quarta-feira, abril 23, 2008

PEQUENAS ESPERANÇAS

"Na Europa, Gordon Brown recebe George Clooney para discutir (?) o Darfur. Na América, resmas de "celebridades" proclamam diariamente apoio a um dos candidatos das "presidenciais". Extraordinário. Cantores de rock, actores de cinema, apresentadores de talk-shows e desportistas podem ter compreensíveis dificuldades em se abotoar sozinhos, mas por algum motivo acham-se portadores de opiniões iluminadas sobre a guerra no Iraque e o sistema de saúde, a crise petrolífera e o "aquecimento global". Pior ainda: há quem os ouça com atenção. Regra geral, uns e outros estão enganados.

Até porque as opiniões não são das "estrelas". No vazio das suas cabecinhas, as criaturas promovidas por Hollywood e pela televisão limitam-se a reproduzir as ideias (digamos) mais dóceis e "consensuais" ao dispor. Não é por acaso que normalmente votam à esquerda. E não é por acaso que Barack Obama, que desistiu das subtilezas iniciais e se concentrou a difundir as virtudes da "esperança", da "mudança" e da brisa matinal, atrai particularmente o entusiasmo da seita. Agora, Bruce Springsteen juntou-se a Obama em nome do "destino colectivo" e do "espírito unido", critérios que também serviriam para explicar o apoio a um psicopata ou a um microondas.

Convém notar que a tendência não é nova, nem exclusivamente americana nem, talvez, terminal. Se há alguma coisa de infantil na importância que as vedetas se atribuem e na importância que lhes é atribuída, há igualmente sintomas de que a infantilidade da época é um bocadinho sobrestimada.

Não é novidade que as "celebridades" estão longe de influenciar a política. Pelo menos no sentido que desejariam: dentro ou fora dos EUA, George W. Bush não foi o primeiro a ganhar eleições sem a simpatia de quase nenhum artista ou "artista" (veja-se, por cá, Cavaco Silva). Novidade será uma sondagem da CBS, na qual cerca de metade dos americanos se declara avessa ao envolvimento nas campanhas de luminárias do espectáculo. E "avessa" não é força de expressão: o programa de Oprah Winfrey caiu vertiginosamente nas audiências depois que a senhora o utilizou para apoiar Obama.

Se calhar, como pensava De Gaulle, a política é um assunto demasiado sério para ser deixado ao cuidado dos políticos. Mas, pelos vistos, não é ridículo a ponto de ser entregue à sra. Oprah e ao sr. Springsteen. Um pouco de optimismo, por favor
."

Alberto Gonçalves

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