sexta-feira, março 14, 2008

Cinema Paraíso

"O PSD de hoje é habitado por fantasmas. Sobra um PSD mais preocupado em segurar Menezes do que em combater Sócrates.

Agora é oficial. Portugal vive no paraíso e ainda não sabe. O País é governado por um primeiro-ministro que tem consigo a “força da razão”. Que importam protestos, manifestações e a oposição quando Sócrates encontrou a solução para Portugal? Nada, são apenas o ruído insatisfeito das forças do passado. Neste particular, Sócrates é um “racionalista”, não reconhece qualquer experiência a não ser a sua própria experiência, fala e age em nome de uma razão que exclui todos os que dela discordam, não reconhece o melhor de acordo com as circunstâncias e ensaia uma política da uniformidade. Em consequência, o Governo de Sócrates “não perde tempo com o que fez mal”. E fica feito o balanço de três anos de governação.

Este é o mito de Sócrates. No entanto, a realidade ameaça a higiene do mito. Observe-se a política de educação no capítulo “avaliação de professores” no Portugal pós-manifestação. Primeiro, surge o argumento da “sensibilidade social” e propõe-se a flexibilidade do diálogo e da negociação. Segundo, adianta-se a ideia de um regime experimental em “estabelecimentos de ensino seleccionados”. Terceiro, introduz-se um novo patamar que consiste na avaliação da avaliação. Quarto, por acção da “força da razão”, a política de educação mantém-se em regime de cruzeiro, não havendo motivo para alterações, correcções ou adiamentos.

Na realidade política da Nação, Sócrates desliza num tapete rolante, enquanto o Governo finge que avança quando simplesmente recua.

Mas o paraíso de Sócrates é também o purgatório de Menezes. Num acesso de originalidade, Menezes pensa que a sua afirmação política implica a negação e o corte com o passado. Como tal, o PSD de hoje é habitado por sombras e fantasmas. E deste modo se compreende a tentação de um partido fechado e a projecção de um PSD mais preocupado em segurar Menezes do que em combater Sócrates.

A personalidade política de Menezes confunde-se com a figura trágica de MacBeth, ou a ideia de um líder marcado pela dúvida e pela ambição. É esta peculiar associação da dúvida e da ambição que justifica todos os actos, todas as palavras e discursos, enfim, que justifica a disparidade de poucas e tantas políticas.

O programa político de Menezes está contido na famosa Declaração do Coliseu – tudo contra o PSD “sulista, elitista e liberal” e mais a afirmação da mitologia das bases. A crise do PSD coincide com a coerência de Menezes. Ainda há lugar para surpresas
?"

Carlos Marques de Almeida

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