sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Dias perigosos

"A vida está perigosa para os optimistas. Ontem, o circunspecto presidente do Banco Central Europeu atirou às urtigas a tese oficial de que só lhe interessa policiar a inflação. Afinal, não é verdade.

O crescimento económico, apesar de não fazer parte da cartilha do BCE, também inquieta Jean-Claude Trichet nestes dias de incerteza. Quando o banqueiro central se preocupa, o franzir do sobrolho traduz-se habitualmente em números. Regra geral, significa baixa de juros, dinheiro mais barato para estimular a economia que segue, cada vez mais, em plano inclinado.

Chegados aqui, fazem-se apostas: quando e quanto baixarão os juros? A semana passada, quando a Reserva Federal Americana cortou à bruta a taxa directora (menos 1,25%) os analistas apontavam Maio como o ponto máximo de resistência da Europa. A partir daí, o coração duro de Trichet cederia aos apelos chorosos dos governos. Cederia uma primeira vez e depois, perdida a vergonha, as que fossem necessárias para equilibrar um barco a meter água. Em sete dias o cenário piorou: afinal, o corte de juros deverá chegar mais cedo, a qualquer momento, talvez já em Abril. Aqui ao lado, Espanha houve as notícias de mão estendida. Em Janeiro, a lista de desempregados aumentou ao ritmo de 4.300 pessoas por dia. Fecharam metade das agências imobiliárias: 40 mil. A um mês das eleições, Zapatero maquilha os números como pode, mas não consegue disfarçar a cicatriz: inflação galopante, crescimento revisto em baixa, bolsa a cair e a cair. Pânico. Resta o mercado sul-americano para amortecer a queda. Mas amortecer não é o mesmo que evitar. Espanha terá de enfrentar o touro pelos cornos.

Por cá, a vida também não está fácil. Os fundos de Bruxelas (QREN) são um balão de oxigénio. Os três mil milhões de euros de investimentos nacionais e estrangeiros – um valor idêntico ao realizado em 2007 –, previstos por Basílio Horta, presidente da AICEP, também dão uma ajuda. Ainda assim, apesar do esforço, as calças ficam curtas: é preciso mais dinheiro para investir, mais dinheiro para não desbaratar o capital de confiança que ganhava visibilidade. Mas o ar está envenenado: a dinâmica ainda não se perdeu, mas chocou contra uma parede de betão. As exportações para Espanha (28% do total) serão as primeiras vítimas. Os empresários já estão a antecipar uma desaceleração, só não sabem a força da travagem. Menos investimento, menos consumo, desemprego. É tempo de cerrar os dentes e abrir bem os olhos: apertem os cintos, o ano está cheio de curvas.
"

André Macedo

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