SAUDADES DE SANTANA
"Engraçado. Enquanto nos EUA se atribui o declínio do debate político aos assessores e consultores dos políticos, em Portugal esta gente é uma dádiva. Na América, há um relativo consenso acerca da influência nefasta que os especialistas em comunicação exercem sobre os homens que os empregam, ao limitá-los na quantidade de temas a abordar e na retórica utilizada para o fazer. Em teoria, um sujeito instruído em Yale pode ver-se forçado a desenvolver uma campanha mediante recurso exclusivo a três assuntos, três arremedos de ideias e três dúzias de palavras, tudo isto previamente submetido a estudos de mercado que comprovem a sua eficácia.
Na prática, a diferença não é grande. Metade da (extraordinariamente bem-sucedida) estratégia de Barack Obama, que não é um idiota, consiste em vaguear de estado em estado a repetir "Esperança", "Mudança" e "Sim, nós podemos" em tom evangélico e remanescente de Luther King. E, para que não se pense que a contenção surgiu ontem, Richard Nixon morria de medo de que descobrissem que ele era, em larga medida, um intelectual.
Em Portugal, e com crescente frequência, o problema é inverso. Os nossos políticos também receiam que o eleitorado se aperceba do que eles, na verdade, são. Mas serem acusados de intelectualidade é um risco remoto. Com crescente frequência, o político português médio arrisca-se é a mostrar que não tem nada na cabeça. É nesses casos que os constrangimentos impostos pelos consultores e agências, prejudiciais para um indivíduo razoavelmente competente, são da maior utilidade.
Um publicitário que trabalhou na campanha do PSD para as "legislativas" de 2005 contou-me das tentativas frustradas em submeter Santana Lopes às amarras do marketing. Por mais que o aconselhassem, o menino-guerreiro permitia-se rédea solta. E o País, pasmado ou divertido, assistia ao resultado da irreverência.
Já o "novo" Santana, o Santana da entrevista ao DN (no domingo anterior) ou do último debate parlamentar, é, comparativamente, um modelo de sobriedade, sensatez e rendição às regras. O progressivo regresso de Santana à "respeitabilidade" é um monumento ao trabalho dos consultores e um prenúncio do trabalhão que os consultores têm pela frente. Com jeito, e a assessoria adequada, qualquer imagem pública é resgatável, qualquer pobre incapaz de se abotoar sozinho alcança a gravitas necessária para tomar conta de nós. O Santana actual não só parece superior ao "antigo": discutivelmente, é superior aos cavalheiros que lhe sucederam no poder e no partido.
Como a tendência promete manter-se, há-de chegar o dia em que um Governo chefiado por Pedro Silva Pereira, Marco António ou um boneco com a cara de um deles (a ordem é aleatória) não causará particular espanto. Graças aos consultores. Obrigado aos consultores. Por um lado, porque ninguém com serventia está para pegar nisto e é preciso que nos iludam do contrário. Por outro lado, porque os cosméticos que disfarçam a degradação da classe política não impedem aquelas saudades de um passado mítico que os portugueses adoram. Saudades de Santana, por exemplo, aliás em justificada gestação."
Alberto Gonçalves
Na prática, a diferença não é grande. Metade da (extraordinariamente bem-sucedida) estratégia de Barack Obama, que não é um idiota, consiste em vaguear de estado em estado a repetir "Esperança", "Mudança" e "Sim, nós podemos" em tom evangélico e remanescente de Luther King. E, para que não se pense que a contenção surgiu ontem, Richard Nixon morria de medo de que descobrissem que ele era, em larga medida, um intelectual.
Em Portugal, e com crescente frequência, o problema é inverso. Os nossos políticos também receiam que o eleitorado se aperceba do que eles, na verdade, são. Mas serem acusados de intelectualidade é um risco remoto. Com crescente frequência, o político português médio arrisca-se é a mostrar que não tem nada na cabeça. É nesses casos que os constrangimentos impostos pelos consultores e agências, prejudiciais para um indivíduo razoavelmente competente, são da maior utilidade.
Um publicitário que trabalhou na campanha do PSD para as "legislativas" de 2005 contou-me das tentativas frustradas em submeter Santana Lopes às amarras do marketing. Por mais que o aconselhassem, o menino-guerreiro permitia-se rédea solta. E o País, pasmado ou divertido, assistia ao resultado da irreverência.
Já o "novo" Santana, o Santana da entrevista ao DN (no domingo anterior) ou do último debate parlamentar, é, comparativamente, um modelo de sobriedade, sensatez e rendição às regras. O progressivo regresso de Santana à "respeitabilidade" é um monumento ao trabalho dos consultores e um prenúncio do trabalhão que os consultores têm pela frente. Com jeito, e a assessoria adequada, qualquer imagem pública é resgatável, qualquer pobre incapaz de se abotoar sozinho alcança a gravitas necessária para tomar conta de nós. O Santana actual não só parece superior ao "antigo": discutivelmente, é superior aos cavalheiros que lhe sucederam no poder e no partido.
Como a tendência promete manter-se, há-de chegar o dia em que um Governo chefiado por Pedro Silva Pereira, Marco António ou um boneco com a cara de um deles (a ordem é aleatória) não causará particular espanto. Graças aos consultores. Obrigado aos consultores. Por um lado, porque ninguém com serventia está para pegar nisto e é preciso que nos iludam do contrário. Por outro lado, porque os cosméticos que disfarçam a degradação da classe política não impedem aquelas saudades de um passado mítico que os portugueses adoram. Saudades de Santana, por exemplo, aliás em justificada gestação."
Alberto Gonçalves
3 Comments:
Santana Lopes, é a par de Alberto João Jardim e Paulo Portas, uma desgraça (afinal 3) que aconteceram ao nosso País.
São escarros humanos que contaminam quem deles dependem ou contactam.
São gente sem principios nque se arvora de principios, e sem saberem nada de nada, sobre tudo peroram.
Mas há mais. E estão no governo!!!
E vão ser a desgraça deste país.
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