bastonário?
Perante tão admirável agitação, o primeiro-ministro opta pelo expediente da ponderação. Uma ponderação imposta pelo receio eleitoral de um desastre à esquerda. Para todos os efeitos, Sócrates desistiu da política e concentra-se na gestão administrativa de um Governo conformista. A mais recente remodelação implica seis meses de estagnação. Em vez do reforço das reformas e da modernização, a remodelação de Sócrates tem como objectivo anestesiar politicamente o país. Entre ‘dossiers’ e acertos e reacertos de método, o primeiro-ministro pretende ganhar tempo para preparar o embate eleitoral com vista à obtenção de uma nova maioria absoluta. Mas a pausa de Sócrates é a prova de um país disfuncional onde a oposição não se opõe. E sem oposição política, Sócrates transforma Portugal no país do Lego – plástico, colorido, infantil. "
Carlos Marques de Almeida
O país anda numa excitação. Senão, observe-se esta fantástica sequência. Existe um edifício público que reverte a favor de um Casino, mas não existe responsável político pela “transferência da propriedade”. Depois vem o caso de um ministro que terá assinado 300 despachos numa única noite. A seguir surge o Director Nacional da Polícia Judiciária a reconhecer a “precipitação” das autoridades no Caso McCann. Para ajudar à exaltação, um jornal de referência afirma que o primeiro-ministro, na sua condição de “jovem técnico”, terá assinado vários projectos para soberbas “moradias de emigrantes”. De acordo com o mesmo jornal, o primeiro-ministro, enquanto “jovem político”, teria acumulado um pequeno subsídio pela exclusividade à causa pública. Que Portugal é este? É um país translúcido, previsível e pequeno. O Portugal “moderno” é um país em roda livre onde a irresponsabilidade e o expediente resumem toda a ortodoxia democrática.
Há ainda o “caso” do bastonário da Ordem dos Advogados. Em lugar de uma postura institucional, serena e juridicamente responsável, o bastonário resolveu ser simplesmente “cidadão”. Surge então um bastonário de perfil político, indignado face ao poder e revoltado com as injustiças deste mundo. Na visão do bastonário, Portugal é uma imensa conspiração, dominado por “poderes fácticos” e outros “interesses obscuros”. Os advogados elegeram um justiceiro contra os velhos fumos da corrupção. Mas de um bastonário justiceiro, o país só pode exigir a proposta de uma “operação mãos-limpas”. Será que existe coragem, ou tudo se resume aos estados de alma de um cidadão bastonário?
Perante tão admirável agitação, o primeiro-ministro opta pelo expediente da ponderação. Uma ponderação imposta pelo receio eleitoral de um desastre à esquerda. Para todos os efeitos, Sócrates desistiu da política e concentra-se na gestão administrativa de um Governo conformista. A mais recente remodelação implica seis meses de estagnação. Em vez do reforço das reformas e da modernização, a remodelação de Sócrates tem como objectivo anestesiar politicamente o país. Entre ‘dossiers’ e acertos e reacertos de método, o primeiro-ministro pretende ganhar tempo para preparar o embate eleitoral com vista à obtenção de uma nova maioria absoluta. Mas a pausa de Sócrates é a prova de um país disfuncional onde a oposição não se opõe. E sem oposição política, Sócrates transforma Portugal no país do Lego – plástico, colorido, infantil. "
Carlos Marques de Almeida
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