domingo, março 09, 2008

A LESTE DA DECÊNCIA

"Leio que Gastão Salsinha se entregou a Gino Neves, chefe da polícia militar timorense. Depois leio que Gastão Salsinha afinal não se entregou. Não importa. Importa é que o sr. Salsinha é perseguido. Por causa do nome ridículo? Aparentemente, não. Parece que o homem é o tenente, ou ex-tenente, que liderou o falhado atentado ao comandante, ou ex-comandante, Xanana Gusmão, e está ligado ao grupo do falecido major (ou ex-major?) Alfredo Reinado. Entretanto, o general Matam Ruak, líder das Forças Armadas locais, aconselha Salsinha a render-se até ao final de Março, à semelhança do que já fez o revoltoso Amaro da Costa (posto desconhecido e identidade curiosa).

Confesso algum fascínio pela solenidade que os "média" dedicam à balbúrdia em Timor. Os tiroteios entre gente sem eira nem beira passam, nos nossos noticiários, por complexos confrontos bélicos. E uns desgraçados movidos pela penúria são tratados, sem intenção irónica, pelas respectivas patentes, que os próprios trocariam num ápice por uma refeição digna.

Povoar as notícias de Timor deste simulacro de organização marcial não é inocente. Ao abrir "telejornais" com a abundância de tropa fandanga, desvia-se as atenções da escassez do resto. Seis anos após a celebrada independência, Timor não possui vestígios de um sistema produtivo, empregos, cuidados médicos decentes, escolas sofríveis e aquelas miudezas que, quando existem, definem um país e, quando não, configuram um falhanço. Um falhanço que começou na colonização nula, prosseguiu com a selvática ocupação indonésia e, para o que agora interessa, atingiu a consagração no bizarro sentimentalismo que dedicámos à jovem nação. Insisto: uma ilha submersa em caridade, miséria e infelizes aos tiros não é uma nação, é uma vergonha. Em certa medida, uma vergonha nossa, que as esfarrapadas divisas dos nativos talvez disfarcem, mas que naturalmente não apagam
"

Alberto Gonçalves

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