A ESCOLA LITERALMENTE PRIMÁRIA
"Em matéria de Educação, só podemos ser optimistas: apesar dos melodramas em curso, não é possível piorar as coisas. E, salvo para umas dúzias de esperançosos lunáticos, não há nisso razão para ressentimentos ou queixumes. Lunáticos à parte, já ninguém imagina que caiba ao ensino público a responsabilidade de ensinar o que quer que seja. Os sucessivos ministérios brincam às sucessivas "reformas". Os professores, ou pelo menos a porção ruidosa deles, defendem os direitos corporativos. As criancinhas especializam-se em "sms" e afundam-se olimpicamente na matemática, nas ciências e no português. Pelo meio, as associações de pais adquirem inusitada influência e, sem querer, resumem à pátria o que realmente conta.
A confederação do ramo, a Confap, exige "melhores escolas", leia-se refeições para os alunos, refeitórios, ocupação de oito horas/dia, actividades de "enriquecimento curricular", "equipas de apoio interdisciplinares", etc. No fundo, os pais não querem uma escola: querem um albergue que lhes acolha a prole e a proteja durante o expediente. E é, afinal, o que têm, em consequência de um processo arrasador que dura há décadas. O resto é circo, incluindo a estapafúrdia "avaliação" dos professores que o ministério inventou para mostrar que existe e simular que a avaliação é chamada ao assunto. E incluindo a reacção de inúmeros professores à mais vaga (e equívoca) ameaça de exigência.
Há muito que o ensino, no sentido rigoroso do termo, é em Portugal um caso perdido. Há muito que se assemelha igualmente a um caso de polícia. Mas a polícia, por cá, está atarefada no levantamento estatístico dos professores que participam em manifestações. Os números, pedem os agentes aos albergues, perdão, às escolas. Os números. Os números são essenciais. Não fossem os autodidactas da PSP e não teríamos quem ainda exercitasse a aritmética."
Alberto Gonçalves
A confederação do ramo, a Confap, exige "melhores escolas", leia-se refeições para os alunos, refeitórios, ocupação de oito horas/dia, actividades de "enriquecimento curricular", "equipas de apoio interdisciplinares", etc. No fundo, os pais não querem uma escola: querem um albergue que lhes acolha a prole e a proteja durante o expediente. E é, afinal, o que têm, em consequência de um processo arrasador que dura há décadas. O resto é circo, incluindo a estapafúrdia "avaliação" dos professores que o ministério inventou para mostrar que existe e simular que a avaliação é chamada ao assunto. E incluindo a reacção de inúmeros professores à mais vaga (e equívoca) ameaça de exigência.
Há muito que o ensino, no sentido rigoroso do termo, é em Portugal um caso perdido. Há muito que se assemelha igualmente a um caso de polícia. Mas a polícia, por cá, está atarefada no levantamento estatístico dos professores que participam em manifestações. Os números, pedem os agentes aos albergues, perdão, às escolas. Os números. Os números são essenciais. Não fossem os autodidactas da PSP e não teríamos quem ainda exercitasse a aritmética."
Alberto Gonçalves

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